Dois anos do 8 de janeiro: ato terá segurança reforçada e abraço em defesa da democracia
Acervo danificado durante invasões aos prédios dos Três Poderes em Brasília será devolvido nesta quarta-feira
SBT News
Os dois anos dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro serão marcados por uma cerimônia no Palácio no Planalto, nesta quarta-feira (8). Durante a solenidade está prevista a devolução de 21 obras de arte restauradas após serem alvo dos vândalos que invadiram os prédios dos Três Poderes na tentativa de golpe de Estado. Além disso, o presidente Lula coordenará o que já está sendo chamado de "Abraço da Democracia", ato que contará com diversas autoridades e segurança redobrada.
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Esquema de segurança
A cerimônia está marcada para as 10h da manhã, mas o acesso à Praça dos Três Poderes já está restrito. Segundo o Governo do Distrito Federal, foi elaborado um protocolo de ações integradas de segurança pública para o 8 de janeiro. O documento recebeu a colaboração de órgãos federais e locais e visa à preservação da ordem pública, da mobilidade e dos serviços públicos.
Durante a realização do ato, haverá triagem para o acesso à Praça dos Três Poderes e não serão permitidos objetos cortantes ou perfurantes, armas de qualquer tipo, hastes de bandeiras e quaisquer outros materiais que coloquem em risco a segurança das pessoas e do patrimônio público.
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De acordo com a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF), a Polícia Militar (PM/DF) está reforçando o efetivo na Esplanada dos Ministérios e conta com apoio do Departamento de Trânsito (Detran-DF) para organizar o tráfego nas vias que dão acesso às sedes dos três Poderes. O Corpo de Bombeiros (CBM/DF) manterá a prontidão, com unidades de resgate e de combate ao incêndio. Já a segurança dos eventos na área interna do Palácio do Planalto, assim como a segurança do evento externo na Praça dos Três Poderes, será responsabilidade do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI/PR), que está responsável pelo credenciamento do público e da imprensa.
O Governo do Distrito Federal (GDF) instituiu a chamada “célula presencial de inteligência” em Brasília, com o objetivo de aumentar a vigilância para evitar situações críticas na capital. As redes sociais estão sendo monitoradas e câmeras de videomonitoramento estão posicionadas a fim de que, à mínima identificação de movimentos suspeitos, os sistemas de segurança sejam acionados imediatamente.
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Obras reincorporadas
A Secretaria de Comunicação da Presidência da República divulgou que, durante a cerimônia, o presidente Lula irá descerrar o quadro de Di Cavalcanti, no Salão Nobre do Palácio do Planalto, um dos símbolos mais icônicos danificados durante a invasão. Outro objeto de grande valor cultural é um relógio Balthazar Martinot Boulle, trazido ao Brasil em 1808, presente da corte francesa ao imperador Dom João VI. A obra foi derrubada pelos invasores e depredada em uma cena gravada pelas câmeras do Planalto que viralizou nas redes sociais. O relógio foi completamente revitalizado na Suíça, por meio de um acordo firmado com a Embaixada daquele país.
Além do relógio, outras obras totalmente restauradas do acervo presidencial começaram a chegar ao Planalto nessa segunda-feira (6), escoltadas por agentes da Polícia Federal. De acordo com o arquiteto Rogério Carvalho, titular da Diretoria Curatorial dos Palácios Presidenciais, entre as peças estão: o quadro As Mulatas, de Di Cavalcanti, uma tela com mais de 3,5 metros de largura por 1,2 metro de altura, que foi perfurada ao menos sete vezes pelos vândalos. A escultura de bronze O Flautista, de Bruno Giorgi, com 1,6 metro de altura, que havia sido quebrada em quatro partes. Outra entrega importante foi uma ídria italiana, um tipo de ânfora branca e azul, do período do Renascimento, que foi restaurada em um minucioso trabalho que contou com técnicas avançadas de raio-X e análise microscópica de esmalte e pigmentos.
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A recuperação das obras de arte durou cerca de um ano e nove meses, com custo de R$ 2,2 milhões, em repasses feitos pelo Iphan à Universidade Federal de Pelotas, para a aquisição de equipamentos, contratação de bolsistas e gastos logísticos.
Apesar da magnitude do evento desta quarta-feira e a sua mensagem de força democrática para o país, a cientista política Mayra Goulart criticou a solenidade e disse durante o programa Poder Expresso, do SBT News, que considera leve tanto o ato quanto a reação do Governo à tentativa de golpe de estado. "Me parece que somente um abraço simbólico é muito pouco. Assim como têm sido muito leves as reações do governo em relação aos objetivos sólidos do 8 de janeiro", destacou. "Investigações revelam que havia planos de assassinato de presidente Lula mesmo depois dos atos e isso não gerou nenhum tipo de repercussão no Governo Federal. Seria importante deixar mais nítido em manifestação do governo o que é aceitável ou não numa democracia e por que é melhor estar deste lado da fronteira e não do outro".