Diretor-geral da PF defende mais rigor contra o crime organizado e critica soltura de Rodrigo Bacellar
Em conversa com jornalistas, Andrei Rodrigues criticou ainda as ideias propostas no debate do PL Antifacção



Paola Cuenca
Anita Prado
O diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Rodrigues, em conversa com jornalistas nesta segunda (15), criticou ideias debatidas em torno do projeto de lei (PL) Antifacção e estendeu as reprovações à decisão da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) de soltar o deputado estadual Rodrigo Bacellar (União-RJ) após ter sido preso por suspeita de vazar informações de uma operação contra o crime organizado.
As críticas aconteceram após Rodrigues ser questionado sobre operações de combate às organizações criminosas. O diretor-geral da PF elogiou decisões tomadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na chamada ADPF das Favelas, processo que debateu a violência de operações policiais no estado do Rio de Janeiro, e cobrou responsabilização de criminosos.
"Recebemos determinação do STF para instaurar um grande inquérito sobre facções no RJ. A ADPF das Favelas foi um acerto, não empecilho para investigação do crime organizado. Precisamos de menos condescendência ao crime organizado, menos anistia, e mais rigor", enfatizou.
No início do diálogo com a imprensa, Rodrigues, sem mencionar o projeto de lei Antifacção debatido no Congresso, fez críticas que atingem a proposta: "Quando tudo vira crime organizado, nada é crime organizado. Isso dificulta a compreensão do fenômeno, o enfrentamento com ferramentas específicas e em nada agrega, a não ser para a promoção midiática de quem quer estar na mídia".
Durante o debate da matéria na Câmara dos Deputados, relatórios feitos pelo deputado federal Guilherme Derrite (PP-SP), a partir da proposta do governo federal, trouxeram sugestões criticadas pelo líder da PF, como a de que o crime organizado fosse equiparado ao terrorismo.
Rodrigues defendeu o trabalho feito pela Polícia Federal para enfrentar as organizações criminosas e reforçou que o conflito demanda estratégia, ações de inteligência e foco na descapitalização dos grandes líderes. Em comentário sobre o assunto, sem dar nomes, o diretor-geral criticou a decisão da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro de soltar o deputado estadual Rodrigo Bacellar (União-RJ). O parlamentar foi preso na última semana, suspeito de ter vazado informações de uma operações que mirou o crime organizado e o então companheiro de Alerj, e agora ex-deputado estadual, TH Joias. A decisão dos parlamentares foi confirmada pelo ministro Alexandre de Moraes.
"Não adianta ser duro no crime organizado, acabar com saidinha, e ao mesmo tempo não aprovar projetos importantes que tramitam no Congresso Nacional. Precisamos que o enfrentamento seja responsabilidade de todos. Não é razoável a soltura de um preso, por ordem do STF, vinculado ao crime organizado, e o discurso de combate crime organizado. Não é o preto, pobre, da favela, da periferia. O criminoso que nós mais precisamos enfrentar são aqueles que financiam, têm recursos, comandam e lideram estrutura organizada e poucas vezes colocaram o pé em uma favela", enfatizou Rodrigues.
Emendas parlamentares
Na ocasião, Rodrigues pontuou que, apesar das recentes operações relacionadas a emendas — como a da semana passada, que mirou Mariangela Fialek, nome de confiança do ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) —, não é razoável criminalizar as emendas parlamentares. Segundo ele, no entanto, outras investigações sobre o tema estão em andamento.
"Há muitas investigações que podem ter recursos de emendas e que estão sendo investigadas em alguma dessas nossas unidades. Como já disse também e eu faço a ressalva da importância de não criminalizar a emenda em si, de não criminalizar a atividade política. A emenda parlamentar é um instrumento, um instituto legítimo, legal e que na maioria dos casos, eu creio, é utilizado com adequação às normas. Então nós precisamos agir a partir desse parâmetro, ou seja, não quer dizer que algum recurso de emenda tenha sido desviado que o parlamentar estará implicado", argumentou.
"Tenho a convicção e a certeza do que estamos fazendo na PF: sem caça às bruxas, politização, fulanização, com o rigor que se precisa e me dá a condição de ter um diálogo franco e aberto com todos. E sabemos que isso traz o reflexo de que ninguém virá conversar comigo que não seja de maneira republicana, técnica, inclusive pra reclamar de algumas coisas — o que nos faz aprimorar o trabalho — mas sempre na perspectiva de um trabalho sério", finalizou Andrei Rodrigues.







