CPMI do INSS apreende celular de dirigente de associação investigada por fraudes
Igor Delecrode depôs à comissão na segunda-feira (10), mas optou por não responder a maioria das perguntas


Camila Stucaluc
A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que apura a fraude bilionária no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) determinou a apreensão do celular de Igor Dias Delecrode, apontado como sócio de empresas investigadas pelo colegiado. O requerimento foi aprovado na segunda-feira (1), enquanto o empresário prestava depoimento.
Segundo o presidente da comissão, senador Carlos Viana (Podemos-MG), a apreensão foi feita para “garantir a integridade das investigações”, já que Delecrode optou por não responder a maioria das perguntas. O silêncio foi assegurado por um habeas corpus concedido pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
No requerimento, a comissão determinou o espelhamento de conteúdo do celular apreendido para investigação parlamentar, acesso a dados armazenados em nuvem e perícia acerca do conteúdo. Delecrode entregou o aparelho para Viana, mas não forneceu a senha. “É um iPhone 17, que foi comprado esta semana. Os outros já foram levados pela Polícia Civil e pela Federal”, disse.
Com 28 anos e sócio de empresas de Tecnologia da Informação (TI), Delecrode é acusado de desenvolver um programa para fraudar biometria e assinaturas digitais no INSS. A ferramenta teria dado aparência de legalidade aos descontos feitos por meio de falsificações.
Muitos dos descontos foram feitos por empresas em que Delecrode atuou como dirigente. É o caso da Associação de Amparo Social ao Aposentado e Pensionista (Aasap), da Amar Brasil Clube de Benefícios e da Master Prev. As entidades são suspeitas de movimentar cerca de R$ 700 milhões por meio de mensalidades descontadas de aposentados e pensionistas sem autorização.
No início do depoimento, Delecrode disse apenas que mora em São Paulo e é formado em auditoria financeira. Afirmou ainda que trabalha no ramo de prestação de serviços e pratica atividades de tecnologia e informação como hobby. Ao ser questionado sobre a movimentação financeira de R$ 1,4 bilhão por empresas de TI e pelo recebimento de R$ 15 milhões em menos de um ano, ficou em silêncio.
Durante a sessão, o relator, deputado Alfredo Gaspar (União-AL) apontou que, além do STF, alguns membros da própria CPMI estariam blindando a convocação de depoentes, o que impediria o aprofundamento das investigações.
"O silêncio do depoente é um tapa na cara do povo brasileiro. Ele conseguiu justiça que o brasileiro comum não consegue. O STF está transformando a justiça brasileira em dois degraus, o dos pobres e o dos endinheirados. Deveria estar preso quem autorizou solução provisória no INSS, quem compactuou com essas entidades, todos esses presidentes de associação. E tem gente sendo blindada aqui [na comissão mista] não é só no STF, não, e isso é vergonhoso", disse.
Entenda
Em abril, a Polícia Federal expôs um esquema de descontos indevidos por parte de entidades nos pagamentos de aposentados e pensionistas do INSS. As fraudes aconteceram entre 2019 e 2024, com prejuízo estimado de R$ 6,3 bilhões.
A revelação resultou no afastamento de cinco servidores públicos suspeitos de participarem no esquema, bem como na demissão do então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto. Outro que deixou o cargo foi o então ministro da Previdência Social, Carlos Lupi (PDT), pressionado pela oposição.
Em meio ao cenário, parlamentares abriram uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para apurar o caso e responsabilizar aqueles que participaram do esquema. As investigações apontam Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como o "Careca do INSS", como uma das peças-chave do crime. Ele foi preso em 12 de setembro, suspeito de facilitar os descontos indevidos nos pagamentos dos beneficiários.









