Congresso define regras para emendas parlamentares e impõe nova derrota ao governo
Bloqueio de valores pelo Planalto ficou de fora. Texto pode não atender exigências do ministro Flávio Dino, que travou repasses
Lis Cappi
Depois de semanas de negociações, o Congresso concluiu as novas regras para o envio de emendas parlamentares - os recursos que podem ser indicados por deputados e senadores para suas bases eleitorais. A análise das mudanças terminou nesta terça-feira (19), depois de mais uma votação na Câmara dos Deputados.
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O projeto foi apresentado como uma tentativa de mais transparência e rastreabilidade para emendas, mas ainda há dúvida se as adequações atendem ao Supremo Tribunal Federal (STF). O texto também limitou a ação do governo, que não poderá bloquear valores nos envios de parlamentares em caso de falta de recursos.
Votação na Câmara
A principal mudança feita na reta final foi a retomada da obrigatoriedade para que metade dos recursos das emendas de comissão seja destinada à Saúde. O tipo de emenda é definido por grupos de trabalho de parlamentares e ganhou força como substituição às chamadas “emendas Pix”.
A versão aprovada entre deputados também trouxe uma derrota ao governo ao impedir que o Palácio do Planalto possa bloquear o encaminhamento de recursos. Na versão original, a proposta trazia a possibilidade de que o governo não cumprisse o pagamento se houvesse a necessidade de corte de gastos.
Na prática, o ponto diminui poderes do Executivo, obrigando o pagamento de valores definidos por deputados e senadores. Caso não haja verba, os valores serão contingenciados - o que condiciona para o pagamento quando houver recursos.
A proposta também manteve o teto de R$ 11,5 bilhões para pagamento de emendas no ano que vem, com valores corrigidos pela inflação e pelo crescimento do país a partir de 2026.
O porque das novas regras
A mudança no formato das emendas parlamentares se tornou necessária para atender a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) em tornar o envio de recursos mais transparente e rastreável. O pedido é encabeçado pelo ministro Flávio Dino, por considerar que da forma que estava o envio dos recursos era passível de corrupção.
O ministro também definiu, em agosto, que o envio de emendas ficava suspenso até que houvesse a adoção das novas regras, mas a aprovação do Congresso não significa que os valores serão automaticamente desbloqueados: Dino fará uma avaliação das mudanças para considerar se os critérios foram atendidos.
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Nos bastidores, a possibilidade de que o ministro negue o projeto é cotada. Organizações ligadas à transparência e a própria consultoria do Senado - a pedido de congressistas - considerou que o projeto não atende completamente os pedidos do ministro.
Tipos de emendas e pagamento do governo
O projeto define que o governo tem obrigação de pagar as chamadas emendas impositivas. Elas serão maiores do que a inflação de cada ano, mas ainda deverão estar dentro dos limites de crescimento de despesas definidos pela nova regra fiscal (arcabouço). Veja cada tipo de emenda e as regras definidas:
- Emendas “Pix”: são envios feitos por parlamentares que caem diretamente no caixa da prefeitura. Foi uma modalidade criada em 2019 e que ganhou destaque pela dificuldade de fiscalização e rastreabilidade dos recursos. Pelo projeto aprovado, detalhes do recebimento dos valores deverão ser informados pelo próprio município aos tribunais de conta. São informações como plano de trabalho, cronograma e o valor recebido.
- Emendas individuais: na hora da indicação, deputados ou senadores deverão apresentar detalhes como valor e o destino da transferência, com prioridade para obras inacabadas ligadas a emendas anteriores já direcionadas pelos respectivos parlamentares.
- Emendas de bancada: grupos de acordo com os estados dos parlamentares terão direito a enviar oito emendas para projetos estruturantes. A orientação é para que os valores sejam enviados para o estado, com exceção para projetos nacionais que tenham atuação no respectivo estado do grupo de parlamentares. Os investimentos devem ser criados em conjunto e em consenso entre a bancada estadual.
- Emendas de comissão: direcionadas por comissões da Câmara e do Senado. Terão 50% dos recursos obrigatoriamente indicados para a área da Saúde.