Com salário de R$ 16 mil, assessor de Jordy movimentou quase R$ 6 milhões em sua conta, diz PF
Operação da Polícia Federal deflagrada nesta sexta apura irregularidades em contrato de locação de veículos com verba da Câmara


Marcela Mattos
Relatório da Polícia Federal divulgado nesta sexta-feira (19) aponta que um dos assessores do deputado federal Carlos Jordy (PL-RJ) fez movimentações milionárias em sua conta bancária e indica que as transações revelam “incompatibilidade com a capacidade econômica” do auxiliar.
Nesta sexta, a PF deflagrou uma operação para apurar as suspeitas dos crimes de peculato, integração de organização criminosa e lavagem de dinheiro envolvendo a atuação dos deputados Carlos Jordy e Sóstenes Cavalcante (PL-RJ). Os dois também tiveram seus sigilos bancário e fiscal quebrados. Nas buscas, foram encontrados R$ 430 mil em espécie com Cavalcante, que é líder do PL na Câmara dos Deputados.
A investigação joga luz sobre elevadas movimentações financeiras por parte de assessores parlamentares dos congressistas - quatro funcionários registraram movimentações de origem não identificada que variaram entre R$ 4 e R$ 11 milhões.
Um dos casos citados é o do assessor Itamar de Souza Santana, funcionário de Carlos Jordy que recebia um salário de R$ 16 mil à época dos fatos apurados, entre 2023 e 2024. Sem especificar o período, foi identificada a movimentação de R$ 5,9 milhões em créditos e outros R$ 5,9 milhões em débitos, com expressiva parcela sem origem ou destino definidos.
Itamar é suspeito de atuar como um elo entre Carlos Jordy e uma empresa de locação de veículos num suposto esquema de desvios da cota parlamentar, verba a que os congressistas têm direito para manter seus gabinetes. Foram encontradas movimentações suspeitas entre o próprio Jordy e seu assessor em um montante que chega a R$ 75 mil.
Para a PF, a Harue, empresa de locação contratada, é de fachada e tem entre os sócios o próprio Itamar Santana. Conversas indicaram que parte dos valores era transferida para a conta da empresa de locação, enquanto a outra seria entregue em espécie a Itamar.
Também há menções a uma quantia que seria destinada ao “deputado”. “Segunda-feira o deputado vai vir, aí eu vou ver com ele pra pagar o outro valor por fora, tá bom?”, disse Itamar a uma pessoa ligada à locadora.
O assessor de Jordy também menciona o deputado Sóstenes Cavalcante em uma conversa com um outro assessor. “E aquela diferença lá, irmão, não conseguiu ver com ele? (...) Pô, ele sempre pagou esse negócio direitinho e agora não pagou dessa vez? Até agora? Não é possível”, questiona Itamar.
Segundo a PF, há indicativo de um conluio entre assessores de Jordy e Sóstenes para conferir “falsa aparência de legalidade à contratação da empresa Harue, que seria de propriedade de fato do próprio Itamar e gerenciada por seus familiares com o intuito de receber verbas da Câmara dos Deputados”.
Jordy publicou um vídeo em sua rede social para dizer que aluga carros com a empresa desde o início do mandato, chamou a acusação de “tosca” e negou irregularidades. Já Sóstenes alegou que o dinheiro encontrado com ele é fruto da venda de um imóvel e que a ação “visa perseguir a oposição”.








