Cappelli critica Banco Central por não agir diante de altas do dólar: "Omissão"
Segundo presidente da ABDI, governo Lula tem responsabilidade fiscal e o presidente "fala para defender o modelo econômico que foi vitorioso nas urnas"
O presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Ricardo Cappelli, criticou nesta segunda-feira (2) o Banco Central (BC) por não intervir no mercado de câmbio para conter as recentes altas do dólar. Segundo Cappelli, é "inexplicável" por que o BC não agiu diante da escalada da moeda americana na última sexta (28) e nessa segunda-feira (1º). O dólar fechou ontem a R$ 5,6527, o maior valor desde 10 de janeiro de 2022.
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"O dólar está pressionado pela posição do FED [Banco Central dos EUA], está pressionado pelo último debate norte-americano, está pressionado pelo resultado das eleições francesas, e insistem em dizer que o dólar sobe porque o presidente [Lula] fala muito", afirmou o presidente da ABDI, defendendo o chefe do Executivo federal.
"Mas o presidente fala para defender o modelo econômico que foi vitorioso nas urnas. No Brasil não há, e tentam fazer nas últimas semanas, um fantasma do desequilíbrio fiscal no Brasil, o que não existe", acrescentou. Ele discursou na abertura do Fórum de Competitividade 2024, em Brasília.
Na manhã desta terça, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou existir um "jogo de interesse especulativo" contra o real para justificar a alta do dólar nas últimas semanas.
De acordo com Cappelli, o país tem muitos desafios fiscais, mas "é falso o debate entre quem tem responsabilidade fiscal e quem não tem".
"Todos temos responsabilidade fiscal. A questão é sempre quem paga a conta", completou.
Ele ressaltou que país está enfrentando os desafios fiscais: "O ministro Fernando Haddad [da Fazenda], o ministro Alckmin têm trabalhado pelo desenvolvimento da indústria, a reforma tributária é histórica, ela traz uma simplificação tributária histórica no Brasil. Nós temos trabalhado".
Em suas palavras, "é absolutamente incompreensível o movimento daqueles que apostam contra o Brasil. Aproveitam do momento de turbulência no cenário externo para especular e apostar contra o Brasil".
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O presidente da ABDI falou estar "muito confiante" que o Brasil terá um crescimento neste "muito próximo" do registrado em 2023.
"Temos a indústria com maio operando com mais de 80% da sua capacidade instalada, temos o desemprego em queda, temos massa salarial crescendo no Brasil, inflação controlada. não há nada que justifique essa taxa de juros e não há nada que justifique esse pânico fiscal que foi criado no Brasil", pontuou. A taxa básica de juros, a Selic, está em 10,5% ao ano.
Segundo Cappelli, o "pânico fiscal" foi criado "para especular contra o Brasil". "Muita gente vem ganhando com o dólar, infelizmente, apostando contra o Brasil".
Para o presidente da ABDI, "absolutamente nada justifica a omissão do BC no mercado de câmbio" e as taxas de juros do país. De acordo com ele, estas "deslocam um dinheiro da produção, um dinheiro que gera emprega, para especulação. É dinheiro gerando dinheiro sem gerar um único posto de trabalho no Brasil".
Discordância
O deputado federal Julio Lopes (PP-RJ), secretário-geral da Frente Parlamentar pelo Brasil Competitivo, discordou "um pouco" do discurso de Cappelli. "Vejo que o governo precisa de autocríticas e precisa se rever", afirmou o parlamentar também na abertura do fórum.
O congressista argumentou, por exemplo, que o governo federal não tem observado leis, inclusive uma sua de 2017, para criação de um número único de identificação dos brasileiros, que seria o CPF.
"A unificação das bases de dados são precípuas responsabilidade e finalidade de um país que se pretende digital. Não é possível avançar com um Brasil que trata 23 números para cada um de seus cidadãos, o que descumpre a lei, doutor Cappelli", defendeu.