"Arquiteto do golpe", Braga Netto está na mira da PF desde maio de 2023
Prisão de Mauro Cid deu início às apurações contra o ex-ministro, que, segundo a PF, tentou interferir em delações
Leonardo Cavalcanti
A prisão de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, em março de 2023 deu início às investigações de um dos principais nomes da trama golpista: o general Braga Netto, preso neste sábado (14). As apurações da Polícia Federal desde então foram revelando, passo a passo, que o militar atuou como um arquiteto dos crimes contra o Estado democrático.
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O início da investigação contra Braga Netto - o nome mais forte do governo Bolsonaro na Esplanada - ocorreu com o fechamento de delação de Cid, dois meses depois da prisão do ajudante de ordens pela Polícia Federal. Um ano depois, em março de 2024, foram divulgados os depoimentos de militares e civis, fechando o cerco a Braga Netto.
A partir de uma ferramenta de inteligência artificial do Google, o Pinpoint, que faz um rastreamento de pontos em comum entre documentos, é possível identificar que Braga Netto é citado sete vezes nos depoimentos de investigados pela Polícia Federal, incluindo os ex-comandantes do Exército, Marco Antonio Freire Gomes, e da Aeronáutica, Carlos Almeida Baptista Júnior, e do presidente do PL, Valdemar Costa Neto.
Uma das recentes informações sobre a atuação de Braga Netto se refere ao fato de ele ter buscado informações sobre a delação de Mauro Cid. "Novas provas obtidas, apontou que “BRAGA NETTO atuou no sentido de obter informações relacionadas ao acordo de colaboração firmado com MAURO CID”.
Segundo a PF, Mauro Cid "apresentou elementos que permitem caracterizar a existência de conduta dolosa de WALTER SOUZA BRAGA NETTO no sentido de impedir ou embaraçar as investigações em curso, o que pode configurar o delito previsto no art. 2º, § 1º, da Lei 12.850/13 ('Nas mesmas penas incorre quem impede ou, de qualquer forma, embaraça a investigação de infração penal que envolva organização criminosa')".
A prova estaria armazenada no celular de Mauro Cézar Lourena Cid, pai de Mauro Cid. "(Houve) uma intensa troca de mensagens com WALTER SOUZA BRAGA NETTO, bem como que TODAS AS MENSAGENS TROCADAS POR MEIO DO APLICATIVO WHATSAPP FORAM APAGADAS nas primeiras horas do dia 8/8/2023, três dias antes da denominada operação “Lucas 12:2”, que apurou as ações do grupo criminoso relativas ao desvio de presentes de alto valor – joias – recebidos em razão do cargo pelo ex-presidente da República.
Uma das linhas de investigação da Polícia Federal é uma reunião em outubro de 2022 no apartamento de Braga Netto, na Asa Sul, em Brasília. Tal encontro, segundo a PF, foi protagonizado pelo próprio general, pelo tenente-coronel Mauro Cid e pelo major Rafael de Oliveira. Depois da reunião um documento intitulado “Copa 2022” passa a circular nos grupos dos investigados. E tratava da atuação dos “kids pretos”, o grupo de elite militar, que ficaria responsável em operacionalizar a trama golpista.
Os investigadores questionam o coronel Cleverson Ney Magalhães, ex-oficial do Comando de Operações Terrestres, e o próprio Freire Gomes. Os dois militares negaram ter conhecimento da reunião. Os questionamentos entretanto mostram como os delegados da Polícia Federal tentaram fechar o cerco do envolvimento de Braga Netto, a partir da delação de Mauro Cid.