Após críticas, Tarcísio se desculpa por brincadeira com Coca-Cola em coletiva sobre crise do metanol
Governador de SP afirmou que iria se preocupar com o assunto no dia em que começassem a adulterar o refrigerante; estado concentra mais de 82% dos casos

Sofia Pilagallo
Tarcísio de Freitas (Republicanos) publicou, na noite desta terça-feira (7), um vídeo nas redes sociais em que pediu perdão à população pela declaração dada durante coletiva de imprensa sobre os casos de intoxicação por metanol, na segunda-feira (6). Na ocasião, o governador de São Paulo afirmou que iria se preocupar com o assunto no dia em que começassem a adulterar Coca-Cola.
"Errei", começa Tarcísio no vídeo. "(...) Acabei fazendo uma brincadeira para descontrair a coletiva que foi muito mal interpretada e que, de fato, não cabia naquele momento em face da gravidade do que vem acontecendo. E é por isso que peço perdão. (...) Sei que o arrependimento não vai apagar o passado, mas ensina."
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A declaração de Tarcísio na coletiva repercutiu negativamente. No momento da piada, até mesmo quem estava ao lado dele — os secretários da Saúde e da Justiça, Eleuses Paiva e Fabio Prieto — ficou sem reação. Nas redes sociais, civis e lideranças governistas fizeram duras críticas à fala do governador.
Em publicação no X (antigo Twitter), o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) chegou a comparar a postura de Tarcísio com a do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que, em 2020, afirmou que "não era coveiro", quando perguntado sobre as mortes por covid-19. Em outro post, ele chamou de "inaceitável" a declaração do governador.
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"Pessoas mortas, pessoas com sequelas permanentes. Toda a população preocupada com as bebidas adulteradas com metanol. O que Tarcísio diz: 'O dia que começarem a falsificar Coca-Cola eu vou me preocupar'. É inaceitável que um governador se porte dessa maneira!", escreveu.
No mesmo tom de Boulos, o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-RJ), escreveu, no X, que a declaração de Tarcísio "é o novo 'não sou coveiro'", em referência à declaração de Bolsonaro em 2020. Ele classificou como "inacreditável" a fala do governador, num momento em que pessoas estão morrendo.
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A deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) também se manifestou sobre o assunto. No X, ela publicou o trecho da coletiva em que Tarcísio dá a declaração polêmica, que ela chamou de "um absurdo nojento e desumano". Ela também chamou a atenção para o fato de que, mesmo com as investigações em andamento, o governador negou a participação do PCC na crise do metanol.
"Não tenho palavras pra classificar o horror que senti ao ver isso. Há paulistas perdendo a visão, a vida ou sofrendo sérios danos à saúde por conta dessa crise no nosso estado. Mas o foco de Tarcísio é, por algum motivo, negar o envolvimento do crime organizado e tirar SARRO do sofrimento das vítimas do metanol", escreveu.
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O estado de São Paulo registrou, até o momento, 15 casos confirmados de intoxicação por metanol e 164 sob análise, o que representa mais de 82% do total do país, segundo o Ministério da Saúde. Três pessoas morreram. A morte da mulher de 30 anos em São Bernardo, a terceira no estado, ainda não foi incluída no último balanço.
A Polícia de São Paulo trabalha com duas linhas principais de investigação. Uma delas é que o metanol teria sido usado para a higienização de garrafas reaproveitadas que acabaram não indo para a reciclagem. Outra hipótese é o uso do metanol para aumentar na produção o volume de bebidas falsificadas.
Tarcísio informou que vai solicitar à Justiça a destruição de garrafas, rótulos, lacres, tampas e selos apreendidos durante as ações de fiscalização. Só na última semana, mais de 7 mil garrafas suspeitas de falsificação ou adulteração foram recolhidas.