Depósito do Crime: segurança precária e apostas em lutas fazem parte do dia a dia da Ceagesp
Terceiro episódio da série sobre a Companhia de Entrepostos de SP, o SBT Brasil denuncia insegurança, furtos e até disputas de luta entre funcionários
Rafael Batalha
Thiago Dell'Orti
Na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), permissionários enfrentam uma nova realidade preocupante: além dos furtos recorrentes, uma modalidade inesperada vem ganhando espaço – a luta livre entre funcionários. Com recompensas em dinheiro e itens de valor aos apostadores.
As câmeras de segurança de um quiosque flagraram um homem invadindo o local, quebrando a porta e levando dinheiro e mercadorias. Mesmo com o alarme disparado, ele continuou recolhendo itens antes de fugir em menos de 30 segundos. O cenário de insegurança se repete no setor administrativo de um quiosque de legumes, que foi invadido três vezes em apenas duas semanas.
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Um comerciante, que prefere não se identificar, destaca que a falta de controle na portaria facilita as invasões. “Se a Ceagesp permite a entrada de pessoas sem vínculo com as atividades do mercado, a situação só piora”, afirma.
Além dos furtos de mercadorias, equipamentos também são alvo dos criminosos. Até um forno de micro-ondas e uma geladeira foram levados por ladrões. Em outra gravação, um homem quebra parte de um refrigerador para furtar duas garrafas de refrigerante.
Os crimes são planejados. Em um dos casos, um homem de camisa vermelha observa a movimentação, espera o funcionário se afastar e rapidamente furta um celular do balcão. Segundo uma comerciante, a falta de ação da segurança agrava a situação. “Diariamente acontecem furtos, mas a segurança parece não querer agir ou tem medo de intervir. Pagamos caro por essa proteção e, no fim, nos sentimos abandonados.”
A gravidade do problema se evidencia quando até um segurança, pago pelos permissionários, foi flagrado furtando melões. Ele aguardou o fechamento de um box, rasgou o saco de frutas e colocou os itens dentro do baú da moto.
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Em 2024, o valor arrecadado para a segurança da Ceagesp foi de quase R$ 19 milhões. Ainda assim, permissionários optam por contratar proteção particular, mas os furtos continuam frequentes.
Outro comerciante destaca o temor de que a situação se agrave. “Hoje são furtos, mas pode evoluir para sequestros ou assaltos à mão armada. Não sabemos o que pode acontecer aqui dentro.”
A revolta dos trabalhadores aumenta ainda mais diante da proximidade de uma delegacia. O 91º Distrito Policial, localizado ao lado da Ceagesp, registrou 202 boletins de ocorrência em 2024, uma média de um a cada dois dias. Mesmo assim, permissionários relatam que criminosos reincidem nos furtos sem maiores consequências.
Apostas em lutas
Como se não bastasse a onda de crimes, uma nova prática tem chamado a atenção dentro do entreposto: as lutas. Realizadas dentro de um box comercial e anunciadas nas redes sociais como “Planeta Ceasa”, os combates reúnem funcionários da Ceagesp e participantes externos, atraídos pelas apostas.
Uma testemunha relata que as lutas ocorrem duas a três vezes por mês, com prêmios variados, incluindo até motos novas. “Tem gente de fora que vem só para apostar. É um grupo fechado, ninguém sabe exatamente onde e quando os confrontos vão ocorrer”, afirma.
Apesar da gravidade da situação, a Ceagesp não se posicionou sobre os furtos nem sobre as lutas.