Polícia prende ex-GCMs suspeitos de integrar milícia que extorquiu R$ 3 milhões na Cracolândia
A operação liderada pelo Ministério Público apontou vários núcleos que alimentam o tráfico de drogas no centro de São Paulo
O SBT Brasil teve acesso ao organograma da milícia que atuava na Cracolândia, no centro de São Paulo. A maior área de consumo de drogas a céu aberto do país é comandada pela facção criminosa Primeiro Comando da Capital, o PCC.
O ex-guarda civil metropolitano, Elisson Assis, se entregou hoje à polícia. Ele é um dos sete suspeitos que tiveram a prisão preventiva decretada por envolvimento no esquema que movimentou R$ 3 milhões, segundo uma investigação do Ministério Público.
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A Prefeitura de São Paulo informou que Elisson Assis foi expulso da Guarda Civil Metropolitana (GCM). Antônio Carlos Amorim Oliveira e Renata Oliva de Freitas foram afastados e o processo de expulsão está em andamento. A Prefeitura também afirmou que participou de todas as discussões sobre a operação de hoje. Ainda segundo a administração municipal, Rubens Alexandre Bezerra já havia sido expulso da GCM em 2019.
A operação liderada pelo Ministério Público apontou vários núcleos que alimentam o tráfico de drogas na Cracolândia, no centro de São Paulo.
Na comunidade do Moinho, que fica na mesma região, policiais vasculharam casas em busca de traficantes. O chefe do tráfico local é Leonardo Monteiro Moja, o "Leo do Moinho", que foi preso no litoral paulista. Ele é apontado como chefe do PCC, no centro da capital paulista.
Dentro da comunidade, foram encontradas antenas instaladas em postes. O equipamento, capaz de clonar a comunicação de rádios da polícia, foi fornecido a traficantes pelo chamado "Núcleo da Comunicação". O chefe também foi preso: Valdecy Messias de Souza, cinegrafista amador e funcionário de uma empresa de comunicação, é acusado de vender os equipamentos.
Outro núcleo atacado é o dos hotéis e hospedarias, no centro. Segundo promotores, Leo do Moinho é dono de muitos desses imóveis. Os estabelecimentos, que foram fechados na operação, eram usados para armazenar e distribuir drogas e esconder traficantes.
Outro núcleo, chamado de Ferro Velho e Reciclagem, foi mostrado pelo SBT Brasil em uma série de reportagens especiais, em março. São pontos irregulares que compram lixo e material reciclado de usuários de crack. Todos foram fechados nesta terça-feira.
Segundo promotores, os dependentes químicos são explorados pelos donos desses locais e gastam o dinheiro da venda do material no chamado fluxo da Cracolândia.
Das sete pessoas que tiveram a prisão preventiva decretada, três são guardas civis metropolitanos e um é ex-GCM. Segundo a investigação, eles atuavam como uma milícia, exigindo dinheiro de comerciantes na região da Cracolândia em troca de segurança.
Os acusados são Antônio Carlos Amorim Oliveira, Renata Oliva de Freitas, Elisson Assis e Rubens Alexandre Bezerra. A quebra dos sigilos bancários dos guardas mostra que a milícia movimentou pelo menos 3 milhões de reais em menos de um ano.
O que se fazia ali por alguns ex-policiais, ex-guardas e alguns na ativa era exploração de segurança privada. Eles deveriam ser pagos para agir de maneira legítima no cumprimento do seu trabalho, disse a polícia.
Outros dois núcleos também foram alvo da operação: o da receptação de celulares roubados e o do comércio de armas. Tudo isso no centro da maior cidade do país.
A atuação do crime organizado na região central da nossa capital, controlada pelo Primeiro Comando da Capital, é o PCC que acaba controlando o fluxo e não só o fluxo, mas todas as atividades criminosas de interesse da facção, completou a polícia.