Guru digital acusado em esquema de lavagem de dinheiro do crime em fintechs tentou fugir pelo fundo de condomínio
Foragido há um mês, Wagner Amorim, sócio do T10Bank, foi detido em Votorantim (SP); Operação Concierge indicou movimentação de R$ 7,5 bi e PCC como cliente
Uma movimentação de policiais federais na manhã desta segunda-feira (30) em um condomínio de luxo, em Votorantim (SP), chamou a atenção dos moradores. A Polícia Federal (PF) prendeu Wagner Mendes Amorim, que estava há mais de um mês foragido, suspeito de envolvimento no bilionário esquema de lavagem de dinheiro e blindagem patrimonial, que usava bancos digitais e empresas de cartão, alvo da Operação Concierge da PF. O PCC seria um dos clientes do esquema.
Wagner Amorim, que ser apresentava com "vice-presidente de digital" do T10Bank, foi um dos 17 investigados que tiveram prisão preventiva decretada pela Justiça Federal de Campinas (SP), mas não foi localizado no dia 30 de agosto. Um dos alvos seguia foragido. Nesta segunda-feira, foi encontrado pela PF em um condomínio de luxo, na cidade em que mora, na região de Sorocaba (SP). Ao perceber o cerco, o foragido tentou fugir pelos fundos, mas acabou preso.
A Operação Concierge tem como alvo esquema de lavagem de dinheiro, que usava dois bancos digitais, e movimentou R$ 7,5 bilhões de forma ilegal. O esquema envolvia o uso de duas fintechs clandestinas, segundo registra decisão da Justiça Federal: a I9Pay (ou Inovebanco) e a T10 Bank.
As fintechs vendiam sem autorização do Banco Central contas piratas para quem quisesse movimentar dinheiro, sem ser identificado, aponta a PF e o Ministério Público Federal. Isso porque as contas oficiais eram abertas em dois bancos regulares, em nome das fintechs. Os donos dos valores não eram identificados nessas transações, nem a origem do dinheiro.
Guru digital
Wagner Amorim foi o último sócio oficial a entrar no T10Bank, segundo a PF. Espécie de guru tecnológico, que saiu da periferia e atua socialmente, ajudando os mais pobres, como se apresenta nas redes sociais. "CEO de uma startup" de educação e inclusão social, "professor de empreendedorismo social", são algumas de suas facetas.
"Wagner Mendes Amorim se apresenta como vice-presidente de digital do banco clandestino T10 BANK, tendo sido o último dos sócios a adentrar no contrato social, com 10% das cotas. Porém, conforme reportagens nas mídias sociais, Wagner Amorim acredita poder unir o grande know-how dos sócios no mercado financeiro e empreendedorismo, com o potencial uso de tecnologias digitais para oferecer novas", trecho de documento da Operação Concierge, da PF.
Ao decretar a prisão, a Justiça destacou apontamento da PF de que "existem indícios de que Wagner não seja apenas um sócio no papel, possuindo atuação ostensiva na empresa T10 BANK". "Inclusive, figurou em recente alteração contratual como Sócio e Diretor Eleito."
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Wagner Amorim teve ainda cinco empresas ligadas a ele alvos da Concierge. A LIBC9 Sistemas Ltda., a Done SMB Ltda., Done Tecnologia da Informação, a JCWA Consultoria Ltda. e a Next Coders School Ltda. E com os demais sócios da fintech teve R$ 20,9 milhões bloqueados.
A reportagem procura contato com a defesa de Amorim. Os demais envolvidos negam crimes.