Facções recrutam adolescentes armados cada vez mais cedo no Rio de Janeiro
Jovens entram para o crime ainda na adolescência e passam a empunhar armamentos de guerra em meio à disputa por territórios no estado
Bruno Assunção
Em meio à disputa por territórios considerados estratégicos pelo crime organizado, facções criminosas do Rio de Janeiro recrutam adolescentes e os colocam para atuar com armamentos pesados.
Tráfico, milícia e polícia protagonizam confrontos constantes, enquanto a população, apavorada, enfrenta uma rotina de insegurança. De acordo com levantamento realizado entre 2017 e 2022, foram registrados 38 mil confrontos armados em municípios da capital, Baixada Fluminense e região metropolitana, uma média de 20 por dia.
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A equipe de reportagem do SBT esteve em uma comunidade da zona norte do Rio dominada pelo tráfico. Por questões de segurança, o nome da localidade não foi revelado. No local, é comum encontrar jovens armados com fuzis e pistolas de uso militar. Muitos deles ingressaram no crime ainda na adolescência.
Um dos entrevistados contou que começou ajudando amigos aos 15 anos e ingressou definitivamente no tráfico aos 20. "Tentei trabalhar para sustentar minha família, mas não consegui. Tô aí, disposto a matar, mas nós não quer morrer", afirmou. Hoje, aos 21, ele é gerente de uma boca de fumo e atua ao lado de um segurança de apenas 20 anos.
Outro jovem, que está no tráfico há quatro anos, relatou que cresceu em uma área dominada pela milícia e decidiu se aliar ao tráfico após sua família ser ameaçada. "Já perdi vários amigos. Passei por uma chacina onde só eu e um menor escapamos vivos", disse ele.
Dados do Departamento Geral de Ações Socioeducativas (Degase) revelam que atualmente 749 adolescentes cumprem medidas socioeducativas no Rio de Janeiro. Mais de 30% deles foram apreendidos por envolvimento com o tráfico.
O uso de armamento pesado por adolescentes chama atenção. Fuzis como o AK-47 e pistolas Glock 9mm fazem parte do cotidiano desses jovens, que afirmam estar sempre prontos para confrontos com facções rivais e com a polícia.
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Em 2024, foram apreendidas mais de 15 mil armas no estado do Rio de Janeiro, incluindo 732 fuzis. Segundo o antropólogo e ex-capitão do BOPE, Paulo Storani, o uso de fuzis deixou de ser exclusivo das guerras entre facções e passou a ser comum também em assaltos.
A vida desses jovens, marcada pela violência e pela ausência de oportunidades, segue um caminho incerto. "Se pudesse voltar atrás, faria diferente. Procuraria um trabalho digno para ajudar minha família", disse um dos entrevistados. No entanto, a maioria não sabe se verá o dia seguinte. "Como vou pensar no meu futuro se não sei se estarei vivo amanhã?", completou.