"Respeita o Brasil": reação à tarifa de Trump explode nas redes e acende sinal amarelo sobre dependência comercial
Taxa de 50% gerou guerra digital: de um lado, defensores da soberania nacional; de outro, críticos que veem na crise o espelho da política externa do governo

Gabriela Tunes
A tarifa de 50% anunciada por Donald Trump sobre exportações do Brasil foi além dos bastidores diplomáticos e já provoca uma mobilização em cadeia: não só na economia, mas nas redes sociais, no debate político e até nas pesquisas feitas no Google. Uma mistura de nacionalismo digital com cálculo econômico real.
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Segundo levantamento da Nexus, até a manhã desta quinta-feira (10), o anúncio da tarifa e a resposta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) geraram mais de 240 milhões de impressões e 9,1 milhões de curtidas apenas no X (antigo Twitter).
A repercussão digital coloca Trump no topo dos Trending Topics no Brasil, com mais de 36 milhões de menções, seguido pela expressão "respeita o Brasil", que alcançou quase 2 milhões de citações em tom de apoio ao presidente brasileiro.
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Apoio ao governo x culpa do governo
A leitura da consultoria é clara: a ofensiva de Trump, ao taxar as exportações brasileiras, mobilizou um sentimento de defesa da soberania que reverberou fortemente nas redes.
E isso, segundo a Nexus, beneficiou a retórica do Palácio do Planalto, que rapidamente respondeu em nome da "reciprocidade" e da "autonomia nacional". No levantamento de 1,5 milhão de postagens em português, as hashtags em defesa de Lula superaram, em volume, as críticas ao governo.
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Mas a reação nas redes não veio apenas de apoiadores. Termos como "culpa do Lula", "obrigado Trump" e "#ImpeachmentDoLulaJá" também figuraram entre os mais citados, numa disputa narrativa que evidencia o peso político da medida tarifária.
Deputados da oposição, como Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Nikolas Ferreira (PL-MG) e Marcel van Hattem (Novo-RS), marcaram presença entre os nomes mais engajados, ao lado de perfis da base governista, jornalistas, influenciadores e veículos de imprensa.
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No Instagram, Lula acumulou 660 mil curtidas e mais de 100 mil comentários, com destaque também para perfis como o do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Ao mesmo tempo, no Google Trends, a tensão se traduziu em ansiedade econômica: "Dólar hoje" foi o termo mais buscado no Brasil nas últimas 24 horas, superando meio milhão de pesquisas. O pico foi registrado às 10h20 desta quinta.
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Mas, para além da polarização política, o estudo da Nexus traz um alerta estrutural: o Brasil é altamente dependente de produtos norte-americanos. Em 2024, 5 dos 10 itens mais importados pelo país vieram dos EUA, entre eles turborreatores, naftas petroquímicas, partes de aeronaves e até hulha betuminosa, essencial para energia e indústria pesada.