Brasil avalia chamar embaixadora em Washington para consultas após taxas de 50% de Trump
Planalto considera que gesto rompeu padrão diplomático e avalia resposta proporcional no campo político

Murilo Fagundes
O governo Lula (PT) avalia convocar a embaixadora brasileira em Washington, Maria Luiza Ribeiro Viotti, para consultas em Brasília.
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A medida é vista como uma das cartas disponíveis diante da ofensiva política liderada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que publicou nas redes sociais uma carta criticando o processo judicial contra Jair Bolsonaro (PL) e anunciando sanções comerciais ao Brasil.
A carta foi checada por autoridades brasileiras para confirmar sua autenticidade. O governo considerou inaceitável o uso das redes sociais como canal para esse tipo de comunicação, sobretudo entre países aliados. O gesto foi interpretado como inadequado não apenas no conteúdo, mas também na forma: um ataque à institucionalidade brasileira feito por um presidente dos EUA, com pretensões eleitorais.
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Apesar disso, a embaixadora segue no posto, e foi orientada a repassar os recados políticos do governo brasileiro nos níveis que julgar pertinentes. O Planalto avalia que, neste momento, é mais estratégico manter margem de manobra, sem esgotar as possibilidades de reação. A convocação para consultas, se for acionada, servirá como gesto diplomático de desagravo.
Já o encarregado de negócios norte-americano foi chamado duas vezes para reuniões no Itamaraty. Segundo fontes, os encontros foram firmes, com a mensagem clara de que a atitude dos Estados Unidos coloca em risco uma relação diplomática de dois séculos. A delegação americana foi alertada de que esse tipo de intervenção compromete a relação bilateral e pode fechar portas em temas de interesse comum.
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O governo também tem evitado reações impulsivas. Técnicos e diplomatas defendem que a resposta brasileira seja calibrada, proporcional e bem estudada. A orientação é não adotar nenhuma medida que prejudique a economia nacional, mas acionar mecanismos disponíveis – inclusive no Mercosul – que permitam demonstrar insatisfação sem causar efeitos colaterais.
A avaliação é que os EUA mantêm barreiras elevadas a produtos brasileiros, como o açúcar, e têm suas próprias queixas contra tarifas aplicadas pelo bloco. O governo brasileiro, no entanto, considera que essa não é a pauta real da crise atual.
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