Bolsonaristas fazem campanha contra PSD de Kassab para pressionar por impeachment de Moraes
Líder do PSD no Senado criticou movimento e disse que a sigla "tem tido na Câmara e no Senado uma conduta correta, estritamente dentro do regimento"
Políticos de direita e bolsonaristas, incluindo os deputados federais Gustavo Gayer (PL-GO) e Nikolas Ferreira (PL-MG), fazem uma campanha de boicote ao Partido Social Democrático (PSD) nas eleições de 2024. Trata-se de uma retaliação por o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), não dar andamento ao pedido de impeachment do ministro Alexandre e Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), apresentado por parlamentares da oposição em 9 de setembro e mais senadores da sigla não apoiarem a solicitação.
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Uma série de publicações pedindo que os eleitores não votem no partido presidido pelo ex-prefeito de São Paulo e atual secretário de Governo e Relações Institucionais do estado, Gilberto Kassab — que é também um dos fundadores do PSD —, foi feita nas redes sociais nos últimos dias. Espera-se que, com a campanha, Pacheco dê prosseguimento ao pedido de impeachment e mais senadores da sigla apoiem este.
O PSD tem o presidente da Casa e a maior bancada dela, com 15 senadores. Destes, apenas três (Lucas Barreto, do Amapá, Nelsinho Trad, de Mato Grosso do Sul, e Vanderlan Cardoso, de Goiás) se posicionaram a favor do impeachment de Moraes, até o momento. Outros três (Irajá, do Tocantins, Omar Aziz, do Amazonas, e Otto Alencar, da Bahia) se posicionaram contra, e os demais não disseram se votariam contra ou a favor.
Há pelo menos 22 pedidos de impeachment do ministro aguardando decisão de Pacheco, com o mais recente tendo sido levado ao congressista por deputados e senadores da oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no último dia 9. Cabe ao presidente do Senado aceitar ou rejeitar uma denúncia com pedido de impeachment contra ministro do STF. Se aceitar, é instalada uma comissão especial que ficará encarregada de emitir um parecer sobre a solicitação.
No plenário do Senado, para o impedimento ser aprovado, são necessários pelo menos 54 votos a favor. No total, 36 senadores já se posicionaram a favor da solicitação apresentada neste mês. Pacheco não sinalizou qualquer possibilidade de acatá-la. Em 2021, ele optou pelo arquivamento de um pedido de impeachment de Moraes apresentado pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL).
A oposição ao governo Lula no Congresso é bastante crítica à atuação do Supremo Tribunal Federal. Recorrentemente, parlamentares oposicionistas acusam a Corte de promover uma ditadura do Judiciário no país.
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Entre as publicações como parte da campanha de boicote ao PSD, está uma de Gayer com uma foto de Moraes junto a Pacheco e a escrita "Não vote 55, o partido que sustenta a ditadura de Moraes". A imagem ainda inclui a logomarca do PSD com um "X" em vermelho sobre ela. "PSD NÃO! 55 NÃO!", escreveu o deputado.
Nikolas Ferreira, por sua vez, publicou um vídeo em que orienta seus seguidores a não votarem em candidatos apoiados por senadores do PSD indecisos sobre o impeachment de Moraes.
"Se os candidatos à prefeitura do PSD não querem o boicote à sua candidatura, que eles peçam ao seu senador que se posicione a favor da democracia e seja favorável ao impeachment do Alexandre de Moraes", afirma.
Na sequência, ele fala sobre o caso do prefeito da capital paulista, Ricardo Nunes (MDB), candidato à reeleição: "O Kassab está apoiando a candidatura de Nunes em São Paulo. Está na hora de Kassab tomar uma posição: ou seu partido apoia a democracia e seja favorável ao impeachment do Moraes, ou a direita não votará no seu candidato em São Paulo".
Nunes é apoiado pelo PL e pelo ex-presidente Jair Bolsonaro também. Nikolas conclui o vídeo dizendo que, se o PSD não for favorável ao impeachment do ministro do STF, "o Brasil inteiro lutará contra o partido que sustenta a ditadura de Moraes", e que a sigla é "o inimigo que estava escondido até agora".
O governo Lula é contra o impeachment. Três ministros do governo são filiados ao PSD: o de Minas e Energia, Alexandre Silveira, o da Pesca e Aquicultura, André de Paula, e o da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro.
Líder do PSD critica movimento
O líder do PSD no Senado, Otto Alencar, se manifestou sobre a campanha de boicote. Em vídeo publicado no Instagram, na segunda-feira (23), ele afirma que o PL não pode fazer cobrança à legenda.
"Esse partido todo ficou em silêncio no maior problema que aconteceu no Brasil recentemente, a pandemia. E nós fizemos a CPI para mostrar que o presidente não estava comprometido com a vida do povo brasileiro".
Otto argumenta ainda que os dirigentes de cúpula do PL "não têm essa história, essa tradição, de querer apurar absolutamente nada, sobretudo, impeachment de quem quer que seja. Nenhum deles".
Ele ressalta que o PSD liberou a bancada no caso do pedido de impeachment de Moraes. "Qualquer senador ou senadora que deseje analisar o pedido de impeachment, requerimento, e achar que tem fato determinado para tanto está liberado para assinar".
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Ainda de acordo com o parlamentar, os "principais eleitores" de Bolsonaro em 2022 não assinaram o pedido. "Portanto, é bom não querer tergiversar essa fala, querendo colocar isso na conta do PSD".
Otto afirma que a sigla "tem tido na Câmara e no Senado uma conduta correta, estritamente dentro do regimento, dentro da lei, por parte dos seus senadores e deputados federais, e também pelo presidente Gilberto Kassab".
"Nós temos que ajudar o Brasil, pensar no Brasil. Essa picuinha não merece a nossa sincera consideração", conclui.