Após agendas de Lula com militares, governo retoma comissão de vítimas da ditadura
Presidente atua na corda bamba para se aproximar de militares, mas sem desagradar base aliada
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) segue em uma corda bamba para se aproximar das Forças Armadas sem desagradar a sua base eleitoral. Em um período de sete dias, Lula esteve em três agendas com militares; No mesmo período, reabriu a Comissão de Mortos e Desaparecidos da Ditadura.
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Na quinta-feira do dia 21 de agosto, Lula participou de um evento do Dia do Soldado. Na ocasião, ele não discursou, mas ouviu a Ordem do Dia do Comandante do Exército, Tomás Paiva, sobre o papel das Forças Armadas de respeitar a Constituição Federal de 1988.
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Na terça-feira (27), Lula foi à Força Aérea Brasileira (FAB) em visita ao Centro de Operações Espaciais e também marcou presença em um evento de comemoração dos 25 anos do Ministério da Defesa, nesta quarta-feira (28).
No evento da quarta-feira, Lula e o ministro da Defesa, José Múcio, discursaram. Lula afirmou que as Forças Armadas não devem atuar sob ideologia e afirmou que Múcio é o melhor ministro da Defesa da história e também o seu mais hábil quadro da Esplanada dos Ministérios.
Sob o ponto de vista político, Lula e Múcio conseguiram pacificar qualquer ruído deixado pelo envolvimento de militares nos atos golpistas do 8 de janeiro e no apoio aos acampamentos golpistas em frente ao Quartel General (QG) do Exército em Brasília.
A confiança com os militares foi fortalecida aos poucos, segundo afirmam fontes das três forças. Neste ano, Lula não fez discurso em repúdio no aniversário do Golpe de 1964. Ele também defendeu os interesses dos militares de não alterar o sistema previdenciário da caserna. No evento, foi anunciado o alistamento voluntário feminino, que será colocado em prática a partir de 2025.
Ao longo do mandato, o presidente também esteve na inauguração do submarino Tonelero, em Itaguaí (RJ), com a presença do presidente da França, Emmanuel Macron. A embarcação foi construída em parceria entre as Forças Armadas brasileiras e francesas após acordo ainda no governo Lula 1.
Durante a inauguração, Lula e Macron fortaleceram a relação entre os militares dos dois países. Em janeiro, o presidente ainda anunciou a construção de um Instituto Tecnológico de Aeronáutica no Ceará e de uma Escola de Sargentos em Pernambuco.
Apesar da melhoria na relação, assim como outros setores do governo, as Forças Armadas também manifestaram preocupação com o contingenciamento de R$ 15 bilhões anunciado pelo governo, que afeta o Exército, a Aeronáutica e a Marinha. Durante o discurso no Dia do Soldado, o Comandante Tomás Paiva fez um apelo para que o investimento em veículos e armamentos militares não seja deixado de lado.
Comissão da Verdade
Apesar do papel de apaziguar pontos dissidentes do governo, Lula continua acenando para os setores mais à esquerda do governo e, para isso, precisa tocar em assuntos delicados para as Forças Armadas.
Nesta sexta-feira (30), os trabalhos da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos foram retomados após interrupção durante o governo Jair Bolsonaro (PL). O anúncio foi feito pelo ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida. Ele afirmou que a medida o retorno da comissão só foi possível pela atuação e pela vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 2022.
Além disso, o ministro anunciou que o governo vai construir dois memoriais em homenagem às vítimas da ditadura militar no Brasil [1964 - 1985].
"Estavam dizendo que não se faria memoriais no Brasil, porque não havia clima, e nós vamos fazer dois. Na falta de um, teremos dois memoriais, e isso com pleno assentimento do Presidente da República", disse Silvio Almeida.