Quem são os 4 inocentados em caso de estupro que atacaram Trump na Convenção Democrata
Em 1989, bilionário e hoje candidato pediu pena de morte para Yusef Salaam, Korey Wise, Kevin Richardson e Raymond Santana
Quatro homens negros, que foram condenados injustamente pelo estupro de uma mulher branca ocorrido em 1989, participaram da Convenção Nacional Democrata nesta quinta-feira (23) e discursaram a favor da candidata Kamala Harris. "Trump nos queria mortos", disse Yusef Salaam, um dos "Cinco do Central Park".
"35 anos atrás, meus amigos e eu fomos presos por um crime que não cometemos. Nossa juventude foi roubada de nós. Todos os dias, quando entrávamos no tribunal, as pessoas gritavam conosco. Nos ameaçavam. Por causa de Donald Trump", disse Korey Wise, que passou 13 anos preso injustamente.
A história dos "Cinco do Central Park" foi retratada na minissérie Olhos que Condenam, da Netflix. Além de Salaam e Wise, Kevin Richardson e Raymond Santana subiram ao palco da Convenção Democrata.
O ataque ao republicano tem um motivo: quando os quatro, juntos com Antron McCray, foram presos e acusados por estupro e agressão de uma corredora no Central Park, em Nova York, em 1989, Donald Trump – na época apenas um magnata do ramo imobiliário – fez uma campanha com anúncios em páginas de jornais para restabelecer a pena de morte no estado.
"Traga de volta a pena de morte", dizia o título do anúncio que foi colocado em quatro jornais da cidade, incluindo o diário The New York Times. "Eles devem servir de exemplo para que outros pensem muito bem antes de cometer um crime ou um ato de violência", escreveu o bilionário, que anos depois viria a ser presidente dos EUA e agora busca retornar à Casa Branca pelo Partido Republicano.
Acusação injusta e anos de prisão
Em abril de 1989, Trisha Meili, uma mulher branca de 28 anos, corria pelo Central Park quando foi atacada. A banqueira foi espancada com uma pedra, amarrada e estuprada. Deixada para morrer, ela foi encontrada horas depois, inconsciente.
Naquela mesma noite, um grupo de mais de 30 jovens negros dava um "rolezinho" pelo parque. Entre o grupo estava Salaam, Santana e Richardson, de 14 anos; McCray, de 15; e Wise, de 16. Detidos, eles foram acusados do estupro de Meili e forçados pela polícia a confessar o crime. Mais tarde, todos negaram envolvimento no caso.
No ano seguinte, "Os Cinco do Central Park" se declararam inocentes durante o julgamento. Não havia evidências de DNA ligando nenhum deles ao crime, mas, mesmo assim, eles foram condenados a penas que variavam de 10 a 15 anos de prisão. Wise, que tinha 16 anos, foi sentenciado como adulto e cumpriu pena na prisão de Rikers Island.
Wise conheceu, na prisão, o estuprador em série e assassino Matias Reyes, que confessou para ele ser o verdadeiro criminoso do Central Park. Um teste de DNA provou que o sêmen encontrado no corpo de Meili era de Reyes, confirmando a culpa. Em 2002, Wise foi libertado da prisão após 13 anos e as condenações contra cada um dos cinco adolescentes presos injustamente foram anuladas pela Suprema Corte de Nova York.