Premiê da Tailândia é afastada do cargo devido a tom "bajulador" em ligação; entenda
Paetongtarn Shinawatra pertence à dinastia política no país que passa por uma nova instabilidade e desaceleração econômica

SBT News
O Tribunal Constitucional da Tailândia afastou a primeira-ministra Paetongtarn Shinawatra do cargo nesta terça-feira (1º), em meio a uma investigação sobre uma ligação telefônica vazada com uma autoridade do Camboja. Ela é acusada de ter sido excessivamente respeitosa quando os dois discutiam uma recente disputa de fronteira.
Paetongtarn tem sido criticada pela forma como lidou com o embate, que envolveu um confronto armado em 28 de maio, no qual um soldado cambojano foi morto.
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Em uma ligação telefônica com o presidente do Senado cambojano, Hun Sen, ela tentou acalmar as tensões. O episódio desencadeou uma série de protestos de pessoas que a acusaram de ser excessivamente bajuladora.
O afastamento de Paetongtarn levanta a possibilidade de uma nova instabilidade na Tailândia, uma democracia ainda frágil que sofreu vários períodos de incerteza.
Paetongtarn, de 38 anos, pertence a uma dinastia política no país. Ela é a filha mais nova do ex-primeiro-ministro Thaksin Shinawatra.
O que foi dito na conversa?
Na ligação telefônica sobre as tensões na fronteira, Paetongtarn pôde ser ouvida pedindo a Hun Sen – amigo de longa data de seu pai – para não dar ouvidos a um comandante do exército regional tailandês que havia criticado publicamente o Camboja sobre a disputa na fronteira e o chamado de "opositor".
Milhares de manifestantes conservadores e de tendência nacionalista se reuniram no centro de Bangkok no sábado para exigir a renúncia de Paetongtarn.
Paetongtarn também enfrenta investigações separadas sobre a ligação vazada – um caso que também pode levar à sua destituição.
No ano passado, o Tribunal Constitucional destituiu o antecessor de Paetongtarn por violação de ética.
Os tribunais tailandeses, especialmente o Constitucional, são vistos como defensores do establishment monarquista, que os utilizou, juntamente com agências supostamente independentes, como a Comissão Eleitoral, para prejudicar oponentes políticos.
Entenda a crise política na Tailândia
A elite conservadora do país, incluindo os militares, tem preocupações de que a dinastia política iniciada pelo pai de Paetongtarn, o ex-primeiro-ministro Thaksin Shinawatra, estava se tornando poderosa demais.
Paetongtarn é a terceira integrante da família a ocupar o cargo de primeira-ministra – e a terceira a enfrentar a possibilidade de ser destituída antes do fim de seu mandato.
Thaksin foi destituído do cargo em um golpe de Estado em 2006 e levado ao exílio, enquanto sua irmã, a ex-primeira-ministra Yingluck Shinawtra, foi destituída por ordem judicial em 2014, seguida logo depois por outro golpe.
O afastamento também ocorre em um momento em que o país enfrenta uma desaceleração econômica e um crescente descontentamento com Paetongtarn e seu partido, o Pheu Thai.
Os juízes votaram unanimemente nesta terça pela revisão da petição que a acusa de violação da ética e, por 7 votos a 2, pela suspensão imediata de seu cargo como primeira-ministra até que uma decisão seja proferida.
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O tribunal deu a Paetongtarn 15 dias para apresentar provas que sustentem seu caso.
Após a ordem judicial, Paetongtarn afirmou que aceitaria o processo e defendeu suas ações.
"Eu só pensava no que fazer para evitar problemas, no que fazer para evitar confrontos armados, para que os soldados não sofressem nenhuma perda", afirmou.
Suriya Jungrungruangkit, vice-primeiro-ministro e ministro dos Transportes, assumirá o cargo de primeiro-ministro interino, disse Chousak Sirinil, ministro do gabinete da premiê.
Na terça anterior, antes de o tribunal suspender Paetongtarn, o rei Maha Vajiralongkorn havia apoiado uma reforma ministerial após um grande partido ter deixado a coalizão governamental devido ao vazamento da ligação.
*Com informações da Associated Press