Paris-2024: Polícia francesa investiga ameaças contra "DJ de Santa Ceia" após cerimônia de abertura
Segundo agência, DJ e ícone LGBTQ+ Barbara Butch apresentou uma queixa formal por assédio online, ameaças de morte e insultos
Antonio Souza
Promotores franceses ordenaram que a polícia investigasse ameaças contra a DJ e ícone LGBTQ+ Barbara Butch, que se apresentou na cerimônia de abertura das Olimpíadas de Paris. Ela estava na foto que foi associada ao famoso quadro "A Última Ceia", de Leonardo da Vinci.
Segundo a agência de notícias Associated Press, um advogado da DJ informou que ela apresentou uma queixa formal por assédio online, ameaças de morte e insultos. De acordo com ele, a queixa não nomeia nenhum suspeito específico.
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O gabinete do promotor de Paris confirmou o recebimento da queixa e designou uma unidade policial especializada em combater crimes de ódio para investigar o caso. A investigação policial se concentrará em "mensagens discriminatórias baseadas em religião ou orientação sexual que foram enviadas a ela ou postadas online", declarou o promotor.
Embora o diretor artístico da cerimônia, Thomas Jolly, tenha repetidamente afirmado que não se inspirou em "A Última Ceia", críticos interpretaram parte do show que apresentou a DJ como uma zombaria da famosa pintura de Leonardo Da Vinci, que retrata Jesus Cristo e seus apóstolos.
Barbara Butch, que se autodenomina uma "ativista do amor", usou um cocar prateado que parecia uma auréola enquanto dava início a uma festa durante seu segmento do show. Artistas drags, dançarinos e outros a acompanhavam.
Entenda o caso
Os organizadores das Olimpíadas de Paris negaram, neste domingo (28), que a polêmica encenação com a presença de drag queens na abertura dos Jogos tenha se inspirado na pintura “A Última Ceia”, de Leonardo da Vinci. A apresentação foi marcada por elementos representativos da cultura LGBTQIAP+, o que despertou fortes reações conservadoras pelo mundo.
Jornalistas questionaram a porta-voz das Olimpíadas Paris 2024, Anne Descamps, em uma coletiva de imprensa do Comitê Olímpico Internacional (COI) sobre o assunto. “Claramente, nunca houve a intenção de desrespeitar qualquer grupo religioso. Pelo contrário”, respondeu Descamps. Embora a organização negue oficialmente ter se tratado de uma releitura, o resultado ficou parecido com o quadro que retrata a última ceia de Jesus Cristo com seus apóstolos antes da crucificação.
A porta-voz afirmou que o diretor artístico da abertura, Thomas Jolly, buscou “celebrar a tolerância comunitária”, um objetivo da organização do evento. “Olhando para o resultado das pesquisas que compartilhamos, acreditamos que essa ambição foi alcançada. Se alguém se sentiu ofendido, lamentamos muito”, acrescentou Descamps.
Jolly já havia se pronunciado a respeito do assunto, em entrevista à Associated Press logo após a cerimônia. “Meu desejo não é ser subversivo, nem zombar ou chocar," disse Jolly, na ocasião. "Acima de tudo, eu queria enviar uma mensagem de amor, uma mensagem de inclusão e não de divisão”, afirmou à agência.
Neste domingo (28), Jolly reforçou o discurso oficial da organização, em entrevista à rede de televisão francesa BMF TV. Ele negou ter se inspirado em “A Última Ceia”. Disse que a verdadeira inspiração foram divindades da antiga mitologia grega, como Dionísio/Baco, o deus do vinho. O quadro "A festa dos Deuses" foi apontado como possível referência. A pintura, de Jan Harmensz van Bijlert, data de cerca de 1635 e está no Museu Magnin, em Dijon, França.