Medidas de Milei melhoram contas públicas, mas têm custo social muito alto, diz analista
Pacote de reformas foi aprovado na Câmara dos Deputados da Argentina e segue para votação no Senado
Felipe Moraes
Medidas administrativas e econômicas encabeçadas pelo presidente da Argentina, Javier Milei, têm impactado positivamente as contas públicas. Por outro lado, inflação e pobreza continuam subindo, e mudanças representam alto custo social. Quem faz essa análise é Uriã Fancelli, especialista em relações internacionais, em participação no Brasil Agora desta quarta-feira (1º).
+ Câmara da Argentina aprova Lei de Bases de Milei
"Privatizações fazem parte do que Milei se propõe a fazer, como anarcocapitalista, liberal. Tem defendido fim do estado inchado argentino. Tem descoberto que, por meio do diálogo, é possível alcançar [mudanças], fazendo concessões", aponta.
Fancelli se refere ao pacote de reformas apresentado por Milei e aprovado na Câmara dos Deputados do país. Na prática, o presidente poderá alterar leis sem consulta ao Congresso por um ano, por causa da declaração de emergência nos setores administrativo, econômico, fiscal e energético.
"Isso pode ser feito, está na Constituição argentina. Mostra característica de políticos populistas que precisa tanto ser frisada, que é concentração de poder. Políticos como Milei gostam de governar meio que sozinhos", explica Fancelli.
O projeto segue para votação no Senado, onde Milei precisará de nova articulação. Para isso, conta com apoio da vice-presidente da Argentina e presidente do Senado, Victoria Villarruel.
Fancelli também analisa a fala de Milei comemorando a aprovação do pacote no Congresso: falou em "passo fundamental para tirar a Argentina do pântano". "Isso precisa ser interpretado de maneira cuidadosa", pondera.
"Tirar do pântano é apenas mostrar superávit, números que vão agradar americanos e FMI, que teve tantos atritos com Argentina? De fato, há melhora nos números, mas o custo disso, socialmente falando, é muito caro: inflação de mais de 270% ao ano, pessoas escolhendo comprar entre medicamentos ou comida, mais de 57% dos argentinos abaixo da linha da pobreza", comenta.