Lula e Biden na ONU: o Brasil do diálogo, os EUA da defesa unilateral
Os discursos em sequência de Lula e Biden evidenciaram ainda mais as diferenças entre os líderes sobre conflitos armados
Nova York - Palavras alinhadas ao que prega a Carta das Nações Unidas. Lula, do começo ao fim do discurso, que foi o primeiro dos líderes no plenário principal, falou em união, sobre promover o diálogo com todas as partes e, principalmente, desarmar e investir recursos nos seres humanos.
+ Na ONU, Lula cobra cumprimento de ações contra mudanças climáticas em meio a incêndios no Brasil
Do lado americano, a posição historicamente conhecida foi a defesa dos interesses nacionais e dos aliados.
“Eu peço aos integrantes deste plenário que estejam ao lado dos ucranianos”, disse o presidente dos Estados Unidos.
Volodymyr Zelensky estava na plateia. Sobre Gaza, Biden, de maneira diferente do que disse há um ano, foi explícito ao falar sobre o direito à liberdade dos palestinos.
Lula enfatizou que o Brasil é contra a invasão da Ucrânia, mas foi enfático e não deixou espaço para meias palavras ao dizer que “2023 ostenta o triste recorde do maior número de conflitos desde a Segunda Guerra Mundial”.
+ Assista: Lula faz discurso na abertura da Assembleia Geral da ONU nesta terça (24)
De forma diplomática, criticou as superpotências que armam países em guerra, afirmando que os gastos militares globais cresceram e atingiram, no último ano, 2,4 trilhões de dólares, e que esses recursos poderiam ter sido utilizados para combater a fome.
Outra frase de Lula teve o impacto de um estadista que falou diretamente a outros líderes presentes:
“O uso da força, sem amparo no Direito Internacional, está se tornando a regra”.
Sobre a reforma dos órgãos da ONU, especialmente o Conselho de Segurança, os Estados Unidos já manifestaram recentemente seu apoio a novos integrantes permanentes. Washington DC fala, por ora, essencialmente dos africanos.
Na última semana, a embaixadora-chefe da missão dos EUA na ONU esteve em Washington DC para falar sobre o tema com a imprensa.
O líder brasileiro, no púlpito das Nações Unidas, enviou uma mensagem direta:
“A exclusão da América Latina e da África de assentos permanentes no Conselho de Segurança é um eco inaceitável de práticas de dominação do passado colonial”.
Lula reabriu os canais diplomáticos e políticos com os Estados Unidos, que haviam sido congelados na administração brasileira anterior.
A relação entre as duas nações é frequentemente descrita como produtiva e de interesse mútuo.
+ Todas as notícias sobre a ONU
Equipes de trabalho viajam entre Washington DC e Brasília para avançar em projetos conjuntos, especialmente no ano em que as relações diplomáticas entre os dois países celebram 200 anos.
A visão de mundo dos dois presidentes, no entanto, é clara.
Lula, mais uma vez, falou na ONU sobre o embargo a Cuba, afirmando que é errada a classificação do país caribenho em determinadas listas.
+ Leia todas as colunas de Patrícia Vasconcellos
Lula e Biden coincidem na defesa da democracia, no combate ao extremismo, nas questões climáticas, em promover melhores condições de trabalho — agenda que foi tema, inclusive, de uma reunião bilateral em Nova York, há um ano — e na necessidade de investir em energia limpa.
Biden deixará a Casa Branca no início de janeiro de 2025.
Dependendo do resultado das eleições americanas deste ano, pautas globais convergentes podem se tornar opostas, distanciando — como já vimos em um passado recente — o diálogo diplomático entre os dois países.