Itamaraty critica disparos durante entrega de ajuda e diz que humanidade "está falhando" com civis de Gaza
Ministério reafirma considerar urgente um cessar-fogo na guerra entre Israel e o grupo radical Hamas
O Ministério das Relações Exteriores do Brasil disse, nesta sexta-feira (1º), que o governo tomou conhecimento com "profunda consternação" dos disparos com armas de fogo, por forças de Israel, que ocorreram na quinta (29) em local onde palestinos aguardavam o recebimento de ajuda humanitária. Segundo o Itamaraty ainda, "a humanidade está falhando com os civis de Gaza".
+ Mapa Mundi: Israel mata palestinos em fila por comida e Putin ameaça guerra nuclear
A pasta ressalta que mais de 100 pessoas foram mortas e mais de 750 foram feridas por tiros, pisoteio ou atropelamento no episódio de ontem. "As aglomerações em torno dos caminhões que transportavam a ajuda humanitária demonstram a situação desesperadora a que está submetida a população civil da Faixa de Gaza e as dificuldades para obtenção de alimentos no território", acrescenta.
De acordo com o Itamaraty, é uma situação "intolerável, que vai muito além da necessária apuração de responsabilidades pelos mortos e feridos de ontem".
O ministério manifesta solidariedade ao povo palestino, diz que o governo do premiê israelense Benjamin Netanyahu mostra que a ação militar na Faixa de Gaza não tem nenhum "limite ético ou legal" e reafirma considerar urgente um cessar-fogo na guerra entre Israel o grupo radical Hamas.
Na semana passada, uma declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comparando os ataques israelenses em Gaza com as ações de Adolf Hitler contra judeus no Holocausto causou uma crise diplomática entre o Brasil e Israel. Na terça-feira (27), Lula afirmou não ter utilizado o termo Holocausto fala. Segundo o chefe do Executivo federal brasileiro, a relação entre os dois momentos foi uma interpretação do primeiro-ministro de Israel.
Confira a íntegra da nota do Itamaraty:
O Governo brasileiro tomou conhecimento, com profunda consternação, dos disparos por arma de fogo, por forças israelenses, ocorrido no dia de ontem, no Norte da Faixa de Gaza, em local em que palestinos aguardavam o recebimento de ajuda humanitária. Na ocasião, mais de 100 pessoas foram mortas e mais de 750 feridas por tiros, pisoteio ou atropelamento.
As aglomerações em torno dos caminhões que transportavam a ajuda humanitária demonstram a situação desesperadora a que está submetida a população civil da Faixa de Gaza e as dificuldades para obtenção de alimentos no território.
Trata-se de uma situação intolerável, que vai muito além da necessária apuração de responsabilidades pelos mortos e feridos de ontem.
Autoridades da ONU e especialistas em ajuda humanitária e assistência de saúde de diferentes organismos e entidades vêm denunciando há meses a sistemática retenção de caminhões nas fronteiras com Gaza e a situação crescente de fome, sede e desespero da população civil. Ainda assim, a inação da comunidade internacional diante dessa tragédia humanitária continua a servir como velado incentivo para que o governo Netanyahu continue a atingir civis inocentes e a ignorar regras básicas do direito humanitário internacional. Declarações cínicas e ofensivas às vítimas do incidente, feitas horas depois por alta autoridade do governo Netanyahu, devem ser a gota d’água para qualquer um que realmente acredite no valor da vida humana.
O governo Netanyahu volta a mostrar, por ações e declarações, que a ação militar em Gaza não tem qualquer limite ético ou legal. E cabe à comunidade internacional dar um basta para, somente assim, evitar novas atrocidades. A cada dia de hesitação, mais inocentes morrerão.
A humanidade está falhando com os civis de Gaza. E é hora de evitar novos massacres.
Ao expressar sua solidariedade ao povo palestino, sobretudo aos familiares das vítimas, o Brasil reafirma seu firme repúdio a toda e qualquer ação militar contra alvos civis, sobretudo aqueles ligados à prestação de ajuda humanitária e de assistência médica.
O massacre de hoje vem se somar às mais de 30 mil mortes de civis palestinos, das quais mais de 12 mil são crianças, registradas desde o início do conflito, além dos mais de 1,7 milhão de palestinos vítimas de deslocamento forçado. O Brasil reitera a absoluta urgência de um cessar-fogo e do efetivo ingresso em Gaza de ajuda humanitária em quantidades adequadas, bem como a libertação de todos os reféns.
O Governo brasileiro recorda a obrigatoriedade da implementação das medidas cautelares emitidas pela Corte Internacional de Justiça, em 26 de janeiro corrente, que demandam que Israel tome todas as medidas ao seu alcance para impedir a prática de todos os atos considerados como genocídio, de acordo com o Artigo II da Convenção para a Prevenção e a Repressão e Punição do Crime de Genocídio.