Estados Unidos seguem o rito diplomático em relação às eleições na Venezuela
Governo vai esperar o resultado de cada urna para fazer pronunciamento definitivo sobre o reconhecimento ou não do resultado de domingo (28)
A diplomacia respeita os tempos democráticos. Tem sido assim na capital Washington e também em Brasília desde o anúncio do resultado das eleições venezuelanas.
Antes do anúncio oficial do Colégio Nacional Eleitoral (CNE), o embaixador americano Brian Nichols, secretário assistente para Assuntos do Hemisfério Oriental se pronunciou. Disse que os eleitores da Venezuela compareceram em grande número para expressar seu desejo nas urnas. "Agora cabe às autoridades eleitorais garantir transparência e acesso a todos os partidos políticos e sociedade civil para a tabulação dos votos e publicação imediata dos resultados", disse.
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Minutos após o resultado, que reflete diferenças grandes do apurado pela oposição e pela sociedade, a diplomacia americana seguiu o rito. Em Tóquio, o secretário de Estado americano Antony Blinken afirmou que "os Estados Unidos têm preocupações sérias de que os resultados anunciados no domingo (28) podem não refletir a vontade dos eleitores venezuelanos nas urnas".
No Departamento de Estado, à tarde, o vice-porta-voz do Departamento de Estado, Vedant Patel, respondeu a pergunta do SBT se os Estados Unidos, nesta segunda-feira (29), reconhecem ou não o resultado anunciado. Vedant Patel afirmou que os Estados Unidos aguardam a publicação imediata do resultado das urnas para garantir transparência e prestação de contas. Ele não informou se a diplomacia americana entrou em contato com Celso Amorim, que foi a Caracas acompanhar o pleito, mas afirmou: " Isso é certamente algo a que estamos prestando atenção".
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Mais cedo, em uma chamada telefônica com os jornalistas, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby, foi mais específico. Disse que o governo americano não vai se antecipar porque entende que ainda há uma tabulação a fazer sobre os resultados de cada urna, mas pontuou a preocupação de Washington com a falta de transparência no pleito do país latino.
Na semana passada, Kirby chegou a abrir a coletiva de imprensa na Casa Branca afirmando que os Estados Unidos clamavam por eleições transparentes na Venezuela e que alertavam para a necessidade de votação e apuração sem violência. Peru, Chile, Uruguai, Argentina, Costa Rica, Panamá, Equador e Itália foram rápidos em afirmar que não reconhecem o resultado que deu vitoria a Maduro. Os Estados Unidos seguem mais alinhados com a União Europeia e o Brasil, que aguardam o cumprimento do passo a passo do que é solicitado às autoridades venezuelanas para, aí sim, se pronunciarem.
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Também em uma coletiva de imprensa por telefone nesta segunda (29), oficiais do Departamento de Estado disseram: "O que nos preocupa é que a análise que recebemos de diversas fontes indica que os resultados finais anunciados oficialmente estão em desacordo com a forma como as pessoas realmente votaram, potencialmente em desacordo substancial com isso. Então isso é realmente algo que precisa ser mais examinado e explorado e realmente, neste momento, a pressão recai sobre o Conselho Nacional Eleitoral para partilhar esses resultados mais detalhados", disse o oficial americano. "Se houver resistência em fornecer essas informações adicionais, penso que isso se torna altamente problemático no que diz respeito à capacidade dos Estados Unidos ou de outros membros da comunidade internacional para julgar se estas eleições foram, de fato, inclusivas e credíveis".