Lula pede taxação de super-ricos e critica alta taxa de juros a países em desenvolvimento
Em reunião ministerial do G20 na ONU, presidente da República cobra reforma da governança em organismos internacionais
Raphael Felice
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu, nesta quarta-feira (25), a taxação de super-ricos. Ele também fez críticas à "arquitetura financeira" global e pediu uma ampla reforma da governança nos órgãos e conselhos das Nações Unidas (ONU) e outros organismos multilaterais.
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Segundo o presidente, a taxação de bilionários pode ser um recurso importante para combater desigualdades sociais e as mudanças climáticas.
"A taxação de super-ricos é uma forma de combater a desigualdade e direcionar recursos a prioridades de desenvolvimento e ação climática", disse.
Endividamento
Ao criticar o sistema financeiro mundial, Lula citou diversos aspectos que considerados injustos, como a alta taxa de juros cobrada a países pobres ou em desenvolvimento em comparação a nações ricas ou desenvolvidas. Em 2023, a União gastou cerca de R$ 614 bilhões com juros da dívida pública.
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"O primeiro é eliminar o caráter fortemente regressivo da arquitetura financeira internacional. Países em desenvolvimento enfrentam custos e dificuldades desproporcionais na obtenção de financiamento em comparação com os países ricos. As taxas de juros impostas a países do Sul Global são muito mais altas do que as aplicadas às nações desenvolvidas", disse Lula.
"O endividamento que afeta severamente alguns países em desenvolvimento estrangula o investimento em infraestrutura, bem-estar e sustentabilidade. Em 2022, a diferença entre o valor que o mundo em desenvolvimento pagou a credores externos e o que recebeu foi de 49 bilhões de dólares". Há mais dinheiro saindo do que dinheiro entrando", concluiu.
O presidente da República afirmou que os países da América Latina, Caribe e da África são pouco representados em diversos órgãos mundiais. Ele citou que, ao serem criados, Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial tinham 12 assentos para juntas executivas em um universo de 44 países. Hoje em dia, são 25 cadeiras para 190 nações. Mantidas as proporções, as juntas deveriam ter ao menos 52.
Ele ainda frisou que em fundos ambientais, enquanto potências possuem cadeiras exclusivas, países com grandes florestas acabam dividindo assentos.
"Essa lógica excludente se reproduz em várias instâncias. Nos fundos verdes, países florestais e megadiversos são obrigados a dividir assentos enquanto os países ricos ocupam cadeiras exclusivas", disse.
No discurso de abertura da Assembleia Geral da ONU nesta terça-feira (24), o presidente afirmou que a falta de representatividade do Sul Global reflete uma "lógica colonial" das grandes potências mundiais.