Contradição? Especialista comenta autorização para exploração na Foz do Amazonas antes da COP30
Diretor técnico da LACLIMA, André Castro, avalia que decisão do governo antes da COP30 pode parecer contraditória, mas pede análise global do tema


Giovanna Colossi
Em entrevista ao programa Mapa Mundi, o diretor técnico da LACLIMA, André Castro, ponderou se a autorização para exploração de petróleo na Foz do Amazonas, pouco antes do início da COP30, transmite uma mensagem contraditória do governo brasileiro em relação às suas ambições climáticas.
Mesmo afirmando que a medida não representa o melhor sinal, Castro ressaltou a importância de colocar o assunto em uma perspectiva global. “A gente tem que pôr na perspectiva que, hoje, a economia global é muito dependente ainda de petróleo e combustíveis fósseis de maneira geral. Tem sido cada vez menos, porque alternativas tecnológicas são maiores e mais disponíveis, mas ainda há uma dependência muito grande. O que eu quero dizer é que a gente não vai, de um dia para o outro, eliminar o uso de combustíveis fósseis”, afirmou.
Nesse sentido, André destacou a proposta apresentada pelo presidente Lula durante a Cúpula de Líderes e, nesta sexta-feira (7), na abertura da segunda sessão temática da conferência, que tem como tema Transição Energética. O presidente propôs um “mapa do caminho” para o fim do uso de combustíveis fósseis.
“Essa dependência da economia global construída em cima do petróleo é um processo de 200 anos, que vem do século 18. A gente não pode demorar 200 anos para sair disso, mas não é algo que se resolve de um dia para o outro. Então, esse mapa do caminho é uma das principais entregas que pode vir da COP — planos e metas de como isso vai ser feito, como as economias que dependem muito de petróleo vão se adaptar, porque elas não podem ser deixadas para trás”, avaliou.
Para o diretor técnico da LACLIMA, o mais importante é que a sociedade civil permaneça atenta para garantir que os lucros obtidos com os combustíveis fósseis sejam direcionados para a transição energética.
Em relação ao Brasil e à autorização para exploração na Margem Equatoriana, André ponderou que o petróleo poderia ser explorado no futuro e destacou a importância de o processo ter ocorrido em um momento em que o Ibama atuou para mitigar qualquer tipo de desastre ambiental.
“Sobre essa contradição do governo brasileiro, realmente não é uma boa mensagem para se passar. Mas esse petróleo está disponível ali e, como a gente já falou de alternância de poder, hoje está o Lula, amanhã pode estar outro presidente, e esse petróleo pode ser explorado em algum momento no futuro”, afirmou.
“O importante é que, se ele vai ser explorado, isso seja feito com todo o cuidado possível. E eu percebo que o Ibama, nesse caso, teve uma força muito grande até liberar essa exploração. Acho que isso dá algum conforto técnico de como isso vai ser feito. Mas nós, como sociedade, o mais importante é termos uma postura de pressão para que boa parte do dinheiro que o Brasil ganhe com isso seja revertida em transição energética, para que fiquemos cada vez menos dependentes”, acrescentou.
“Então, é estratégico se livrar disso não só por uma questão climática, mas também por uma questão de soberania”, completou.









