Vídeo com foto de Lula em pacote de droga é antigo e segue tática comum do tráfico
Filmagem circula desde 2023, mas voltou à tona após megaoperação policial no RJ; imagens de famosos em drogas são tática antiga do tráfico

Projeto Comprova
Circula nas redes sociais um vídeo no qual um homem segura um pequeno pacote de plástico com material análogo à droga embalado com a foto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o escrito “Cpx Catarina Novo”.
Na gravação, o homem afirma que está em São Gonçalo (RJ), próximo ao bairro Jardim Catarina, onde há atuação do tráfico de drogas, e sugere que, pelo fato de a foto do presidente aparecer no pacote, haveria ligação do mandatário com traficantes da região.
A publicação verificada pelo Comprova foi compartilhada em 2 de novembro de 2025, mas já circula pelas redes sociais desde 2023. Isso porque sobre a imagem há um código da plataforma Helo ID, um app da ByteDance, empresa dona do TikTok, que foi descontinuado no fim de junho de 2023. Ou seja, o vídeo foi publicado na plataforma há mais de 2 anos e voltou a ser compartilhado agora, no contexto da megaoperação nos complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro.
Como o Comprova já mostrou em outras verificações, o uso da foto de personalidades conhecidas em embalagens de drogas não é recente. Jogadores de futebol, como Neymar e Ronaldinho Gaúcho, já foram alvos de criminosos, assim como artistas como Amy Winehouse (1983 – 2011) e Xuxa. Na política, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) teve a imagem estampada em porções de maconha em Mogi Mirim (SP) e Anápolis (GO), assim como a ex-primeira dama Michelle Bolsonaro. Em todos esses casos, não houve comprovação de vínculo de quem aparecia na embalagem com o tráfico de entorpecentes.
Em 2022, Lula e o PT foram alvo de uma peça de desinformação semelhante. Na época, o Departamento de Operações de Fronteira (DOF), órgão de segurança do Mato Grosso do Sul, explicou ao Comprova que as inscrições eram aleatórias e serviam somente como código de identificação do proprietário da droga caso ela chegue ao seu destino.
No ano seguinte, a Advocacia Geral da União (AGU) chegou a notificar o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, que compartilhou em suas redes sociais fotos de tijolos de maconha adesivados com imagens em que Lula aparece “fazendo o L”.
Após a notificação, o secretário apagou a publicação e afirmou que em nenhum momento objetivou associar a imagem do presidente ao tráfico de drogas, mas enaltecer o bom trabalho dos agentes públicos no impedimento de que entorpecentes cheguem ao Estado de São Paulo.
O Comprova procurou a Prefeitura de São Gonçalo, a Secretaria de Estado de Segurança Pública do Rio de Janeiro, a Polícia Militar e a Polícia Civil, mas não obteve retorno até a publicação deste texto.
Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova
A autora da publicação afirma que é advogada e se apresenta em seu perfil como americana e judia, além de “empreendedora patriota a favor da paz”. Em sua conta no X e no Instagram, além de seu canal no YouTube, compartilha vídeos em apoio a Israel e com críticas a Lula e à esquerda.
Até 6 de novembro, o post somava mais de 217 mil visualizações, 10 mil curtidas, 4 mil compartilhamentos e 674 comentários.
A autora do post foi procurada pelo Comprova, mas não retornou à mensagem enviada até a publicação deste texto.
Por que as pessoas podem ter acreditado
O conteúdo busca gerar desinformação por meio de um conteúdo político e emocional ao associar a imagem de Lula ao tráfico da região, em um momento onde há grande repercussão social devido à megaoperação no Rio de Janeiro.
A principal estratégia utilizada é o apelo à emoção, especialmente por meio de linguagem ofensiva e agressiva, voltada a despertar indignação e repulsa, ao sugerir que o presidente estaria ligado com o tráfico de drogas.
A narração do vídeo e a legenda do post tentam estabelecer uma conexão causal entre o presidente e o tráfico, com base somente na presença de sua imagem em uma suposta embalagem de droga, uma forma clássica de conteúdo enganoso, que manipula a interpretação de um elemento isolado e fora de contexto.
O objetivo é instrumentalizar a imagem do presidente para reforçar a narrativa política de que ele apoiaria traficantes. A peça de desinformação ainda estimula a viralização com um pedido para as pessoas fazerem circular ao máximo o vídeo, buscando alavancar a disseminação sem que haja tempo para verificação ou reflexão crítica.
Fontes que consultamos: Verificações e reportagens sobre o assunto e as ferramentas de busca reversa de imagens Google Lens, TinEye, Yandex.
Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova, grupo formado por 42 veículos de imprensa brasileiros para combater a desinformação, monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. O SBT e SBT News fazem parte dessa aliança. Desconfiou da informação recebida? Envie sua denúncia, dúvida ou boato pelo WhatsApp 11 97045-4984.
Outras checagens sobre o tema: Lula e o PT são frequentemente alvos de peças de desinformação que os associam ao tráfico de drogas. O Comprova já mostrou que outra foto de maconha embalada com imagem do petista era verdadeira, mas não tinha ligação com a campanha do PT e que a sigla CPX em boné usado por ele significa complexo e não tem relação com facção.
Investigação e verificação: A Gazeta participou desta investigação. A revisão das informações foi realizada pelos veículos O Dia, UOL e Folha de SP.
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