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Ararinha-azul brasileira está no centro de disputa do zoológico da família mais poderosa da Índia

Arara-azul-de-Spix, declarada extinta desde 2019, foi parar num zoológico particular administrado pela família Ambani

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De acordo com autoridades brasileiras, ararinhas-azuis não tinham autorização para ir para zoológico na Índia | REUTERS/Carla Carniel
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A arara-azul-de-Spix, uma ave azul com rituais de acasalamento elaborados, foi declarada extinta na natureza em 2019. Desde então, um programa de criação em cativeiro reintroduziu algumas das aves em seu habitat nativo no Brasil.

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Há mais de dois anos, autoridades de três continentes vêm se manifestando sobre o motivo pelo qual 26 das criaturas foram parar em um zoológico particular na Índia, administrado pelo braço filantrópico de um conglomerado controlado pela família mais rica da Ásia, os Ambanis. + Brasil ultrapassa marca de 1,6 mil mortes por dengue em 2025

Investigadores indianos inocentaram o santuário de qualquer irregularidade nesta semana, mas autoridades europeias afirmam que estão vigiando de perto todas as exportações para o zoológico Vantara. No Brasil, Alemanha e Índia estão trabalhando para encontrar uma possível solução em um órgão administrado pelas Nações Unidas que monitora o comércio de animais selvagens.

O centro de resgate e reabilitação de animais Vantara, no Estado de Gujarate, afirma abrigar cerca de 2.000 espécies. No ano passado, o local foi destaque nas comemorações pré-casamento do líder do centro, Anant Ambani, o filho mais novo do bilionário Mukesh Ambani, cujos convidados incluíam Ivanka Trump e Mark Zuckerberg.

O zoológico, adjacente a uma refinaria de petróleo operada pela Reliance Industries dos Ambanis, foi inaugurado em março pelo primeiro-ministro indiano, Narendra Modi. + Homem de 32 anos morre após andar em montanha-russa nos EUA

Comércio de aves

Uma análise da Reuters de 2.500 registros alfandegários disponíveis comercialmente mostra que, desde 2022, o centro de vida selvagem importou uma variedade extraordinária de espécies exóticas de países como África do Sul, Venezuela, República Democrática do Congo e Emirados Árabes Unidos.

A carga se assemelha a uma Arca de Noé moderna: 2.896 cobras, 1.431 tartarugas, 219 tigres, 149 chitas, 105 girafas, 62 chimpanzés, 20 rinocerontes e dezenas de répteis, incluindo lagartos de cauda espinhosa e camaleões velados.

As remessas foram registradas com um valor declarado de US$9 milhões, o que, segundo um porta-voz do Vantara, refletia os custos de frete e seguro, e não os pagamentos pela vida selvagem.

"Não se trata de transações comerciais de animais", disse o porta-voz. "Nunca houve qualquer contrapartida comercial paga por qualquer animal transferido para o Vantara."

Em agosto, a Suprema Corte da Índia ordenou que os investigadores examinassem se as aquisições e o tratamento de animais pelo Vantara estavam em conformidade com as leis indianas e com a Comércio Internacional das Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção (Cites). O tribunal disse esta semana que os investigadores não encontraram nenhuma ilegalidade.

Aves não poderiam ir para a Índia

O parque adquiriu as ararinhas-azuis em 2023 da Associação para a Conservação de Papagaios Ameaçados (ACTP), uma organização sem fins lucrativos da Alemanha. A ACTP fez uma parcerira com autoridades brasileiras para criar as aves, de acordo com registros alfandegários, autoridades brasileiras e documentos do Cites. + Terremoto de magnitude 7,8 atinge a Rússia e gera alerta de tsunami

A viagem dos animais está detalhada em um documento de entrada na alfândega visto pela Reuters, que mostra que as aves foram transportadas de Berlim para Ahmedabad em 4 de fevereiro de 2023, com custos, seguro e frete no valor de US$969 por arara, totalizando US$25.194. Impostos alfandegários e taxas locais de US$19.000 foram dispensados em linha com a prática indiana.

O Brasil afirma que não consentiu com a passagem dos papagaios para a Índia e manifestou sua preocupação nas reuniões do Cites.

"O zoológico Vantara ainda não aderiu ao Programa de Manejo Populacional da Ararinha-azul, condição fundamental para o envolvimento oficial dessa instituição no esforço de conservação da espécie", disse o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, órgão do governo brasileiro, à Reuters por email em 8 de setembro. "No momento, não há instituições indianas participando do Programa, de modo que não há razão para o envio de ararinhas-azuis para a Índia."

O Brasil encerrou seu acordo com a ACTP no ano passado, dizendo que o grupo havia enviado as araras Spix para outros países em "transações comerciais" sem o consentimento brasileiro. A organização sem fins lucrativos negou anteriormente que a transferência dos papagaios fosse de natureza comercial; ela não respondeu a um pedido de comentário.

O porta-voz do Vantara disse à Reuters que a transferência das ararinhas foi "totalmente legal, não comercial e realizada como um acordo de reprodução de conservação com a ACTP". A Autoridade Central de Zoológicos da Índia não respondeu a perguntas.

O Ministério Federal do Meio Ambiente da Alemanha afirmou à Reuters que havia liberado a transferência das ararinhas para o Vantara em 2023 de "boa fé", mas não consultou o Brasil na época. + Casal Macron deve apresentar evidências em tribunal dos EUA para provar que Brigitte nasceu mulher

No ano passado, após consultar as autoridades brasileiras, a Alemanha rejeitou um pedido de nova transferência das ararinhas Spix para o Vantara, alegando que o zoológico "não era participante" do programa de controle populacional da espécie, disse um porta-voz do ministério.

"Essa decisão está atualmente sujeita a procedimentos legais", acrescentou o porta-voz, recusando-se a entrar em detalhes.
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