Boris Johnson pede desculpas por sofrimento durante pandemia de Covid-19
Ex-premiê britânico admitiu erros de governança e afirmou que inicialmente não acreditou no "potencial" da doença
Camila Stucaluc
O ex-primeiro-ministro do Reino Unido Boris Johnson disse, nesta 4ª feira (6.dez), "lamentar profundamente" o sofrimento da população durante a pandemia de Covid-19, afirmando que poderia ter se esforçado mais para evitar a perda de vidas para a doença. O depoimento foi dado no inquérito da Covid-19, que apura a gestão britânica na crise sanitária.
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Na declaração, Johnson assumiu a responsabilidade por todas as decisões que foram tomadas durante a pandemia, dizendo entender "a raiva do público". "Posso dizer que entendo os sentimentos das vítimas e de suas famílias, e lamento profundamente. Havia coisas que poderíamos ter feito de forma diferente? Inquestionavelmente", disse.
O ex-premiê admitiu ainda que a má gestão no início da pandemia foi porque ele e alguns funcionários do governo não acreditaram totalmente no "potencial" da Covid-19 e nas previsões científicas sobre as possíveis mortes pela doença. Nas palavras de Johnson, se o grupo tivesse acreditado nas previsões, poderia ter operado de forma diferente.
O inquérito da Covid-19 vem ouvindo testemunhas sobre a forma como Johnson lidou com a pandemia, incluindo a relutância do ex-premiê em implementar lockdowns no país. Na última semana, o então ministro da Saúde, Matt Hancock, disse ter sido alertado sobre a Covid-19 em janeiro de 2020 e que uma ação mais rápida do governo teria poupado um número significativo de vítimas.
Na sessão de hoje, Johnson foi questionado sobre a declaração de Hancock e respondeu que não se lembrava de ter conversado muito com o então ministro sobre o assunto. Segundo ele, a possibilidade de uma pandemia de Covid-19 não era algo que realmente "quebrasse o mundo político" ou que fosse considerado como um desastre em potencial.
O Reino Unido teve um dos surtos de Covid-19 mais letais do mundo, com cerca de 230 mil mortes relacionadas ao vírus. As famílias de vítimas e a oposição afirmam que as decisões e ações dos políticos da época contribuíram para muitas mortes desnecessárias.
A pressão contra Boris Johnson se intensificou em janeiro de 2022, quando jornais britânicos divulgaram a realização de festas e reuniões na sede do governo durante vários estágios do período de lockdown. No total, há a suspeita de que 12 festas tenham sido organizadas em Downing Street, burlando as restrições sanitárias.
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Após o episódio, a polícia abriu uma investigação para apurar a participação do ex-premiê nas atividades relatadas. Durante a apuração, ele precisou passar por uma votação no Parlamento para continuar no cargo, ganhando por 211 votos contra 148. Em julho, no entanto, outros escândalos fizeram com que Johnson renunciasse ao cargo de primeiro-ministro.