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Argentina vai às urnas escolher novo presidente; entenda como as eleições impactam o Brasil

Neste domingo (19.nov), o atual ministro da Economia, Sergio Massa, e o ultraliberal Javier Milei disputam a presidência

Argentina vai às urnas escolher novo presidente; entenda como as eleições impactam o Brasil
Montagem em que foto de Sérgio Massa aparece ao lado de foto de Javier Milei. Imagem: Reprodução/Instagram
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Os eleitores da Argentina vão às urnas neste domingo (19.nov) para eleger o novo presidente do país. O segundo turno das eleições argentinas reúne o atual ministro da Economia, Sergio Massa (Unión por la Patria) e o economista ultraliberal Javier Milei (La Liberdad Avanza), que disputam um mandato de quatro anos. No primeiro turno, Massa teve uma vantagem de 36,6% contra 29,9% dos votos válidos sobre Milei.

Não bastasse a crise financeira, a Argentina passa também por um cenário político polarizado. Diante disso, há um interesse internacional quanto ao resultado, inclusive por parte do Brasil.

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Contexto: o interesse brasileiro nas eleições argentinas não é de se estranhar, visto que as relações entre Brasil e Argentina vão além da rivalidade esportiva. Como explica Roberto Goulart Menezes, professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e Coordenador do Núcleo de Estudos Latino-Americanos, a partir da década de 1985, houve um período de maior aproximação entre as nações, uma vez que ambas atravessavam o processo de redemocratização após violentas ditaduras.

Daí em diante, a diplomacia brasileira-argentina "sempre foi de cooperação", nas palavras de Gilberto Maringoni, professor de relações internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC) e coordenador do Observatório de Política Externa Brasileira (OPEB). A fim de exemplificação, os docentes citam a data de 30 de novembro, instituída como o "Dia da Amizade Argentino-Brasileira" quando os presidentes Raúl Alfonsín e José Sarney, em 1985, selaram o tratado que lançou a ideia de integração econômica e política entre os países.

A partir disso, em 1991, há a criação do Mercosul (Mercado Comum do Sul), bloco econômico com Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai, Venezuela (suspensa) e estados associados como Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Peru e Suriname.

O presidente da Argentina, Alberto Fernández, ao lado do presidente Lula | Ricardo Stuckert / PR

Impacto econômico: soma-se ao contexto histórico-social, a questão econômica, uma vez que a Argentina é o terceiro maior parceiro comercial do Brasil, ficando atrás somente de China e Estados Unidos. Enquanto para o país vizinho, a bandeira verde e amarela representa também seu maior parceiro comercial.

Os "hermanos" são também um dos maiores fornecedores de produtos aos brasileiros. Dessa forma, é mais interessante ao Brasil que a Argentina tenha uma economia forte. "A Argentina é, dentro do cenário sul-americano, central para qualquer iniciativa brasileira", explica Andrea Ribeiro Hoffman, professora do Instituto de Relações Internacionais da PUC-RIO.

Ribeiro Hoffman acrescenta que os interesses estão relacionados, também, à questão de investimentos, colaboração no âmbito multilateral e relevância do Brasil no projeto de integração regional. 

A melhora econômica não só da Argentina, mas de outros parceiros sul-americanos do Brasil pode auxiliar a movimentação brasileira para se consagrar como liderança do bloco.

A professora cita que o país de Messi pode contribuir com o Brasil no âmbito da ONU, por exemplo. "Ela [a Argentina] é importante não só pela cooperação na região, mas também na coordenação de políticas no âmbito bilateral", finaliza.

É compreensível, então, o motivo de Fernando Haddad, ministro da Fazenda, afirmar que acompanha as eleições argentinas "com interesse".

Sérgio Massa, ministro da Economia e candidato à presidência da Argentina, em encontro com Lula e Haddad, ministro da Fazenda | Ricardo Stuckert / PR

Milei vs Massa
Haddad não é o único preocupado com as eleições argentinas. Na verdade, o futuro das relações com a Argentina "preocupa, e muito, diferentes setores", elucida Goulart Menezes. Isso porque Javier Milei, candidato do partido La Libertad Avanza, ameaça romper parcerias com o Brasil, o que, segundo o professor de relações internacionais, seria um "grande desastre para o Brasil, por isso a importância histórica dessa eleição".

Javier Milei assusta o atual governo brasileiro. Tal qual Bolsonaro, ele alega fraude nas votações e, se eleito, não pretende trabalhar pela integração sul-americana. "O que é justamente um desalinhamento", afirma a professora da PUC-RIO.

A especialista acrescenta que "o que tem chamado atenção nessas eleições argentinas, é, justamente, um novo movimento". Ela diz isso por acreditar que a postura de Milei não é a de um político tradicional.

Milei tem propostas polêmicas, como o fim do Banco Central, restringir relações com a China, dolarizar a economia, é contrário ao aborto (já legalizado na Argentina) e a favor do armamento da população.

Javier Milei se apresenta como um candidato anti-política | Reprodução/Instagram

"Milei é de extrema-direita e defende em sua plataforma o fim das políticas públicas. É uma ruptura com o contrato social", declara o Goulart Menezes.

Se Milei representa um político não tradicional, Sérgio Massa é "mais do mesmo". Ele é do partido Union por La Patria, que tem o maior número de senadores e deputados eleitos. Ele é o atual ministro da economia e nos bastidores conta com o apoio político do presidente Alberto Fernandéz e da ex-presidente Cristina Kirchner.

Polarização
Mesmo com perfis tão distintos, Milei e Massa disputam o segundo turno praticamente empatados. No primeiro turno, Massa recebeu 36,6% dos votos e Milei 29,9%, a terceira colocada, Patricia Bullrich, ficou com 23,83% e já anunciou apoio a Milei.

Os professores Gilberto Maringoni e Andrea Ribeiro Hoffman comparam essa polarização com o cenário das eleições no Brasil em 2018. "Havia um campo democrático que se agrupou em torno de Fernando Haddad e um campo de extrema-direita golpista que se organizou em torno de Bolsonaro, o Javier Milei, coloca claramente uma destruição do Estado [como Bolsonaro]", explica Maringoni.

O docente, entretanto, faz uma ressalva sobre essa semelhança: "o Milei é muito mais um fenômeno individual, um outsider anti-política do que de uma tendência de extrema-direita como aconteceu aqui no Brasil a partir de 2018".

O que muda para o Brasil
De acordo com o estudioso Gilberto Maringoni, as tendências de cada possível governo são "quase opostas". 

Goulart Menezes defende que "caso Massa seja eleito, as relações não terão muitas mudanças e o Brasil buscaria renovar a parceria estratégica com a Argentina. Por outro lado, a eleição do Milei representa uma ruptura com o Brasil".

Essa ruptura por parte de Milei, no entanto, não significa um afastamento total. "Isso não significa que todos os atores da sociedade civil da Argentina vão se afastar também. Pelo contrário. Podem ver, inclusive, solidariedade mútuas que é se intensificam nesse momento", finaliza Andrea Ribeiro Hoffman.
 

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