O desafio de Charles ao substituir a rainha mais popular da história

Monarca com o reinado mais longevo, Elizabeth II deixa um legado difícil de ser superado

Giovanna Colossi

06/05/2023 às 05h36 • Atualizado 31/10/2023 às 15h20

Em 70 anos de reinado, a rainha Elizabeth II participou das mudanças na geopolítica internacional, assistiu à ascensão da globalização e foi acompanhada por 15 primeiros-ministros, Liz Truss foi a última. Houve 14 presidentes dos Estados Unidos durante o seu reinado e, com exceção do presidente Johnson (1963-1969), a monarca conheceu cada um deles. Em 1986, tornou-se a primeira monarca britânica a visitar a China e também foi a primeira a discursar na Câmara do Congresso norte-americano.

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Além disso, Elizabeth quebrou protocolos existentes na monarquia e conquistou o coração dos ingleses e milhões de fãs ao redor do mundo. Com uma biografia tão extensa, a rainha, que morreu em setembro do ano passado, aos 96 anos, deixa um legado difícil de ser superado. Coroado neste sábado (6.mai), Charles III herdará não só a coroa, mas o desafio de fazer jus aos feitos da mãe.

O primeiro desafio do novo rei será superar a sua impopularidade. Em uma pesquisa recente do YouGov, Charles apareceu somente como o quarto membro (59%) mais querido da monarquia, atrás da sua irmã, a princesa Anne (72%), seu filho William (72%), e a nora Kate Middleton (71%). Outro dado preocupante é o desinteresse dos jovens pela monarquia. Enquanto o apoio à coroa é de 79% a 15% entre maiores de 65 anos, os britânicos mais jovens estão divididos, apenas 36% querem manter a monarquia em comparação com 42% que querem apenas um chefe de Estado eleito.

Árvore genealógica da Família Real | Reprodução/AFP

Outro ponto contra Charles é a atual crise política e econômica no país. Com a inflação acima de 10%, a coroação para mais de 2 mil convidados - bem mais enxuta do que a coroação da mãe, com 8 mil pessoas presentes e três horas de duração -, paga pelo governo britânico, é reprovada por 51% (YouGov) da população.

Contudo, o monarca pode usar uma paixão de longa data para superar tamanha hostilidade: o seu amor pelas questões ambientais, desde o combate às mudanças climáticas até a biodiversidade. Tachado de maluco por admitir que falava com plantas e defendia a agricultura orgânica, e por ser dono de um carro Aston Martin que utiliza biocombustível de sobras de vinho branco inglês e soro de queijo, o rei Charles III incluiu símbolos da natureza e ecologia em sua cerimônia de coroação no sábado (6.mai).

Pela primeira vez, coroas serão recicladas e não produzidas do zero para uma coroação. O monarca de 74 anos também autorizou que tiaras de diamante fossem substituídas por tiaras de flor e mandou distribuir 200 mil pacotes de sementes em escolas primárias do país para que as crianças plantem em seus jardins. Somente nos últimos 80 anos, o Reino Unido perdeu 98% de seus habitats de flores silvestres.

A questão do meio ambiente, inclusive, é apontada como de extrema importância pela maioria da população. Em pesquisa feita pelo YouGov em novembro de 2022, um pouco antes da conferência de mudanças climáticas COP27, no Egito, mais de dois terços da população britânica (67%) afirmou estar preocupada com as mudanças climáticas e seus efeitos, 62% acham que só seria possível evitar os piores impactos das mudanças climáticas com uma "mudança drástica" nas medidas já tomadas.