Entenda o Relógio do Juízo Final, que alerta o mundo sobre risco de apocalipse
Desde 3ª feira (24.jan), o Relógio marca faltarem 90 segundos para o fim dos tempos
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Guilherme Resck
Assunto que chamou a atenção dos internautas nesta semana, o Relógio do Juízo Final é um projeto que alerta as pessoas, com uma metáfora, sobre o quão próximo a humanidade está de destruir o mundo com tecnologias perigosas criadas por ela própria. Ele consiste em uma figura representando parte de um relógio, na qual os ponteiros podem variar de pouco antes de 23h45 (15 minutos para a meia-noite) a meia-noite, dependendo de quão grande é o risco de destruição mundial. Quanto maior a probabilidade, mais próximo das 24h são posicionados.
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Tem o objetivo, portanto, de fazer as pessoas lembrarem de perigos que os humanos devem enfrentar se quiserem sobreviver na Terra. A responsabilidade de alterar os ponteiros, ou seja, de determinar em qual patamar está a chance de ocorrer o fim dos tempos provocado pela humanidade é do Conselho de Ciência e Segurança da organização sem fins lucrativos Boletim dos Cientistas Atômicos.
O grupo é integrado por cientistas e outros especialistas "com profundo conhecimento em tecnologia nuclear e ciência do clima". Ele se reúne duas vezes por ano para discutir os eventos mundiais e, com base na discussão, reajustar o Relógio. Para fazer a alteração, os integrantes também ouvem colegas em várias disciplinas e buscam opiniões do Conselho de Patrocinadores, que possui dez ganhadores do Prêmio Nobel.
O que é o Boletim dos Cientistas Atômicos?
É uma organização independente e sem fins lucrativos, criada nos Estados Unidos, em 1945, cuja missão é fornecer "ao público, formuladores de políticas e cientistas as informações necessárias para reduzir as ameaças feitas pelo homem à nossa existência". Ela publica conteúdos online e em uma revista acadêmica homônima, que substituiu, em 1947, o boletim informativo da organização.
Foi criada por um grupo de cientistas "que viram a necessidade imediata de um acerto de contas público após os bombardeios atômicos de Hiroshima e Nagasaki". "Uma missão era instar colegas cientistas a ajudar a moldar a política nacional e internacional. Uma segunda missão era ajudar o público a entender o que os atentados significavam para a humanidade", fala o Boletim.
A organização reúne uma parte diversificada das vozes mais informadas e influentes "que rastreiam ameaças feitas pelo homem" e apresenta o pensamento delas ao público global.
Quando foi criado e quem criou o Relógio do Juízo Final?
Ele foi criado em 1947 pela artista norte-americana Martyl Langsdorf. O coeditor Hyman Goldsmith da revista do Boletim dos Cientistas Atômicos pediu a ela que elaborasse um design para a capa da primeira edição da publicação. Num primeiro momento, ela pensou em usar o símbolo do urânio. Porém, sendo casada com o físico Alexandre Langsdorf, que trabalhou no Projeto Manhattan, o programa de pesquisa e desenvolvimento que produziu as primeiras bombas atômicas na Segunda Guerra Mundial, ela ouviu os cientistas que trabalharam na tecnologia debatendo as consequências desta e a responsabilidade deles de informar as pessoas. Assim, sentiu a urgência do grupo e, então, criou a figura de um relógio para sugerir não haver muito tempo para a humanidade controlar as armas atômicas.
Que horas o Relógio original exibia?
A artista Martyl Langsdorf o criou marcando 23h53, ou seja, faltando sete minutos para a meia-noite, porque aos seus olhos "parecia bom".
Quem define o horário do Relógio?
Até falecer, em 1973, o editor do Boletim, Eugene Rabinowitch, decidia se os ponteiros da figura deveriam ser alterado. Rabinowitch era um cientista, fluente em russo e líder do movimento internacional de desarmamento. Constantemente conversava com cientistas e especialistas, de dentro ou de fora dos governos, em várias partes do mundo. Ele usava essas discussões como base para decidir qual horário o Relógio do Juízo Final deveria exibir e explicava os motivos do reajuste nos ponteiros nas páginas da revista Boletim dos Cientistas Atômicos.
Quando faleceu, o Conselho de Ciência e Segurança assumiu a responsabilidade de definir o horário do Relógio. Desde então, faz reunião duas vezes por ano para discutir os eventos mundiais e, com base na discussão, reajustar o Relógio.
Como o horário é definido?
O Boletim dos Cientistas Atômicos ressalta que o Relógio do Juízo Final "não é uma ferramenta de previsão" e, com ele, não estão prevendo o futuro. "Em vez disso, estudamos eventos que já ocorreram e tendências existentes. Nosso Conselho de Ciência e Segurança rastreia números e estatísticas - observando, por exemplo, o número e os tipos de armas nucleares no mundo, as partes por milhão de dióxido de carbono na atmosfera, o grau de acidez em nossos oceanos e a taxa de elevação do nível do mar. O conselho também leva em conta os esforços dos líderes e cidadãos para reduzir os perigos e os esforços das instituições - sejam governos, mercados ou organizações da sociedade civil - para cumprir os acordos negociados", pontua.
Quando uma mudança no horário é feita, o Boletim dos Cientistas Atômicos divulga uma declaração explicando os motivos de ter sido feito o reajuste.
Quantas vezes o horário foi reajustado?
O Relógio teve seu horário reajustado 25 vezes desde a estreia, em 1947.
Quando os ponteiros foram movidos pela primeira vez?
Em 1949, após a União Soviética testar com sucesso sua primeira bomba atômica. Naquele ano, o Relógio passou a marcar faltarem três minutos para meia-noite.
Quando os ponteiros ficaram mais próximo da meia-noite?
Na última alteração; desde 3ª feira (24.jan), o Relógio marca faltarem 90 segundos para a meia-noite. Ele foi reajustado de 100 segundos para 90, em grande parte, por causa da invasão russa à Ucrânia e o crescimento do risco de escalada nuclear.
Quando os ponteiros ficaram mais distante da meia-noite?
Em 1991. Naquele ano, o Conselho de Ciência e Segurança do Boletim dos Cientistas Atômicos definiu o horário em 17 minutos para meia-noite. Isso porque, após o fim da Guerra Fria, os Estados Unidos e a União Soviética assinaram o Tratado de Redução de Armas Estratégicas, primeiro tratado prevendo grandes reduções nos arsenais de armas nucleares estratégicas das duas nações.
O design do Relógio já foi alterado?
Sim. Em 2007, o designer gráfico Michael Bierut reinventou a figura. Originalmente, o ponteiro menor era preto, e o maior, branco, assim com os pontos dos minutos. Desde 2007, os dois ponteiros e os pontos dos minutos são pretos.
É possível visitar o Relógio do Juízo Final?
Sim. Desde fevereiro de 2019, é possível encontrar uma versão da figura em um painel, nos escritórios do Boletim dos Cientistas Atômicos na Universidade de Chicago.