Conheça a história do Talibã e o que esperar do governo no Afeganistão
Formado em 1994, grupo extremista volta ao poder após quase 20 anos de guerra com os Estados Unidos
SBT News
Países do mundo inteiro entraram em estado de alerta após o grupo extremista Talibã voltar a controlar o governo do Afeganistão no último domingo (15.ago), após 20 anos longe do poder. Os confrontos ocorreram principalmente devido à retirada gradual das tropas militares norte-americanas do país, que invadiram o território em 2001 depois dos ataques de 11 de setembro com o intuito de evitar futuras atividades terroristas.
Apenas em pouco mais de uma semana, o grupo fundamentalista islâmico conquistou diversas cidades pelo país até chegarem na capital, Cabul, e ocuparem o palácio presidencial -- oficializando, assim, a volta ao poder.
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História do Talibã
A organização foi formada em 1994 por ex-combatentes da resistência afegã que lutaram contra as forças invasoras soviéticas na década de 1980. O grupo, que é considerado extremista da religião islâmica, tomou o poder do Afeganistão em 1996, após conquistarem a capital, Cabul, e permaneceram no comando até 2001.
Mesmo com o antigo governo sendo islâmico, os integrantes do grupo viam as leis de maneira diferente da grande maioria dos mulçumanos e estabeleceram um regime mais rígido. Muitas das regras se voltavam às mulheres, que não tinham o direito de frequentar escolas e não podiam trabalhar, além de serem obrigadas a usar burcas -- vestimenta que cobre o corpo inteiro incluindo os olhos. Televisão, música e feriados não islâmicos também foram proibidos e o sistema judicial era realizado através de execuções públicas, apedrejamento e chicotadas. Na época, o governo Talibã foi reconhecido como legítimo por apenas três nações: Emirados Árabes, Arábia Saudita e Paquistão.
Tudo mudou após os ataques terrorista de 11 de setembro de 2001, quando 19 homens sequestraram quatro aviões comerciais nos Estados Unidos e lançaram dois nas torres de World Trade Center (Torres Gêmeas), em Nova York, um no Pentágono, em Washington, e outro na Pensilvânia, matando cerca de 2.700 pessoas.
O atentado foi orquestrado pelo líder do grupo radical islâmico Al-Qaeda, Osama bin Laden, que operava de dentro do Afeganistão. Poucas semanas depois dos ataques, as tropas militares dos Estados Unidos e as forças aliadas invadiram o território afegão, com objetivo de capturar os responsáveis pelos atentados e impedir o Talibã de fornecer um porto seguro para integrantes da AI-Qaeda, além de evitar futuras ações terroristas. Mesmo assim, o Talibã continuou a reunir membros e a planejar combates contra as forças aliadas e o governo afegão.
Em fevereiro de 2020, o então presidente dos Estados Unidos Donald Trump firmou um acordo com o Talebã para a retirada das tropas militares norte-americanas do Afeganistão com a premissa de o grupo extremista não atacar os integrantes das forças internacionais. A saída das tropas foi adiada, mas, quando tomou posse em janeiro deste ano, Joe Biden declarou que daria continuidade e cumpriria o acordo já estabelecido.
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O que pode acontecer com o Afeganistão?
A única referência que temos do governo Talibã foi o da época de 1996, quando a Sharia (lei religiosa) em suas formas mais estritas estava em vigor no país. No entanto, com apenas dois dias de comando, os cidadãos locais já sentem as mudanças e sofrem com a incerteza de uma vida livre e segura.
Mulheres voltaram a usar as burcas, cobrindo até os olhos, professores se despediram de suas alunas e muitas funcionárias se demitiram de seus empregos. No domingo (15.ago), homens cobriram com tinta as imagens de mulheres pintadas em um muro na capital.
It begins.
? Nishank Motwani (@NishankMotwani) August 15, 2021
Women will be invisible again, silenced, and won't be able to breathe anymore. https://t.co/boliB0iE5X
A ganhadora do prêmio Nobel da Paz, Malala Yousafzai, expressou sua preocupação com as mulheres afegãs. Pelas redes sociais, a ativista pediu ajuda humanitária para o país ressaltando que "as potências globais, regionais e locais devem exigir um cessar-fogo imediato, fornecer ajuda humanitária urgente e proteger refugiados e civis".
We watch in complete shock as Taliban takes control of Afghanistan. I am deeply worried about women, minorities and human rights advocates. Global, regional and local powers must call for an immediate ceasefire, provide urgent humanitarian aid and protect refugees and civilians.
? Malala (@Malala) August 15, 2021
Em declaração à BBC, o porta-voz do grupo extremista, Suhail Shaheen, afirmou que o Talibã não se vingará dos residentes e pretende manter os direitos das mulheres, apesar dos relatos registrados. Segundo ele, as propriedades e a vida da população estão asseguradas, principalmente no que tange aos residentes de Cabul. Shaheen afirma ainda que a liberdade para os profissionais de mídia e diplomatas também será mantida.
Para os próximos dias, os líderes do G7 devem realizar uma reunião virtual para discutir a situação no Afeganistão. Segundo comunicado de Downing Street, o primeiro-ministro britânico Boris Johnson e o presidente francês Emmanuel Macron concordaram que as nações devem trabalhar juntas com o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas para garantir "uma abordagem unificada" e "resolução conjunta" para a situação.