Mundo
A América Latina ignorada nas eleições dos Estados Unidos
Propostas de Donald Trump e Joe Biden pouco abordam questões de interesse dos países latino-americanos
Thiago Ferreira
• Atualizado em
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A corrida pela Casa Branca entrou na reta final dominada, basicamente, por três temas: as mais de 230 mil mortes provocadas pelo novo coronavírus no país, a queda no PIB norte-americano em consequência da pandemia e os protestos contra o racismo e a violência policial contra afro-americanos em várias cidades. A questão da imigração, assunto central do pleito de 2016 entre o mesmo Donald Trump e Hillary Clinton, vem recebendo menos destaque, assim como possibilidades de tratados e acordos comerciais com países da região.
"Qualquer que seja o resultado da eleição, a América Latina continuará sendo uma prioridade muito baixa na política externa dos Estados Unidos", afirma Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil em Washington entre 1999 e 2004. Em caso de uma vitória democrata, as relações dos norte-americanos com a Venezuela poderão sofrer mudanças. O apoio inicialmente entusiasmado de Donald Trump ao autoproclamado presidente venezuelano Juan Guaidó e o endosso dos Estados Unidos à criação, em 2017, do chamado "Grupo de Lima", formado por chanceleres de países da América Latina contrários ao governo de Nicolás Maduro, foram alguns dos fatores que acirraram as relações.
"Se o Biden ganhar vai haver uma nova atitude, não só em relação à Venezuela, mas também à Cuba. Vai haver menos tensão e menos pressão sobre esses dois países. Isso enfraquece a posição do Brasil, que é uma posição de confrontação em relação ao comunismo em geral, à China, à Cuba e à Venezuela. Se o Trump ganhar vai continuar a pressão sobre esses países e, dependendo da evolução dos acontecimentos, Trump é capaz até de querer tomar uma medida ainda mais radical em relação à Venezuela -- o que coloca em xeque também a posição brasileira, que até aqui tem sido contra qualquer invasão, qualquer ação militar contra a Venezuela", analisa Barbosa.
Mas ao menos um ponto, que é a influência crescente da China na América Latina, preocupa ambos os candidatos. Para Rubens Barbosa, independente do resultado da eleição, a disputa comercial entre as duas principais potências econômicas mundiais vai continuar. "Se o Trump vencer, vai fortalecer aqui no Brasil o posicionamento daqueles que acham que o país deverá continuar alinhado aos Estados Unidos e vetar uma empresa chinesa no desenvolvimento de tecnologia 5G. Em caso de vitória do Biden, a confrontação econômica, comercial e tecnológica vai permanecer, mas não será tão agressiva porque o Biden vai procurar formas de cooperação. Com isso, fortalece aqueles que defendem, como eu, que o Brasil decida sobre o 5G de maneira independente, de acordo com os seus interesses, sem levar em conta ideologia ou a geopolítica."
"Qualquer que seja o resultado da eleição, a América Latina continuará sendo uma prioridade muito baixa na política externa dos Estados Unidos", afirma Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil em Washington entre 1999 e 2004. Em caso de uma vitória democrata, as relações dos norte-americanos com a Venezuela poderão sofrer mudanças. O apoio inicialmente entusiasmado de Donald Trump ao autoproclamado presidente venezuelano Juan Guaidó e o endosso dos Estados Unidos à criação, em 2017, do chamado "Grupo de Lima", formado por chanceleres de países da América Latina contrários ao governo de Nicolás Maduro, foram alguns dos fatores que acirraram as relações.
"Se o Biden ganhar vai haver uma nova atitude, não só em relação à Venezuela, mas também à Cuba. Vai haver menos tensão e menos pressão sobre esses dois países. Isso enfraquece a posição do Brasil, que é uma posição de confrontação em relação ao comunismo em geral, à China, à Cuba e à Venezuela. Se o Trump ganhar vai continuar a pressão sobre esses países e, dependendo da evolução dos acontecimentos, Trump é capaz até de querer tomar uma medida ainda mais radical em relação à Venezuela -- o que coloca em xeque também a posição brasileira, que até aqui tem sido contra qualquer invasão, qualquer ação militar contra a Venezuela", analisa Barbosa.
Mas ao menos um ponto, que é a influência crescente da China na América Latina, preocupa ambos os candidatos. Para Rubens Barbosa, independente do resultado da eleição, a disputa comercial entre as duas principais potências econômicas mundiais vai continuar. "Se o Trump vencer, vai fortalecer aqui no Brasil o posicionamento daqueles que acham que o país deverá continuar alinhado aos Estados Unidos e vetar uma empresa chinesa no desenvolvimento de tecnologia 5G. Em caso de vitória do Biden, a confrontação econômica, comercial e tecnológica vai permanecer, mas não será tão agressiva porque o Biden vai procurar formas de cooperação. Com isso, fortalece aqueles que defendem, como eu, que o Brasil decida sobre o 5G de maneira independente, de acordo com os seus interesses, sem levar em conta ideologia ou a geopolítica."
Cobertura das eleições dos Estados Unidos no SBT News:
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