Policiais da Rota viram réus por assassinato cometido na Operação Escudo
Agentes são acusados por homicídio qualificado e obstrução de provas na primeira das 28 mortes na Baixada Santista
Simone Queiroz
A Justiça tornou réus mais dois agentes da Rota por homicídio qualificado e obstrução de provas na primeira das 28 mortes cometidas por agentes de segurança durante a Operação Escudo, na Baixada Santista.
Os dois policiais denunciados fugiram do dever da função e agiram como perigosos criminosos. Foi assim que o Ministério Público de São Paulo descreveu a ação dos PMs que resultou na morte de Fabio Oliveira Ferreira, a primeira das 28 em supostos confrontos com a polícia durante a operação, no ano passado.
O rapaz já estava rendido, quando foi atingido por três tiros disparados pelo capitão Marcos Corrêa de Moraes Verardine. Já com o homem caído, o cabo Ivan Pereira da Silva teria feito mais dois disparos.
A Operação Escudo é apontada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública como uma das razões para o aumento de 19,7% nas mortes decorrentes de intervenção policial em São Paulo em 2023.
A outra explicação para o aumento da letalidade da PM paulista está naquelas que, por definição, deveriam ajudar a coibir os excessos: as câmeras colocadas nos uniformes dos PMs. O problema, na avaliação dos especialistas, é que o governo de Tarcísio de Freitas faz um discurso dúbio, que não coloca a redução da letalidade como um objetivo de estado.
"Ao contrário do que a gente via anteriormente, não fica uma mensagem clara e objetiva em relação à manutenção do programa das câmeras corporais. O que a gente viu em 2023 foram mensagens descasadas, ora pondo em check, ora reforçando, então falta uma mensagem clara para um único sentido", afirma Leonardo Carvalho, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
O especialista lembra que uma investigação séria dos casos coíbe excessos. "A gente precisa fortalecer os mecanismos da Polícia Judiciária, da polícia que investiga todos os casos, e também a gente precisa ter um papel atuante das instituições que fazem controle externo da atividade policial: o Ministério Público".
Mortes em decorrência de intervenção policial
As mortes em decorrência de intervenção policial são uma chaga nacional. Ao longo de 2023, exatamente 6.393 mortes foram classificadas assim. No Distrito Federal e mais 13 estados, os índices aumentaram em um ano, de acordo com apuração do SBT, com base em dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública.
Confira abaixo as maiores altas por região:
- Mato Grosso do Sul: 160,8%
- Santa Catarina: 79,5%
- Paraíba: 41,2%
- Roraima: 40%
- São Paulo: 19,7%