Nova ofensiva militar amplia tensão entre Israel, Síria e Líbano e agrava crise política de Netanyahu
Ataques em Damasco, conflitos étnicos e perda de apoio político colocam Israel em novo patamar de instabilidade
Flavia Travassos
Ivan Flávio
Leonardo Vieira
Pedaços de parede pelo chão, vidros estilhaçados e, do lado de dentro, tudo destruído. Assim ficou um prédio em Haifa, no norte de Israel, após ser atingido por um míssil há menos de um mês, durante a guerra com o Irã. A cidade está localizada na região de fronteira com a Síria e o Líbano, uma área que vive sob constante tensão.
Em Zar’it, ainda em território israelense, a equipe de reportagem flagrou caminhões do exército libanês patrulhando a área do outro lado da fronteira, com homens armados.
Poucos quilômetros dali, vive Even Menahem, que recebeu a equipe em sua casa. Segurando pedaços de um míssil, ele contou que, ao ver o projétil cruzando o céu, já consegue prever onde ele vai explodir.
Durante a entrevista, chamou atenção uma bandeira de Israel com o rosto de um jovem. Era um parente de Menahem, um soldado morto em confronto na Faixa de Gaza.
Se ao sul, em Gaza, a tensão de Israel é com o Hamas, no norte, na fronteira com o Líbano, a missão é combater o Hezbollah. E ainda há a crise com a Síria, motivada por disputas territoriais.
Nesta quarta-feira ( briga ganhou novos contornos. Nesta quarta-feira, Israel atacou o território sírio, incluindo a capital Damasco, sob a justificativa de proteger os drusos — uma minoria étnico-religiosa que vive nos dois países.
Um dos alvos foi a sede do Ministério da Defesa da Síria. O bombardeio surpreendeu um repórter da Al Jazeera e a apresentadora de um telejornal da TV estatal, ambos ao vivo no momento da explosão. O quartel-general das Forças Armadas sírias também foi atingido. Segundo o governo local, três pessoas morreram e outras 34 ficaram feridas.
Horas antes, centenas de drusos que vivem em Israel tentaram cruzar a fronteira em direção à Síria, com a intenção de lutar. A crise começou após confrontos com outro grupo étnico, os beduínos, apoiados pelo regime sírio.
Segundo Reda Mansour, ex-embaixador de Israel no Brasil e membro da comunidade drusa, o ataque teve como objetivo evitar um genocídio e combater o avanço do radicalismo no novo governo sírio. Para ele, Israel não pode permitir que grupos jihadistas como os de Gaza ganhem força tão próximos de suas fronteiras.
Ao fim do dia, representantes da comunidade drusa e do governo da Síria anunciaram um cessar-fogo, ainda frágil.
A nova frente de batalha surge num momento delicado para o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Um segundo partido ultraortodoxo deixou sua coalizão, fazendo com que o premiê perdesse a maioria no Parlamento. Isso dificulta ainda mais a governabilidade.
Paralelamente, Netanyahu enfrenta um julgamento por corrupção. A audiência desta quarta-feira foi interrompida antes do previsto por "razões de segurança".
São sinais de que tanto a crise militar quanto a política ainda parecem longe de acabar.