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ENGANOSO: Deputado repete alegações enganosas sobre as vacinas contra covid-19

Confira a verificação realizada pelos jornalistas integrantes do Projeto Comprova

ENGANOSO: Deputado repete alegações enganosas sobre as vacinas contra covid-19
Projeto Comprova/Divulgação
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ENGANOSO: É enganosa a afirmação de que as vacinas contra a covid-19 não reduziram o número de óbitos pela doença e que a responsável pela queda tenha sido a imunidade natural dos infectados. O gráfico utilizado no post verificado registra imunizações a partir de setembro de 2021, mas a campanha começou meses antes, em janeiro, com aplicações de segunda dose já no mês seguinte, em fevereiro. Em junho e julho de 2021, o governo federal confirmou que a campanha de imunização contribuiu para a queda de mortes. Isabella Ballalai, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), destaca que 90% das mortes registradas quando 70% das pessoas haviam sido vacinadas eram de pessoas não imunizadas.

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Conteúdo investigadoPost em que o deputado Osmar Terra (MDB-RS) afirma que "as mortes caíram antes das vacinas terem qualquer impacto". Ele usa um gráfico para ilustrar a afirmação e escreve ainda que "a imunidade natural dos milhões de infectados e curados fez reduzir o número de mortes".

Onde foi publicado: Twitter.

Saiba mais:
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Conclusão do Comprova: É enganoso o post em que o deputado federal Osmar Terra afirma que as vacinas contra a covid-19 não reduziram o número de óbitos pela doença. Em mais uma investida contra os imunizantes, ele escreve, erroneamente, que "a imunidade natural dos milhões de infectados e curados fez reduzir o número de mortes". O Comprova já checou, por exemplo, que ele enganou ao questionar a eficácia deles e ao dizer que expor a população ao vírus é melhor do que vacinação.

Diferentemente do que o deputado afirma no post, as mortes não começaram a cair antes das vacinas terem qualquer impacto. O gráfico usado para ilustrar a desinformação considera imunizações a partir de setembro de 2021, mas a campanha começou antes, em janeiro daquele ano. Um mês depois, já havia locais aplicando a segunda dose, ou dose de reforço.

Inclusive, o governo federal, do qual Terra fez parte até 2020 como ministro, confirmou que a campanha de imunização foi importante para a queda de mortes, conforme publicação da Agência Brasil de 18 de junho de 2021 intitulada "Menos mortes de idosos por covid-19 indicam avanço de vacina".

Um mês depois, em julho de 2021, o governo publicou que o Brasil registrava queda de 40% em casos e óbitos por covid-19 em um mês e que os números eram reflexo "do ritmo da campanha de vacinação contra a doença".

"A vacina foi gradativamente sendo aplicada e refletindo na redução de mortes", afirma Isabella Ballalai, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). "Tanto é que, quando chegamos a mais de 70% dos vacinados, cerca de 90% dos óbitos eram de pessoas não imunizadas no Brasil e no mundo."

Além disso, órgãos de saúde do mundo todo confirmam a eficácia e segurança das vacinas, como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças, dos Estados Unidos.

A Organização Mundial da Saúde (OMS), em seu site, afirma estar começando a ver evidências de que a imunidade após infecção por covid "pode ser forte", mas varia de pessoa para pessoa e que a doença pode matar.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Segundo a ferramenta CrowdTangle, o tuíte teve 2,5 mil interações no Twitter, além de ter sido visualizado 44,7 mil vezes.

Como verificamos: Tentamos, inicialmente, localizar a origem do gráfico a partir da busca reversa de imagens com ferramentas como o TinEye. Em seguida, analisamos dados sobre mortes por covid-19 e vacinação no Brasil em plataformas como Our World in Data e Painel Coronavírus, do Ministério da Saúde. Também consultamos notícias sobre o assunto e publicações nos sites do governo federal e de agências reguladoras mundo afora. Em seguida, entrevistamos Isabella Ballalai, da SBIm. Por fim, procuramos o autor da publicação e o suposto responsável por montar o gráfico.

Mortes caíram com a vacinação

O gráfico publicado por Osmar Terra em 10 de maio apresenta um recorte entre 4 de fevereiro de 2021 e 20 de janeiro de 2022 para mortes e a partir da segunda semana de setembro até a mesma data final para vacinados. Contudo, a campanha começou antes, em janeiro daquele ano. Um mês depois, já havia locais aplicando a segunda dose, ou dose de reforço.

Em resposta a um comentário do post, o político afirmou que as fontes das informações do gráfico são o Open DataSus e o Our World in Data. Uma pesquisa nesta plataforma, filtrando as mesmas datas apresentadas na ilustração do post, apresenta um cenário diferente do defendido por Terra. É possível observar que, conforme aumenta o número de doses aplicadas, as mortes diminuem:

| Captura realizada pelo Comprova em 16/05/2023. Fonte: Our World in Data.

O gráfico utilizado no post verificado foi recortado de outro conteúdo publicado anteriormente por Osmar Terra, em 2022. No post antigo há sobre ele o título "vacinação vs mortes futuras por covid-19", indicando se tratar de uma projeção. Ainda nessa postagem, o político afirma que o gráfico foi produzido pelo professor Bruno Campello, da Universidade Federal de Pernambuco.

A reportagem não identificou o gráfico nas publicações do pesquisador, não conseguindo identificar a data em que o gráfico foi elaborado. O professor foi procurado, mas não respondeu. Ele já teve uma pesquisa sobre lockdown questionada por outros pesquisadores e está entre os responsáveis por um estudo que serviu como base para o TrateCov, aplicativo desenvolvido pelo Ministério da Saúde, associado à oferta de "tratamento precoce". Foram apontadas, ainda, falhas de metodologia na pesquisa.

De acordo com Isabella Ballalai, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações, embora o efeito das vacinas seja rápido, as mortes não começaram a diminuir rapidamente pois a imunização foi lenta. "Houve muito problema de falta de vacina. Até todo mundo ter a primeira dose, demorou", diz ela. Por fim, ela reforça que os dados que Terra apresenta não apresentam nenhuma evidência.

Imunidade natural pode ser forte, mas há riscos à vida

A OMS em seu site, afirma estar começando a ver evidências de que a imunidade após infecção por covid "pode ser forte", mas varia de pessoa para pessoa e que a doença pode matar. Desta forma, a entidade enfatiza ser muito mais seguro se vacinar do que correr o risco de contrair o vírus.

Conforme demonstrado pelo Comprova, a imunidade natural é insuficiente para controlar a pandemia. O médico geneticista Salmo Raskin reforça que, para ocorrer imunidade parcial por infecção natural, o infectado corre risco de morte pela covid, enquanto as vacinas conferem maior imunidade sem esse risco.

Imunizantes têm eficácia e segurança comprovadas

As principais agências reguladoras do mundo atestam a eficiência e a segurança das vacinas para a covid-19. Em abril passado, a Anvisa reforçou que os benefícios de todos os imunizantes aprovados no Brasil superam os possíveis riscos relacionados ao uso desses produtos, acrescentando que a vacinação é a forma mais eficaz de reduzir mortes e doenças graves pela infecção da doença. Conforme o órgão, as doses aplicadas evitaram milhões de hospitalizações e desaceleraram a pandemia no mundo.

A Agência Europeia de Medicamentos (EMA) mantém uma página com dados atualizados sobre a segurança e a efetividade das vacinas aprovadas na Europa e, conforme a entidade, elas foram avaliadas em dezenas de milhares de participantes em ensaios clínicos. O Centros de Controle e Prevenção de Doenças, dos Estados Unidos, também garante a segurança e a eficácia dos imunizantes, destacando que reações graves são raras.

O que diz o responsável pela publicação: Osmar Terra foi procurado, mas sua equipe pediu que a reportagem se comunicasse por meio de comentário no perfil do deputado no Twitter. A repórter respondeu dizendo que não gostaria de se expôr na rede e questionou se o e-mail informado no site da Câmara não era um meio para falar com o deputado. Não houve mais retorno.

O que podemos aprender com esta verificação: São numerososos conteúdos desinformativos voltados à descredibilizar a eficácia e segurança das vacinas contra a covid-19. No caso aqui verificado, o post tenta levar as pessoas a crerem que os imunizantes são inúteis e que a pandemia se resolveria sozinha. Para dar um ar de credibilidade à afirmação, o autor utiliza um gráfico, mas chama a atenção que as informações inseridas na ilustração não condizem com as divulgadas por plataformas que compilam seriamente dados referentes à doença. Além disso, o discurso do tuíte é contrário ao das principais agências reguladoras do mundo, dos governos e de especialistas em saúde.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Como já informado acima, esta não é a primeira postagem na qual Osmar Terra dissemina desinformação sobre vacinas contra a covid-19. O Comprova já demonstrou serem enganosos um post do deputado que questiona a eficácia dos imunizantes e um tuíte no qual ele ignora comorbidades dos pacientes e a alta cobertura vacinal no RS para atacar as vacinas.

Investigação e verificação

Folha e Estadão participaram desta investigação e a sua verificação, pelo processo de crosscheck, foi realizada pelos veículos A Gazeta, O Popular, Grupo Sinos, SBT e SBT News.

Projeto Comprova

Esta reportagem foi elaborada por jornalistas do Projeto Comprova, grupo formado por 41 veículos de imprensa brasileiros, para combater a desinformação. Iniciado em 2018, o Comprova monitorou e desmentiu boatos e rumores relacionados à eleição presidencial. Na quinta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre políticas públicas do governo federal e eleições, além de continuar investigando boatos sobre a pandemia de covid-19. O SBT e SBT News fazem parte dessa aliança.

Desconfiou da informação recebida? Envie sua denúncia, dúvida ou boato pelo WhatsApp 11 97045 4984.

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