Exclusivo: Empresa de carros por assinatura é acusada de golpe milionário
Serviço de locação prometia a devolução de metade do investimento ao final do contrato
SBT News
Clientes afirmam ter sido vítimas de um calote milionário, aplicado por uma empresa de carros por assinatura. O serviço de locação prometia a devolução de metade do investimento ao final do contrato. Além de não receber o valor, os usuários tiveram os veículos apreendidos por oficiais de Justiça. O SBT traz a denúncia com exclusividade.
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O contrato foi fechado com a empresa Easy -- que oferece o serviço de carro por assinatura. Na hora, a proposta agradou a comerciante Thaís Batista Militão: "eles me ofereceram que não ia pagar IPVA, nem seguro, o carro era zero, não tinha manutenção".
Parecia um ótimo negócio. Ela vendeu o carro que tinha e investiu R$ 35 mil para usar o veículo novinho durante quatro anos. A promessa era que, ao final desse período, receberia um reembolso.
"Na hora que coloquei na ponta do lápis daria R$ 17.500 em quatro anos, ele me devolvia metade do valor, então pra mim achei ótimo", diz a vítima.
A nova modalidade de aluguel já existe, é legal e funciona assim: o cliente garante o uso do veículo novo por um período de tempo. No pacote do serviço já estão inclusos gastos com manutenção, IPVA e seguro. A pessoa paga mensalmente, e não recebe valor nenhum ao final do contrato. Diferente do que era oferecido pela Easy.
Um servidor público federal assinou o contrato com firma reconhecida, o que trouxe segurança. Ele investiu R$ 125 mil para ter acesso a umveículo, que havia sido comprado pela Easy através de um consórcio.
"A pessoa foi lá, pegou cotas de consórcio, tirou o carro da concessionária e me repassou o carro, só que ela não continuou pagando as cotas de consórcio", conta.
Depois que descobriu que havia uma dívida, o cliente entrou em contato com a empresa de consórcio e ficou surpreso com a notícia que recebeu. "Ele me falou: 'olha, esse carro já deve ter mais de cinco parcelas em atraso. Ele vai para o que é chamado de cobradora. Quando o juiz manda é uma recuperação judicial. Quando é extraoficial, é uma cobradora'. O efeito prático é o mesmo, alguém vai me abordar na rua, vai me tirar o carro e vai levar embora e eu fico a pé".
Foi o que aconteceu com Thaís. Era um sábado de manhã quando ela recebeu uma visita inesperada. "Era um oficial de Justiça, queriam retirar o carro porque estava em busca e apreensão, eles não me falaram que o carro era subalugado pela Movida, entendeu, eles terceirizaram o serviço. Eles falaram que, na verdade, a Movida não estava recebendo o valor e eles iam retirar o carro".
A sede da empresa fica em Valinhos, interior de São Paulo. A reportagem tentou falar com algum funcionário, mas ninguém apareceu. Na fachada, um aviso: devido à alta procura para resolver as situações com cada um, não conseguiremos trabalhar de forma presencial. O número disponibilizado é apenas para responder mensagens. Segundo Thais, a empresa não está mais respondendo.
O caso foi parar na polícia, que registrou as denúncias como suspeita de estelionato. Só na delegacia de Valinhos, estiveram, pelo menos, 10 vítimas para registrar queixa. A polícia acredita que o golpe tenha sido aplicado em outros estados. O suspeito de estelionato já prestou depoimento. Ele admitiu que descumpriu o contrato e que deixou de pagar as empresas de locação de veículos porque enfrenta uma dificuldade financeira.
Emanuel Reis Bassini, sócio administrador da Easy, conversou com a nossa equipe. Segundo ele, o negócio estava indo bem até que -- no ano passado -- houve um problema com a Ourotur, empresa que intermediava o fornecimento de carros.
"Adquirimos uma grande quantidade de contratos com eles entre fevereiro e março, nos foi entregue, porém, dias depois dessa entrega, já em abril, recebemos o comunicado da Ourotur de que ela tinha perdido todos os contratos e precisaríamos devolver todos os veículos e já tínhamos cerca de 130 veículos", diz Emanuel.
A Ourotur disse que cancelou os contratos com a Easy e o advogado da empresa, Emerson Ticianelli, explica por quê: "isso aconteceu, mas não é bem uma forma como o Emanuel coloca. A Easy pagou por volta de 3, 4 meses, e depois desse percurso ela parou de pagar, inadimpliu os contratos, e hoje tem uma dívida de aproximadamente R$ 1 milhão".
O advogado Leonardo Pantaleão, especialista em direito penal, compara o caso ao famoso esquema de pirâmide: "a pirâmide é justamente isso, a partir de um determinado momento, o individuo não consegue mais cumprir aquilo que se comprometeu e então ele começa a movimentar os dinheiros novos que vão entrando para tentar saldar obrigações anteriores, já sabendo que ele não vai conseguir honrar essas novas obrigações que estão contra ele".
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