É pouco provável que Carnaval gere novo surto de Covid, diz infectologista
No entanto, especialistas recomendam que pessoas evitem aglomerações e se protejam
O Carnaval de 2023 ocorrerá sem restrições relacionadas à Covid-19 nas duas capitais mais populosas do País - São Paulo e Rio de Janeiro - e em outras cidades tradicionais, como Recife e Salvador. Apesar de a crise sanitária continuar em todo o mundo, o infectologista Max Igor Lopes avalia ser "muito pouco provável" que as festas provoquem um novo surto de casos.
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Entre os motivos para o cenário otimista, estão a vacinação e o fato de muitas pessoas já terem contraído a doença. "No início da pandemia, boa parte da população não havia sido exposta ao vírus e nem a vacina existia. Então, todos eram suscetíveis e favorecia a disseminação", explica Lopes, que é especialista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP).
Segundo ele, episódios de maior contato entre cidadãos, como o Carnaval, faziam o risco de transmissão crescer "nos momentos em que as pessoas estavam mais confinadas", mas "na medida em que os indivíduos foram se vacinando e/ou pegando covid, hoje, e com circulação plena, a taxa de frequência de anticorpos nas pessoas é bastante alta, e a frequência de casos graves reduziu muito, porque boa parte das que teriam casos graves já evoluíram, já foram tratadas, e não parece que quem ficou mal vai ficar mal de novo".
Riscos e dicas
Por outro lado, reforça o infectologista, "nunca é uma boa ideia achar que é legal pegar Covid", pois há o risco de transmitir o vírus para indivíduos mais vulneráveis. Dessa forma, ele pede cautela para quem for curtir o Carnaval.
"Se estiver doente, com nariz escorrendo, dor de garganta, febre ou outro sintoma da doença, faça o teste e, mesmo se der negativo, não frequente ambientes com grande densidade de pessoas, porque você pode estar transmitindo Covid ou outra virose."
O especialista também recomenda que se evite ambientes com aglomeração de pessoas. "Às vezes pode se divertir mais no canto, em uma área menos densa. Áreas abertas são sempre mais seguras", pontua.
Uma terceira dica é levar garrafinhas com álcool em gel para higienizar as mãos. "No passado, a gente não se preocupou tanto com a transmissão através do contato com superfícies, pois boa parte das pessoas usava máscara e não eliminava o vírus no ambiente. Hoje, como não há mais o uso, elas podem contaminar as superfícies", ressalta Max Lopes.
Novo surto
Já para o infectologista Paulo Sérgio Ramos, chefe da área assistencial de doenças infecciosas e parasitárias do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (HC-UFPE), há "algum risco" de o Carnaval deste ano provocar um aumento no número de novos casos, "ocasionando surtos focais em regiões do País". Isso porque será um "importante evento de massa" ocorrendo em um momento no qual existe "uma população expressiva ainda imunossuscetível ao Sars-CoV-2".
Para quem for curtir o Carnaval, o especialista recomenda proteger as vias aéreas com uso de máscara e higienizar as mãos. "Como medida de redução de danos, é razoável aconselhar a pessoas idosas e imunodeprimidos que considerem evitar aglomerações", complementa.
A infectologista Sylvia Lemos Hinrichsen considera "difícil fazer uma previsão do que o Carnaval poderá representar para a Covid", principalmente diante de subvariantes como a Kraken, da Ômicron. "Vamos ter que observar e pedir para as pessoas, pelo menos as que têm vulnerabilidade, fiquem menos expostas a aglomerações de pessoas", acrescenta.
Kraken
A subvariante XBB.1.5 da Ômicron, chamada pelos cientistas de Kraken, devido à rapidez com que vem se espalhando, foi identificada no Brasil no início deste mês. Entre os sintomas da infecção, estão febre, dificuldade para respirar, coriza, calafrio, fadiga, inapetência e dor de cabeça.
Max Igor Lopes relembra que uma variante ou subvariante é um patógeno com uma diferença genética em relação a outro vírus que circulava antes. Essa diferença pode levá-lo a ser transmitido de forma mais eficiente ou escapar da resposta imune das pessoas. Porém, ressalta, é preciso "ver que o vírus não consegue se reinventar. Então, ele escapa um pouco".
"Aquela imunidade que você tem antes ela ainda funciona, mesmo para as variantes, o que acontece é que ela não funciona tão bem."
Vacinação
Desde o início da campanha de vacinação no Brasil, em 17 de janeiro de 2021, 164.445.240 pessoas tomaram a segunda dose. A de reforço (terceira) foi aplicada em 103.455.635 indivíduos. Já a segunda dose de reforço (quarta), em 41.452.152.
De acordo com o Ministério da Saúde, no momento, "cerca de 19,1 milhões de pessoas estão em atraso com a segunda dose e 68,4 milhões, com a primeira dose de reforço. Além disso, 30,2 milhões de pessoas ainda não tomaram o segundo reforço da vacina Covid-19 em todo o País".
Na 5ª feira (26.jan), a pasta divulgou o plano nacional de imunização contra a Covid-19. A primeira etapa começa em fevereiro e será dividida em quatro fases, com uso de vacinas bivalentes da Pfizer. Esses imunizantes oferecem proteção contra mais de uma cepa do coronavírus.
A Bivalente BA1 protege contra a variante original e também contra a Ômicron BA1, enquanto a Bivalente BA4/BA5 protege contra a variante original e também contra a Ômicron BA4/BA5. A ordem de prioridade começa pelas pessoas com mais de 70 anos, imunocomprometidos, comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas.
Segundo o infectologista Max Lopes, "ainda não está certo qual o papel da vacina de agora para frente", ou seja, após a quarta dose. "Será que vai ser necessário continuar vacinando todo ano? Não me parece, pelo o que a gente está vendo, que um adulto mais jovem tenha necessidade de revacinações, porque as pessoas não têm ficado doente de forma mais intensa."
Por outro lado, explica, no caso dos indivíduos que produzem menor quantidade de anticorpos com a vacina e nos quais a quantidade desses anticorpos cai mais rápido, como os idosos e pessoas com problemas na imunidade, doses adicionais "acabam levando ao aumento dessa quantidade de anticorpos e podem melhorar a proteção".
"Então é uma estratégia e, talvez, você tenha, pelo menos no início aí, por alguns anos, eu também não sei se isso é uma coisa que precise ser feita de forma prolongada, mas talvez seja algo que faça sentido nesse grupo de pacientes".
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