O que restou da eleição em São Paulo: direita dividida e esquerda longe dos mais pobres
Nunes e Marçal mostraram divisão entre conservadores; Boulos indicou fragilidade da pauta social entre pobres
Com o fim da campanha em São Paulo, resta ao mundo político aprender algumas lições. A primeira delas foi uma divisão da direita, que, caso não tivesse ocorrido, poderia fechar a disputa ainda no primeiro turno. Na noite do dia 6 de outubro, com o resultado das urnas, Ricardo Nunes (MDB) e Pablo Marcal (PRTB) conseguiram, juntos, 57,62% dos votos. Guilherme Boulos (PSOL), que garantiu o segundo lugar, ficou com 29,07%.
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Com a dificuldade da esquerda em pautar o debate em determinados grupos, como o dos evangélicos, por exemplo, por causa de uma pauta desgastada e identitária, os conservadores se fortaleceram a ponto de se dar ao luxo de se dividir entre uma direita tradicional e um movimento mais radical, como um bolsonarismo mais raiz.
"Trata-se do deslocamento do conflito político. O antigo conflito esquerda versus direita se deslocou para um novo, da direita tradicional versus a direita radical", diz o sociólogo e professor da Universidade de Brasília (UnB) Arthur Trindade.
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Para o sociólogo, isso ocorre porque o PT e a esquerda deixaram de ser competitivos do ponto de vista eleitoral. "Se a esquerda ainda estivesse forte, dificilmente a direita radical romperia com a direita tradicional representada pelo centrão. Foi a perda da relevância eleitoral da esquerda que permitiu o surgimento desse novo conflito".
Tal perda de relevância da esquerda pode ser verificada na dificuldade de ganhar votos entre os mais pobres. "A esquerda não consegue explicar para o pobre que ele está mais pobre, que o inimigo dele não é o partido ou o candidato de esquerda, mas o cara que está na Faria Lima, e assim a direita capturou boa parte desse eleitorado", afirma Jessé Souza, sociólogo e autor do recém-lançado livro "O Pobre de Direita: A Vingança dos Bastardos".
O Instituto Paraná Pesquisas divulgou um levantamento na terça-feira (22) que mostra que o melhor resultado de Nunes contra Boulos está entre os não integrantes da população economicamente ativa (PEA). Enquanto o prefeito chega a 53,3% das intenções de voto, o candidato do PSOL apresenta 39,1%.