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Debate para Prefeitura de São Paulo: Nunes e Boulos trocam acusações pessoais e políticas

Atual prefeito e candidato do PSOL voltaram a discutir apagão em São Paulo, ampliando tema para a privatização de serviços públicos

Debate para Prefeitura de São Paulo: Nunes e Boulos trocam acusações pessoais e políticas
Nunes e Boulos fazem segundo debate do segundo turno na Record. | Divulgação/Record
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O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), candidato à reeleição, e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), que disputam o segundo turno nas eleições de São Paulo, participaram neste sábado (19) do segundo debate do segundo turno. O encontro, promovido por Rede Record, Estadão e rádio Eldorado, foi marcado por trocas de acusações pessoais e políticas.

No campo pessoal, Nunes citou o caso de um acidente de carro em que o pai de Boulos acabou pagando os danos a outro motorista envolvido. Uma nota da revista Veja faz uma menção à ocorrência, sem trazer maiores detalhes. O prefeito usou o episódio para acusar Boulos de ser irresponsável. O candidato do PSOL apenas disse que era uma “loucura”.

Guilherme Boulos, por sua vez, resgatou um episódio de 1996 em que Nunes foi levado à delegacia por dar tiros em frente à boate Caipirão em Embu das Artes. O episódio, registrado num processo, foi contado numa reportagem do Metrópoles. O atual prefeito não negou o ocorrido, mas destacou que ele aconteceu há 30 anos e disse que havia tentado apartar uma briga.

No campo político, Nunes procurou colar em Boulos a imagem de alguém que é inexperiente na gestão, não segue regras e já sofreu processos e condenações por sua atuação no Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST). O emedebista também voltou a falar da pauta de costumes – direito ao aborto, descriminalização do uso de drogas e desmilitarização da polícia –, reforçando o apelo ao eleitorado mais conservador.

Já Boulos tentou reforçar suspeitas de corrupção sobre Nunes, mencionando investigações sobre desvios na merenda e infiltração do crime organizado no serviço de ônibus da capital paulista. O candidato do PSOL perguntou diversas vezes se Nunes abriria seu sigilo bancário, como disse estar disposto a fazer, e tentou jogar para o adversário a imagem de um político mais preocupado com dinheiro e poder do que com a população.

Apesar do tom tenso, com vários ataques, o que rendeu oito pedidos de resposta – três deles concedidos a Boulos e dois a Nunes – o debate também teve discussão de propostas e temas da cidade.

Se, no primeiro debate do segundo turno, na Band, o apagão dominou, neste encontro os problemas de falta de energia também apareceram, mas dentro de um contexto maior de privatizações de serviços públicos, como o saneamento básico e o serviço funerário.

Boulos disse que a privatização da Sabesp pode transformar a empresa na nova Enel, com possíveis problemas no fornecimento de água para a população de São Paulo. Em resposta, Nunes disse que o contrato prevê universalização dos serviços de água e esgoto, com investimentos bilionários até 2029, o que não teria sido previsto no contrato com a concessionária de energia. Os dois candidatos, porém, disseram querer encerrar o contrato com a Enel.

Outros temas, como educação, transportes e saúde também foram debatidos. Enquanto Nunes tentou reforçar os feitos de sua gestão nas áreas, Boulos acusou o adversário de vender uma cidade que não existe ao eleitor. O atual prefeito também usou diversas vezes a palavra "extremista" para se referir ao adversário, que acusou a direita de espalhar mentiras para disseminar o medo da população em relação à mudança de poder. Boulos citou que, na eleição de Lula, em 2022, havia informações falsas de que o petista fecharia igrejas, mas nesta semana o presidente assinou um decreto criando o dia da música gospel.

Confira abaixo os detalhes de cada bloco e os temas discutidos pelos candidatos à Prefeitura de São Paulo.

Primeiro bloco

Os candidatos fizeram perguntas entre si e também responderam a questionamentos de jornalistas. Os dois trocaram acusações e falaram de temas centrais para a população como segurança, saúde, privatização e a recente crise de apagões na cidade.

Apagão em São Paulo

Logo no início, Boulos criticou Nunes sobre sua gestão durante o apagão que afetou São Paulo. Ele destacou que a responsabilidade pela poda de árvores havia sido assumida pela Prefeitura em um documento de junho, mas que Nunes culpou o governo federal em vez de assumir a responsabilidade. Nunes rebateu dizendo que, de acordo com o convênio com a Enel, a concessionária é responsável pela poda perto das linhas de transmissão e que o problema se deve à má gestão federal da concessão de energia.

+ Debate da Band: Apagão em São Paulo é tema central de confronto entre Nunes e Boulos

Saúde pública

Boulos afirmou que a realidade nos postos de saúde de São Paulo não condiz com as propagandas da gestão Nunes, que afirmam que há médicos, remédios e exames disponíveis. Nunes defendeu-se, afirmando que já entregou 19 Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e que continua trabalhando para melhorar o atendimento. O atual prefeito destacou sua experiência em gestão pública como um diferencial, enquanto Boulos prometeu criar o "Poupatempo da Saúde" para facilitar o acesso a exames e consultas.

Segurança pública e pauta de costumes

Nunes acusou Boulos de ser favorável ao fim da Polícia Militar e à legalização de drogas. Boulos respondeu dizendo que defende um modelo de polícia similar ao da Europa, que é firme no combate ao crime, mas que respeita o cidadão, independentemente de sua cor ou classe social. Boulos fez menção à fala do vice de Nunes, Coronel Mello, que defendeu atuação diferente da PM nos Jardins e na periferia. Sobre o direito ao aborto, Boulos afirmou que o prefeito deve cumprir a lei, que já prevê a interrupção da gravidez em casos específicos, e criticou o histórico de Nunes em relação ao tema, com restrição de serviços de interrupção legal da gravidez no hospital Vila Nova Cachoeirinha.

Ataques mútuos

Em um momento mais pessoal, Boulos desafiou Nunes a abrir seu sigilo bancário para provar sua honestidade, insinuando que o adversário está envolvido em esquemas de corrupção. Nunes rebateu, dizendo que nunca teve inquérito, denúncia ou condenação, e acusou Boulos de fugir de suas responsabilidades, citando episódios do passado em que o adversário teria evitado prestar contas à Justiça por causa de sua atuação no Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST).

+ Boulos é sabatinado e critica Nunes por faltar a debate; prefeito alegou reunião sobre apagão

Privatização da Sabesp

Nunes defendeu o processo de privatização da empresa de saneamento do Estado, afirmando que a privatização garantirá investimentos bilionários para universalizar o saneamento e despoluir o rio Tietê. Boulos, por outro lado, comparou a privatização da Sabesp à da Eletropaulo, destacando que os mesmos argumentos foram usados na época, mas que a cidade sofre com apagões sob a gestão da Enel e questionou a eficiência de privatizações em setores essenciais.

Segundo bloco

No segundo bloco do debate entre Ricardo Nunes e Guilherme Boulos, os candidatos intensificaram a troca de acusações, abordando temas como segurança, habitação, privatizações e corrupção.

Habitação e Concessões

Boulos começou reforçando sua defesa pela moradia, afirmando que é um dever moral lutar por quem não tem habitação, e disse que seu adversário não sabe o que é um despejo. Ele ressaltou que nunca foi preso por dar tiros do lado de fora de uma boate, numa alusão a uma acusação contra Nunes que já havia feito no primeiro bloco. O candidato do PSOL também criticou o atual prefeito por não investir em áreas como a Vila Nova Palestina, onde famílias aguardavam políticas habitacionais. Boulos afirmou que o projeto naquela área estava dentro dos padrões da Cetesb, mas que Nunes o rejeitou por motivos políticos.

Nunes, por sua vez, acusou Boulos de liderar invasões ilegais, afirmando que ele teria liderado invasões em terrenos privados, inclusive de mananciais, e abandonado as famílias que lá estavam. Nunes afirmou que está realizando o maior programa de habitação popular da história da cidade, com 72 mil famílias atendidas, e criticou Boulos por promover invasões em vez de construções de moradias.

Serviço funerário

Ainda sobre concessões, Boulos trouxe à tona a questão da privatização dos cemitérios, acusando Nunes de piorar a qualidade do serviço. Nunes defendeu a concessão, afirmando que o serviço funerário era o maior antro de corrupção da cidade e que agora os preços são mais acessíveis para famílias pobres.

Educação e infraestrutura

No debate sobre educação, Boulos acusou Nunes de não entregar nenhum CEU – modelo de escola criado pela vice de Boulos, Marta Suplicy – durante sua gestão, e ironizou as promessas de novas unidades. Ele disse que Nunes entregou apenas 8 mil unidades habitacionais das 72 mil prometidas e, em resposta às críticas de Nunes sobre a dívida da cidade, citou Fernando Haddad como o responsável por resolver essa questão.

Na infraestrutura, Boulos questionou o desempenho de Nunes no transporte público, apontando que o prefeito entregou apenas 4 km de corredores de ônibus, muito abaixo da promessa inicial de 40 km. Nunes se defendeu, dizendo que 72 km estão em obras e que a gestão anterior havia deixado o setor em uma situação de corrupção que ele precisou corrigir.

Corrupção

O momento mais acalorado do bloco foi a discussão sobre corrupção e o crime organizado. Boulos acusou Nunes de ter relações suspeitas com empresas de transporte envolvidas com o crime organizado, citando a visita de Nunes à UpBus logo após a prisão do dono da empresa pela Polícia Civil. Boulos sugeriu que Nunes teria "rabo preso" com essas empresas e com o esquema de corrupção no transporte público.

Nunes rebateu, afirmando que sua gestão fez intervenções nas duas empresas, TransWolf e UpBus, colaborando com as investigações. Nunes afirmou que seu governo tem combatido a corrupção e que ele tem experiência para gerir uma cidade do tamanho de São Paulo, ao contrário de Boulos, que, segundo ele, "não tem ideia do que é governar uma metrópole."

Criminalidade

Questionado se se sentiria seguro andando da Praça da Sé ao Largo do Paysandu às 23h, Nunes disse que sua gestão contratou mais guardas municipais, investiu em treinamento e equipamento e aumentou o piso da GCM. Mas afirmou que o PSOL na Câmara de Vereadores votou contra projetos da Prefeitura para a segurança na capital.

Segundo o atual prefeito, o partido de Boulos é contra a contribuição do Executivo municipal com policiais militares e a instalação de câmeras inteligentes para reconhecimento facial de criminosos. Na resposta, Nunes disse que sabe que tem muito trabalho pela frente, mas viu crianças brincando às 22h na Praça da Sé.

Boulos disse que o atual prefeito monta uma ficção e não responder às questões, só ataca. "A culpa pela insegurança é do PSOL. A culpa da árvore é do Lula", disse, mencionando a falta de poda das árvores que acaba contribuindo para os apagões na capital. Acusações pessoais e direito de resposta

Em uma das discussões mais pessoais do debate, Boulos sugeriu que Nunes era "fantoche" de grupos de interesse, comparando a gestão do atual prefeito ao avanço da milícia no Rio de Janeiro durante gestões de governadores fracos. Ele também criticou Nunes por ir a eventos como a Fórmula 1 e UFC enquanto a população sofria com apagões.

Nunes respondeu acusando Boulos de mentir continuamente, lembrando que ele nunca foi investigado por irregularidades e que sua gestão vem garantindo a saúde financeira da cidade.

Considerações finais

O candidato do PSOL, Guilherme Boulos, foi o primeiro a fazer suas considerações finais e destacou o apoio que recebeu de Tabata Amaral (PSB) e José Luiz Datena (PSDB). Também fez um apelo aos eleitores de Pablo Marçal (PRTB), com quem tem diferenças. Para ele, os votos em todos os outros candidatos que não o atual prefeito representam a aposta na mudança. "Conversando vejo que as pessoas sabem que São Paulo precisa mudar, mas ficam com receio. Não se deixem amedrontar por mentiras, que vão vir ainda mais fortes nessa reta final. Eu me preparei, podem confiar. Trouxe a Marta Suplicy e trago a minha experiência, que vão me ajudar muito a governar São Paulo", afirmou. O candidato terminou seu pronunciamento reforçando seu número, o 50 – após dados mostrarem uma confusão dos eleitores com o número 13, do PT, na urna – e prometeu um "pronunciamento como você nunca viu e que vai mudar o rumo da eleição" nesta segunda-feira (21), sem dar mais detalhes.

O atual prefeito e candidato à reeleição Ricardo Nunes reforçou sua experiência como atual gestor da cidade. "Eu me preparei, fui vereador, empresário, presidente de várias entidades, prefeito. Ajustamos as contas, a saúde financeira, fiz muita coisa. Mas ainda tem muita coisa pra fazer. Já o meu adversário só está preparado para ofender. Sobre minha conta bancária, eu abro o sigilo se for o pedido de uma autoridade", afirmou, reforçando também seu número nas urnas, o 15.

Debates anteriores

Ricardo Nunes alegou uma reunião extraordinária sobre o apagão, agendada pelo governador Tarcísio de Freiras para cancelar sua presença no debate do pool de imprensa formado por UOL, RedeTV! e Folha de S. Paulo, marcado para a quinta-feira (17). O prefeito, que havia confirmado a participação, anunciou sua desistência durante a madrugada.

Esse não foi o primeiro debate a que o atual prefeito não compareceu: ele faltou ao encontro promovido pelo O Globo, Valor Econômico e rádio CBN, no dia 10. Nunes também recusou o convite do SBT para um debate que seria realizado nesta sexta-feira (18).

Os candidatos devem participar de um último debate antes das eleições do próximo dia 27 na TV Globo.

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