Debate da Band: Apagão em São Paulo é tema central de confronto entre Nunes e Boulos
Temporal há 3 dias deixou 2 milhões sem luz na Grande São Paulo. Prefeito tentou culpar Enel e governo federal, enquanto candidato do Psol responsabilizou Nunes
Paulo Sabbadin
Carolina Freitas
Os candidatos à Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos (Psol) e Ricardo Nunes (MDB), participaram na noite desta segunda-feira (14) do primeiro debate na TV deste segundo turno das eleições de 2024. O encontro foi promovido pelo Grupo Bandeirantes.
O debate da Band aconteceu três dias depois de um temporal de 30 minutos ter atingido São Paulo, na sexta-feira (11), deixando 340 mil pessoas sem luz até esta segunda-feira (14). O apagão chegou a atingir 2 milhões de pessoas. A primeira pergunta do debate, feita pelo moderador, não poderia ser sobre outro assunto. O tema deu o tom do debate.
Diante do questionamento sobre o apagão, Guilherme Boulos apontou dois culpados: Enel e o oponente dele, Ricardo Nunes. O candidato do Psol prometeu encerrar o contrato com a concessionária de energia e trabalhar ao longo dos quatro anos na zeladoria da cidade, principalmente na poda de árvores.
Na vez dele de responder, o prefeito Ricardo Nunes atribuiu o caos na cidade às mudanças climáticas e ao serviço ineficiente da Enel. O candidato criticou o governo federal pela falta de ação contra a concessionária e defendeu o fim do contrato. Ao falar do governo federal, Nunes tentou colar a responsabilidade no presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que é padrinho político de Boulos.
Questionado sobre ações que desempenhou desde o apagão registrado em novembro de 2023, Nunes afirmou que entrou com diversas medidas contra a Enel, que aumentou a área de cobertura vegetal na cidade e enalteceu o número de podas de árvores feitas.
Saindo do tema apagão, Boulos questionou Ricardo Nunes sobre a suposta ligação do prefeito com a máfia das creches. O prefeito respondeu afirmando que não existe fila por vaga nas instituições da capital e negou as acusações de envolvimento com irregularidades.
Nunes devolveu questionando a suposta falta de ação de Boulos como deputado federal contra a Enel.
O político do Psol insistiu no tema da creches, questionando se Nunes recebeu repasses de verbas desviadas. O prefeito respondeu que todos os valores recebidos por ele foram legais.
Debate favoreceu interação entre Nunes e Boulos
O formato do debate da Band permitiu que Nunes e Boulos saíssem de seus púlpitos e caminhassem pelo estúdio, olhando um no olho do outro e interagindo entre eles. O fato de haver um banco de minutos que os candidatos gastavam livremente também favoreceu a fluidez da conversa.
Depois de um primeiro turno com debates marcados por cadeirada e soco, este primeiro encontro no segundo turno teve um clima menos tenso. Houve provocações mas nenhum dos dois candidatos alterou a voz, se exaltou ou ofendeu o adversário.
A proximidade física entre Nunes e Boulos causou até um momento cômico, quando, encarado por Boulos, Nunes hesitou e parou de falar. Os dois se olharam, riram e se cumprimentaram com um abraço constrangido.
Entre as provocações, Nunes insinuou que Boulos não trabalha e mencionou que "uma pessoa" da equipe do candidato do Psol ficou conhecida ter aumentado taxas na cidade de São Paulo. Marta Suplicy, vice de Boulos, foi apelidada por adversários quando foi prefeita de "Martaxa".
Já as provocações de Boulos foram no sentido de dizer que Nunes não é "forte" o suficiente para administrar a cidade por outros quatro anos. "Tropeça e gagueja num debate. Você não dá conta de uma mesa de negociação com a Enel ou com as OS (Organizações Sociais da área da saúde)", acusou o candidato do Psol.
Segundo bloco com perguntas de jornalistas
O segundo bloco do debate da Band foi de perguntas de jornalistas do grupo de comunicação aos candidatos a prefeito de São Paulo.
Questionado pela jornalista Patricia Rocha sobre como resolver o problema de moradia em São Paulo, Guilherme Boulos prometeu o maior programa de moradia da história e qualificar a população que hoje está em situação de rua para que elas possam se recolocar no mercado de trabalho.
Ricardo Nunes exaltou as ações de sua gestão, como a disponibilização de hotéis e abrigos para pessoas em situação de rua.
A jornalista Thays Freitas perguntou a Ricardo Nunes os planos dele para que "hotéis da cracolândia" não voltem a funcionar. Nas unidades, havia tráfico e consumo de drogas. Nunes respondeu enaltecendo a parceria com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) para o aumento do efetivo da Polícia Militar na região. O prefeito também citou o aumento no efetivo da Guarda Civil Metropolitana (GCM) e a valorização desse guardas.
Agradecendo ao apoio dos candidatos derrotados no primeiro turno Tabata Amaral (PSB) e José Luiz Datena (PSDB), Guilherme Boulos prometeu dobrar o efetivo da GCM e o combate efetivo ao crime organizado.
Assim como Nunes evocou Tarcísio, Boulos exaltou a candidata a vice dele, a ex-prefeita Marta Suplicy.
O jornalista Marcos Antonio Sabino perguntou a Boulos sobre a proposta do candidato de isentar os motoristas de aplicativo do rodízio de veículos. O candidato do Psol reforçou a proposta e prometeu incentivos aos taxistas, como a facilidade na transferência de alvarás e permissão para publicidades. Para os motociclistas, Boulos afirmou que vai criar bases de apoio em todos os bairros.
Ricardo Nunes citou o aumento de eventos de grande porte na cidade e a chegada de novas empresas na capital como forma de valorizar e incentivar os motoristas de aplicativo e taxistas.
A jornalista Sheila Magalhães questionou Nunes sobre a situação do transporte público e dos corredores de ônibus que não foram entregues pelo prefeito. Nunes se defendeu citando diversas obras feitas em sua gestão e a implementação do transporte hidroviário.
Boulos questionou o aumento no número de obras durante o período eleitoral e questionou Nunes sobre um funcionário da Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana (Siurb) que é ex-cunhado de Marcola, líder do PCC. O prefeito afirmou que o funcionário é concursado e entrou na prefeitura em 1988.
Terceiro bloco teve embate direto sobre impostos e saúde
No terceiro bloco do debate da Band, citando ter reduzido impostos, Nunes questionou Boulos sobre posicionamentos do Psol, que seriam contrários a baixar impostos. Boulos afirmou que, se eleito, não vai aumentar nenhuma tarifa.
Sobre saúde, Boulos questionou a falta de remédios nas UBS e a fila por exames e atendimentos na cidade. Nunes se defendeu citando as UPAs entregues e os complexos Paulistão da Saúde. O prefeito perguntou se Boulos, caso seja eleito, encerraria as parcerias com Organizações Sociais (OS) na saúde. O candidato do Psol disse que manterá os contratos, mas com fiscalização.
Boulos relembrou o período da pandemia de covid-19 e perguntou a Nunes se ele acha que o ex-presidente Jair Bolsonaro fez "tudo certo" naquela ocasião. Bolsonaro é aliado de Nunes.
O prefeito não respondeu à pergunta, afirmando que todos "erraram e acertaram" no período. Nunes exaltou a vacinação em São Paulo e lamentou as mortes no país por covid-19.
Boulos perguntou se Nunes ainda se arrepende de estipular o passaporte da vacina em São Paulo. O prefeito afirmou a medida foi um erro, mas que não é contra a vacinação.
Entenda o formato do debate da Band
No primeiro bloco, cada candidato teve dois minutos para responder a uma pergunta escolhida pela produção da Band, por ordem de sorteio. Na sequência, um perguntou para o outro, administrando um banco de tempo de 12 minutos.
No segundo bloco, cada candidato respondeu a duas perguntas feitas por jornalistas do Grupo Bandeirantes de Comunicação, com comentários do adversário. A resposta e a réplica foram de três minutos. O comentário foi de um minuto.
O terceiro e último bloco teve mais um confronto direto entre os dois candidatos, em que eles administraram mais 12 minutos cada para falar como e quando achassem melhor.
Nas considerações finais, Nunes e Boulos tiveram dois minutos cada um.