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Bolsa Família, segurança pública e Cracolândia: confira a íntegra da entrevista de Kataguiri ao SBT News

Pré-candidato à Prefeitura de São Paulo pelo União Brasil falou sobre propostas para a maior cidade do país

Bolsa Família, segurança pública e Cracolândia: confira a íntegra da entrevista de Kataguiri ao SBT News
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Em entrevista exclusiva ao SBT News, o deputado federal e pré-candidato à Prefeitura de São Paulo Kim Kataguiri (União Brasil) apresentou suas propostas para a maior cidade do país. Na conversa, comandada pela jornalista Simone Queiroz, o político citou os problemas de segurança pública e saúde na capital, e as propostas para tentar conter a expansão da Cracolândia. Ele também comentou sobre o programa Bolsa Família.

Veja a íntegra da entrevista de Kim Kataguiri ao SBT News:

Simone Queiroz: Queria que o senhor se apresentasse, dissesse sua idade, sua formação, profissão e outros dados que o senhor acha que o identificam.

Kim Kataguiri: Sou Kim Kataguiri, deputado federal, estou no meu segundo mandato, fui presidente da Comissão de Educação na Câmara dos Deputados. Construí minha trajetória política sendo militante, organizando manifestações junto com o Movimento Brasil Livre pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff, que consideramos ter sido o pior governo desde a redemocratização. Fomos às ruas diversas vezes, nas maiores manifestações do país, para derrotar esse governo que, à época, conduzia o Petrolão e saqueava as nossas empresas estatais.

A partir da minha experiência como militante político, participando das manifestações de rua, vi que o Congresso Nacional não representava uma direita legítima, verdadeira, que, de fato, encampasse os valores para fazer uma oposição, naquela época, incisiva ao governo Dilma. Eu me lembro que, nas primeiras manifestações das quais participei, nenhum dos parlamentares que se diziam de oposição, na época o PSDB, pedia o impeachment. Eles eram contra, achavam que a Dilma tinha que "sangrar até o final do seu mandato para depois eles vencerem as eleições facilmente em 2018, no final do mandato da Dilma". Foi uma estratégia em que eu e meus colegas de movimento reputamos fracassada, porque foi exatamente o que foi feito com o mensalão. Eles não defenderam o impeachment do Lula, na época ele estava à frente do governo no então maior escândalo de corrupção da história do país, e deixar o PT sangrar só fez com que ele vencesse a reeleição, elegesse a Dilma, e reelegesse a Dilma.

Minha trajetória política foi construída defendendo o endurecimento de leis penais na segurança pública, defendendo a meritocracia do serviço público, de que os melhores funcionários sejam premiados pelo seu desempenho na área da Educação, na área da Saúde, na administração pública de maneira geral. Que você tenha menos impostos, menos peso do governo nas costas de quem quer empreender. A minha trajetória foi construída em cima desses valores: de livre mercado, de desburocratização, de ser linha dura em relação ao cometimento de crimes, de defender lei e ordem, e até hoje mantenho essa postura.

Simone: Vamos começar agora com as propostas efetivamente para a cidade de São Paulo. Hoje, segundo as pesquisas, o problema que mais incomoda os paulistanos é a falta de zeladoria na cidade, principalmente os buracos nas ruas de São Paulo. Eu queria saber quais são suas propostas para a zeladoria?

Kataguiri: A minha formação de jovem, na época do meu ensino médio, em que cursei ensino técnico em programação de dados, trabalhei como programador, e vejo que muitos dos problemas da cidade de São Paulo já foram solucionados em outras grandes metrópoles ao redor do mundo com uso de tecnologia e inteligência artificial. Mesmo aqui no Brasil, no estado de São Paulo, temos um exemplo disso.

Visitei recentemente Hortolândia, uma cidade do interior de São Paulo, para conhecer o trabalho de uma empresa que coloca carros com câmeras com inteligência artificial para rodar a cidade inteira e verificar se tem problema de lixo, se tem pichação, se tem buraco na rua, se o asfalto está esfarelando, se tem problema de poda de árvore. Tudo isso é mapeado, e a prefeitura conhece cada buraco que a cidade tem, conhece todos os problemas de zeladoria e não necessita o cidadão ligar – como é aqui na cidade de São Paulo, no 156 - para pedir uma poda de árvore, para pedir uma retirada de lixo, uma limpeza de bueiro, tudo isso já é feito utilizando Inteligência Artificial, utilizando esse mapeamento da cidade, e isso reduziu drasticamente o número de reclamações em relação à zeladoria urbana.

Quero trazer para a cidade de São Paulo esse uso de tecnologia, esse conceito de cidade inteligente, que tem sido pautado no mundo inteiro. Aliás, a cidade de Curitiba recentemente venceu um prêmio de cidade inteligente, e São Paulo não faz o mínimo, como colocar um sensor em um bueiro para saber quando ele precisa ser limpo para não alagar, saber onde estão os buracos na cidade. Os contratos, aliás, na cidade de São Paulo, de asfaltamento, na minha avaliação, são péssimos, porque você paga a empresa com base no volume de asfalto que ela jogou, então, o que o Tribunal de Conta do Município atestou: as empresas, para um buraco pequeno, vão lá e jogam muito asfalto, fazendo com que a necessidade de recapeamento seja mais frequente e elas sequer limpam a rua antes de colocar o asfalto em cima, o que faz com que ele quebre rapidamente.

Qual é a minha proposta? Vamos mudar o modelo de contrato, fazer como se faz na cidade de Salvador. A empresa é responsável pela manutenção, pelo cuidado e pela qualidade do asfaltamento da rua. Ou seja, quanto menos ela precisar fazer manutenção, quanto menos asfalto ela precisar gastar, mais lucro vai ter. Então, o incentivo econômico daquela empresa é que a rua esteja o mais bem cuidada possível, que a manutenção seja o mais duradoura possível, para ela não precisar fazer manutenções recorrentes, e a gente não precisar ter esse caos na cidade de tantas obras acontecendo simultaneamente, atrapalhando todo o nosso trânsito.

Simone: Como o senhor mesmo disse no início, o senhor se projetou nacionalmente, principalmente em São Paulo, por sua posição nos protestos contra o governo Dilma Rousseff, inclusive contra o Bolsa Família. Como o senhor pretende enfrentar o problema da pobreza na cidade mais rica do país, uma pobreza que está escancarada nas ruas, nas favelas, na forma indigente como tantas pessoas vivem hoje na cidade de São Paulo?

Kataguiri: Deixa eu só fazer uma correção, Simone, nunca houve manifestação contra o Bolsa Família. Na realidade, o Bolsa Família é um programa liberal, a ideia de renda mínima universal é uma ideia do Milton Friedman, dos Chicago Boys.

Simone: Então o senhor é a favor do Bolsa Família?

Kataguiri: Sim, sem dúvida nenhuma. O Bolsa Família foi arquitetado inclusive pelo economista Ricardo Paes de Barros, que é um economista conhecido como liberal dos pobres. Qual foi a medida estatizante, esquerdista, burocratizante que o governo tentou utilizar para combater a fome e fracassou em contraposição à ideia de renda mínima universal do Bolsa Família, foi o Fome Zero. O que foi o Fome Zero? O próprio governo contratava as empresas para fornecer a comida, contratava os caminhões para fazer o transporte, fazia uma secretaria, uma diretoria, para fazer aquela distribuição, e isso não funcionou. Primeiro porque você não sabe qual é a necessidade daquela família, quais são os alimentos que aquela família mais quer consumir, quais são os produtos de higiene pessoal que são mais urgentes, que aquela família precisa adquirir, e o Bolsa Família faz o sentido inverso: ele dá liberdade para a família escolher quais são os produtos que ela quer adquirir, e é esse tipo de linha de programa social que defendo para erradicar a miséria na cidade de São Paulo, que, hoje, na minha avaliação, é o segundo maior problema da cidade. O primeiro é a segurança pública, que está um caos, e dos bairros mais ricos aos bairros mais pobres, periféricos, na cidade de São Paulo, é a reclamação número um que eu escuto.

Simone: Mas essa é uma atribuição – em questão da violência – do Estado, principalmente?

Kataguiri: Hoje em dia, depois da decisão do Supremo Tribunal Federal que reconheceu as guardas municipais como força de segurança pública, o município também tem um papel fundamental no enfrentamento da segurança pública, e, digo mais, no Estado de São Paulo, sobre a mesma Polícia Militar, sobre a mesma Secretaria de Segurança Público do Estado de São Paulo, conduzida pelo [capitão Guilheme] Derrite, meu colega e que tem feito um excelente trabalho, cidades do interior têm obtido melhores indicadores de segurança pública que a cidade de São Paulo. Pelo contrário, a gente está batendo recorde de furtos de veículos, de assaltos. Antes, você tinha medo de andar com o celular na rua, hoje você tem medo andar de celular dentro do seu carro, tem medo de que vão quebrar o vidro, então, a situação está bem pior.

Mas voltando para a sua pergunta em relação à assistência social, defendo que você tenha uma bolsa municipal, mas que ela seja condicionada a uma série de medidas que vão ajudar aquela família a se tornar independente dos programas sociais, tanto do governo federal quanto do governo municipal.

Simone: Como o quê?

Kataguiri: Como, por exemplo, ser acompanhado por um agente comunitário de Saúde. Hoje, a gente tem muitos problemas na cidade de São Paulo, na saúde, com diabetes e também com colesterol, e esse é um problema que nunca precisaria chegar na média e alta complexidade na rede do SUS. Poderia ser solucionado com orientação nutricional e acompanhamento de agentes comunitários de saúde. Pretendo fortalecer e melhorar as equipes, melhorar a remuneração, para que eles façam esse acompanhamento da saúde das famílias, que é fundamental do ponto de vista econômico também. Não é apenas para a saúde, que é o principal na vida das famílias paulistanas, mas também para que aquela família tenha condições de o filho frequentar a escola. Diferente do que faz o Bolsa Família, que só exige a matrícula, vou fazer a exigência de que, se você quer receber essa bolsa extra da cidade de São Paulo, o seu filho precisa ter assiduidade, ou seja, ele precisa estar na sala de aula. Fui presidente da Comissão de Educação, sei que hoje a gente tem 56% de analfabetismo infantil. Isso é uma tragédia humanitária. Essa família nunca vai sair da miséria, nunca vai sair da pobreza se o sujeito nunca aprender a ler e escrever. Não vai nem entrar no ensino médio, muito menos no ensino técnico, e menos ainda numa faculdade. Então, você vincula o programa social municipal à assiduidade e ao desempenho em sala de aula, ou seja, o aluno precisa ter boas notas, e a gente precisa ter um indicador municipal de educação, que hoje não existe.

A educação da cidade de São Paulo é pilotada às cegas, a gente não sabe se está ou não funcionando, se os alunos estão tirando boas notas ou não estão tirando boas notas. Não tem um indicador municipal de Educação, tanto pro fundamental I como para o ensino infantil, que é o mais importante. Do zero aos seis anos de idade, um sujeito chamado James Heckman ganhou um prêmio Nobel justamente por demonstrar a importância da primeira infância para a formação da capacidade cognitiva do indivíduo: 85% do nosso cérebro se forma na primeira infância, e, hoje, você não tem os brinquedos certos para estimular a inteligência dessa criança, você não tem o acesso a produções audiovisuais, a filmes, ou desenhos, que também vão incentivar essa criança aos jogos, aos games. Aprovei agora o Marco Legal dos Games, que contribui com o ensino de matemática, geografia, história, inglês, e que engaje os alunos. Uma das maiores razões de evasão escolar é a falta de interesse na aula, é a falta de interesse na metodologia de ensino, e isso a gente consegue ajudar a solucionar com a implementação de games. Além disso, quero aplicar em São Paulo uma experiência que vi em Singapura no ano passado, que é escutar a iniciativa privada para saber qual é o tipo de mão de obra que ela está precisando, para que ela seja treinada, para que a gente treine essas famílias que vão receber essa bolsa extra, para que elas possam se tornar independentes economicamente.

Simone: Mas não tem um direcionamento aí também, do tipo "você tem que estudar tal coisa, porque é isso que as empresas estão precisando"? Me fez lembrar, por exemplo, Cuba, em que as faculdades têm limite de vaga de acordo com a demanda.

Kataguiri: Muito diferente do regime socialista, ninguém é forçado a nada. As pessoas são livres para escolher dentre os cursos em que há demanda qual curso ela quer fazer. Singapura é o lugar que tem o melhor índice de liberdade econômica do mundo inteiro e trabalha com o poder público dialogando com a iniciativa privada, dialogando com as demandas do mercado. Por que isso não funcionaria num regime socialista? Porque você não tem preço, você não sabe qual é a oferta. Na União Soviética, eles usavam para fazer a economia planificada os catálogos de preço dos Estados Unidos, e isso gerou o colapso, porque é muito mais fácil, parece até um contrassenso, mas é muito mais fácil você lançar um foguete no espaço do que ter a logística necessária para distribuir toalha ou papel higiênico numa economia planificada em que você não tem os dados do quanto as pessoas querem consumir e de quanto as pessoas querem trabalhar para vender aquele bem de custo.

Então, voltando, profissionalizar essas pessoas nas profissões em que há demanda com essa bolsa extra de R$ 200 por família, além do que ela já receberia o programa federal e estadual. Agora, existe um problema grave na cidade de São Paulo, que desde 2014 o Cadastro Único não é atualizado. Ou seja, têm centenas de milhares de pessoas que recebem o benefício que não deveriam receber e outras 700 mil pessoas que deveriam receber e não recebem, por uma mera falha de atualização de cadastro por parte da prefeitura.

Então, defendo todas essas ações, junto com uma política forte de habitação. Eu vi em Salvador dois projetos que para mim são excelentes, um é o Morar Melhor, para aquelas pessoas em moradias precárias – na cidade de São Paulo são cerca de 370 mil –, a prefeitura disponibiliza uma reforma na casa no local que aquela pessoa entende que é mais importante. A própria pessoa decide qual é o melhor lugar para fazer a reforma e a prefeitura disponibiliza os recursos. Do outro lado, o problema é de quem não tem moradia, você faz uma parceria privada para poder conceder casas para todos aqueles que precisam e a cidade de São Paulo já tem imóvel suficiente para isso, não precisa adquirir um imóvel sequer. Só com que a gente já tem hoje, o poder público, sem gastar um centavo que não seja com a reforma desses imóveis, a gente consegue fazer uma política de habitação com no mínimo geladeira, sofá, cama, fogão, para que essas pessoas possam viver uma vida digna fora das ruas. Também pretendo adotar uma política de que todos vão ter oportunidade de moradia, e ninguém tem direito de privatizar o espaço público por seu interesse próprio. Não posso simplesmente decidir colocar uma barraca na praça, no meio de uma rua, ou na frente da casa de uma pessoa, porque aquele espaço é público, aquele espaço é de todos.

Simone: Mas e se a pessoa não tiver casa?

Kataguiri: Meu ponto é, vai haver, a pessoa vai ter essa alternativa. Não é que ela não vai poder existir na cidade, que não vai ter nenhum espaço para ela. A prefeitura possui a capacidade de dar moradia para todos aqueles que hoje não têm.

Simone: Vamos falar da Cracolândia. Um dos maiores problemas da cidade de São Paulo. Isso é assunto de segurança pública ou é um assunto de saúde pública na sua gestão?

Kataguiri: De saúde, de segurança, e de assistência social. A gente tem esses três pontos. Por quê? Porque você tem, por um lado, os traficantes, e a gente tem descoberto, com a Operação Verão do Estado de São Paulo, que boa parte da droga que chega na cidade é refinada no litoral. A prefeitura precisa declarar, e disso tenho completa convicção, guerra ao PCC, que hoje domina a cidade de São Paulo, principalmente o seu maior símbolo, a Cracolândia. Integrando a Polícia Militar, defendo que a Guarda Metropolitana seja transformada em Polícia Municipal, inclusive para dar mais segurança jurídica às abordagens divulgadas suspeitas, para quando você tem apreensão de droga, quando você prende assaltante, o sujeito que está contrabandeando, o que quer que seja, e depois essa apreensão ser anulada pelo Superior Tribunal de Justiça, como tem acontecido. Integrar com a Polícia Civil, com a Polícia Federal e o Ministério Público para ter a força-tarefa anticrime organizado, como foi feito na Itália contra as máfias, que foi muito bem-sucedido. Tenho defendido também projetos de leis federais que endureçam o combate ao crime organizado, e acho que, integrando essas forças e criando, inclusive, um centro municipal de inteligência para fazer o enfrentamento, eu acho que a gente pode ajudar a cortar essa distribuição da droga, porque o Brasil é o dos países no mundo que mais consome crack. De todos os países do mundo, somos um dos maiores consumidores de crack, e esse crack não cai do céu. Há uma rota do crack que a gente precisa combater. Agora, temos outra questão também: o usuário, que é refém do traficante. Esse usuário não tem mais pleno controle das suas faculdades mentais, não tem mais autonomia.

Além desses casos, falta coragem, vontade política, por parte da prefeitura para gente fazer esse enfrentamento com internação compulsória. A legislação hoje já permite, não preciso mudar nada na lei federal para internar compulsoriamente o sujeito que não tem mais controle de si próprio. Isso gera muita chiadeira de ONGs de Direitos Humanos, de setores do Ministério Público. Mas fato é que não existe o direito humano de se matar fumando crack, não existe o direito humano de você degradar, invadir ou furtar um estabelecimento comercial. Estive recentemente na Cracolândia escutando o caso da Dona Marlise, que usuários de crack acamparam na frente da casa dela e ela tem uma filha com transtorno de espectro autista e ficou três meses inalando fumaça. Ela ia na prefeitura reclamar e a prefeitura falava para ela buscar o Ministério Público. Isso não tem que existir. É competência da Prefeitura e ela precisa ter a coragem de fazer internação compulsória. Por que não é feita hoje? Porque o prefeito sabe que recebe processos e porque os médicos não têm segurança de dar o laudo que permite internação compulsória, porque depois eles próprios são processados.

Então, o que defendo nessa situação? Que a prefeitura defenda em juízo, que a prefeitura arque com os custos judiciais nos processos contra os médicos que estão exercendo a profissão deles. Não é justo que eles tirem do próprio bolso para exercer uma função de interesse público. Defendo a internação compulsória, já enviei R$ 5 milhões em emendas parlamentares para a vacina contra o crack que está sendo desenvolvida pela Universidade Federal de Minas Gerais. Estive lá e é extremamente promissora para combater a dependência química e a abstinência do uso do crack, para libertar essas pessoas e trazer a dignidade de volta para as suas vidas. E também trabalhar na rede de atenção à saúde mental da cidade de São Paulo, que não é um problema apenas da Cracolândia, mas também em relação a álcool, a outras drogas e mesmo ansiedade, depressão, insônia. Hoje, mais de 40% da população tem problema de saúde mental e, se o SUS já tem problemas estruturais na atenção primária, na saúde mental é ainda pior. Digo isso porque eu precisei de atendimento de saúde mental na rede municipal da cidade de São Paulo

Simone: O que você teve?

Kataguiri: Ansiedade e depressão após o falecimento do meu pai. Foi muito duro para mim, porque ele era minha maior inspiração, era meu herói, ele era a pessoa que eu fazia tudo para dar orgulho. Você é atendido na rede municipal e é uma demora gigantesca; mesmo quando você é atendido, você é maltratado; não tem estrutura mínima, tudo caindo aos pedaços. O problema que passei, muitas pessoas passaram, muitas pessoas estão passando neste exato momento, e não tem uma estrutura básica de atendimento psicossocial na cidade de São Paulo. O número de leitos para álcool e outras drogas, para você ter uma noção, é menos de 200. Duzentos para uma cidade de 12 milhões de habitantes. É uma piada de mau gosto a gente ter esse nível de atendimento. Há também a questão dos moradores de rua que não têm problema de vícios, mas que precisam ser reintegrados na sociedade – e eu tenho estudado muito isso. O crescimento na população de rua e você não conseguir diminuir esse número está muito ligado a reinserir essa pessoa na cidade, trabalhando com mecanismos psicológicos de recompensa e de reintegração na sociedade com o programa de casas modulares. O que é isso? É um conceito americano de housing first, então primeiro você tira a pessoa da rua, tira daquele ambiente. Depois você ensina regras básicas de convívio social. Para a gente parece óbvio, mas as pessoas que ficam muito tempo na rua perdem essas noções de autocuidado, higiene pessoal. E aí, você tem três casas diferentes, dependendo do nível de reinserção social em que essa pessoa está, você consegue transferir para outra casa, para, no final, ter o ensino técnico profissionalizante para inserir no mercado de trabalho. Então, essas são as três frentes de ação de enfrentamento da Cracolândia.

Simone: Falando desse tema, como o senhor avalia o trabalho do Padre Júlio Lancelotti? O senhor conhece o trabalho dele pessoalmente?

Kataguiri: Nunca tive contato. Me preocupam as denúncias graves que existem contra o padre, inclusive a perícia que foi feita ali atestando, segundo os peritos, a veracidade de um vídeo em que ele estaria se masturbando em frente a menores de idade. É uma coisa que vejo com grande preocupação, essa exploração da miséria, ainda mais recentemente quando tivemos denúncias graves ali da Ilha de Marajó, saber que coisas desse tipo podem estar acontecendo aqui na cidade de São Paulo, logo abaixo dos nossos olhos, é uma coisa que me assusta e que eu vejo com bastante receio.

Simone: O senhor concorda então com a expressão do seu colega de MBL, o Arthur do Val, que o padre seria "cafetão da pobreza"?

Kataguiri: Infelizmente todos os indícios demonstram que há esse tipo de prática nefasta por parte dele no vídeo que foi periciado.

Simone: Deputado, sobre transporte público, o senhor é favor de corredores de ônibus, bilhete único, tarifa zero?

Kataguiri: Sou contra a tarifa zero, acho que é um modelo que só dá mais dinheiro para empresas de ônibus de péssima qualidade, de péssimo serviço, em rotas dominadas pelos mesmos grupos econômicos há décadas na cidade de São Paulo – três ou quatro grupos que vencem as licitações todas as vezes em que há essa competição. Na minha avaliação: primeiro ponto, o transporte tem muito a ver com a necessidade de precisar se transportar, ou seja, por que você tem mais trânsito? Por que você tem mais pessoas utilizando o transporte público ou individual? Porque elas não moram perto o suficiente do seu trabalho, não moram perto o suficiente do seu lazer para poder fazer isso com mais facilidade andando, como acontece em várias metrópoles ao redor do mundo. Por exemplo, foi feito um estudo recente para mostrar que, por dia, um sujeito que mora em Pinheiros gasta, em transporte público, cerca de 20 minutos, e, quando você vai comparar com um sujeito que mora na periferia da cidade São Paulo, isso já salta para mais de horas, todos os dias, em razão da distância. Muitas vezes o sujeito mora na periferia, mas a maior parte das empresas da cidade de São Paulo está no centro expandido, então, o que defendo? Que sejam feitas moradias populares no centro expandido da cidade de São Paulo.

A cidade de São Paulo é muito menos densa que as cidades de Tóquio, Nova York, Barcelona e Buenos Aires e isso faz com as pessoas morem mais longe do trabalho, morem mais longe do lazer, então é impossível fazer as coisas pegando poucos minutos de transporte público ou mesmo andando a pé. Também é necessário que a gente tenha uma revisão do Plano Diretor e da Lei de Zoneamento. Isso inclusive para a segurança pública, uso misto de imóvel, que é quando você tem um comércio embaixo e as moradias em cima, facilitando que a pessoa possa ir ao mercado a pé, possa ir ao restaurante a pé, à loja de roupa a pé. Tirar essas restrições de comércio que existem hoje, que fazem, por exemplo, com que avenidas inteiras só tenham lojas de colchão por causa das proibições de leis municipais. É preciso aquecer a economia urbana e diminuir a necessidade desse deslocamento tão grande pela cidade, que causa muito trânsito e muito transtorno na vida das pessoas. Outro ponto é quebrar esses oligopólios do transporte que a gente tem na cidade hoje. São os mesmos grupinhos que dominam o transporte, prestam um péssimo serviço, a um preço muito caro.

Simone: Mas todo candidato diz isso antes da eleição, quando chega na prefeitura...

Kataguiri: Agora vou te falar como vou fazer isso, que é o mais importante. Hoje a mesma empresa que compra o galpão, que compra os ônibus, ela precisa operar a linha com motorista e com cobrador. O que se faz no mundo desenvolvido para gerar mais competição? Você separa essas duas competições. Uma empresa é responsável pela garagem e pelos galpões e a outra é responsável pela operação. Por quê? Existem muito mais empresas com capacidade financeira de operar do que de fazer o investimento de capital. Se você tira essa venda casada, você aumenta muito, inclusive pode trazer empresas de fora do país. Tenho muito contato com empresas japonesas, o governo japonês tem interesse de investir, tem interesse de operar no Brasil, mas não operam por causa dessa venda casada que a gente tem no nosso transporte público.

Separando essas duas competições e proibindo as empresas de capital de operar as linhas de ônibus, conseguimos reestruturar as linhas, ter um básico no ônibus hoje com qualidade de capital, que é ter um wi-fi, carregador de celular, ar condicionado, conforto mínimo que é merecido pelo cidadão, gerando essa abertura inclusive internacional.

Simone: O senhor está em seu segundo mandato como deputado federal. No União Brasil, sua candidatura parece um pouco incerta. Tem aliado jogando contra o senhor nesse desejo seu de ser candidato à Prefeitura de São Paulo?

Kataguiri: Há uma disputa dentro do partido. Tem, por exemplo, o presidente, Antonio Rueda, e o secretário-geral, ACM Neto, que apoiam a minha candidatura à prefeitura de São Paulo. Temos o vereador Milton Leite, aqui na cidade de São Paulo, que apoia a reeleição do Ricardo Nunes. Inclusive, devo me encontrar muito em breve com o vereador Milton Leite para que a gente organize as prévias do partido, para que a gente decida o apoio. Tenho plena convicção de que a maioria do partido, tanto na Executiva Nacional, na Executiva Estadual, no final das contas, decidirá por ter uma candidatura própria, até para o partido passar a ter rosto, passar a ter voto no debate nacional, coisa que hoje não tem. Então, tenho plena convicção que, apesar dessa disputa interna no partido, não só vou ter a minha nomeação, como todos vão me apoiar. Inclusive aqueles que hoje apoiam a reeleição do prefeito.

Simone: O vereador Milton Leite é um aliado de primeira hora do atual prefeito Ricardo Nunes. As pesquisas mostram que o se o senhor não concorrer, o atual prefeito tem mais chance, numericamente, de vencer a eleição. Acha que isso é um ponto de pressão para a eventual retirada da sua pré-candidatura?

Kataguiri: Na realidade, as pesquisas não dizem que o atual prefeito teria mais chance de vencer, as pesquisas dizem que a maior parte das minhas intenções de voto vão para ele

Simone: O Datafolha diz que, numericamente, Nunes passa o candidato Guilherme Boulous se o senhor não estiver no cenário.

Kataguiri: Agora, outra parte significativa das minhas intenções de voto vão para a Tabata Amaral, porque nós dividimos o eleitorado jovem. A Tabata, não tenho a menor dúvida de que apoiaria eventualmente no segundo turno o deputado Guilherme Boulos para a Prefeitura de São Paulo

Simone: O senhor apoiaria o Ricardo Nunes?

Kataguiri: Deixa eu esclarecer, não acredito que a minha retirada de candidatura beneficiaria o prefeito Ricardo Nunes. Pelo contrário. Acho que poderia até mesmo atrapalhar os seus planos, porque o campo da direita ou da centro-direita poderia perder com a deputada Tabata trazendo parte dos votos da juventude de centro-direita para a candidatura de Guilherme Boulos. Aí você me pergunta se eu apoiaria o Ricardo Nunes no segundo turno, só trabalho com hipótese de eu estar no segundo turno.

Simone: Bom, vocês dois são políticos de direita...

Kataguiri: Eu sou político de direita.

Simone: O Ricardo Nunes, não?

Kataguiri: Não só ele não é de direita, como ele próprio diz que é uma pessoa de centro e foi base do governo Haddad na cidade de São Paulo, é sempre bom lembrar.

Simone: Mas agora ele também está se aproximando de Bolsonaro, que é o símbolo da direita no Brasil...

Isso só mostra que ele não é um sujeito de direita, só mostra que ele, na realidade, quando foi conveniente, esteve com o Haddad, e agora que é conveniente, quer estar com Bolsonaro.

Simone: O senhor nasceu em Salto, no interior de São Paulo, morou em Limeira. Estudou em Santo André, enquanto estudava economia na Federal do ABC, e, desde os seus 19 anos, está em Brasília?

Kataguiri: Não.

Simone: O senhor foi eleito pela primeira vez?

Kataguiri: Com 22 anos.

Simone: O senhor viveu muito tempo fora de São Paulo. O senhor acha que conhece o suficiente para ser prefeito de uma cidade tão importante, dinâmica, e que tem uma importância nacional e na América do Sul?

Kataguiri: Não tenho a menor dúvida. Primeiro porque sou o único com um Plano de Governo pronto nesta etapa do campeonato, e todos os outros ainda estão em elaboração. Segundo que toda a minha trajetória política foi construída na cidade de São Paulo, desde as manifestações pelo impeachment até o mandato de deputado federal. Não me mudei para Brasília, preciso ir à Brasília todas as semanas para frequentar as sessões, mas moro na cidade de São Paulo.

Simone: O senhor mora onde?

Kataguiri: Moro em Campo Belo, minha irmã em Interlagos, e minha mãe na Bela Vista. E ela, na Bela Vista, já foi assaltada quatro vezes e é uma das razões pelas quais eu acho que a segurança pública é o principal assunto, a principal preocupação do cidadão paulistano e de todos que moram na cidade de São Paulo de maneira geral. Então, estudei, viajei o Brasil e o mundo, para trazer as melhores propostas para a cidade de São Paulo. Andei toda a cidade de São Paulo, todos os 58 distritos em que a cidade está dividida. Andei, escutei os comerciantes, escutei os moradores para conhecer as principais preocupações. Não tenho a menor dúvida de que não só estou preparado, como sou o mais preparado para a cidade de São Paulo.

Simone: O senhor poderia citar um projeto que tenha conseguido aprovar na Câmara Federal e poderia trazer para uso em São Paulo?

Kataguiri: Aprovei no ano passado o aumento de pena para furto, roubo e receptação, que é o grande incentivo econômico do assalto. Se você mantém na cadeia quem coloca a arma na cabeça do cidadão, diminui o número de crimes cometidos, como a gente já observa em parte do mundo desenvolvido, até no mundo subdesenvolvido que tem leis mais rígidas que o Brasil e consegue melhores resultados na segurança pública. O Marco Legal das Startups. Pretendo criar um porto digital no centro de São Paulo para revitalizar a cidade, como foi feito há décadas em Recife – trazer empresas de tecnologia, formar programadores, formar designers, para já sair com o ensino técnico profissionalizante, indo para o mercado de trabalho, recebendo os excelentes salários que essa indústria paga.

Mesmo no plenário do Senado, aprovei o Marco Legal dos Games, que é a indústria que mais cresce no Brasil depois da agroindústria. A gente está falando não de entretenimento, ou de joguinho para criança, mas de 120 milhões de brasileiros que já jogaram ou jogam jogos eletrônicos e isso gera centenas de milhares de empregos diretos e indiretas. Para você ter uma noção, hoje, a indústria de games é maior que a do cinema e da música somados. É uma indústria gigantesca, de mais de R$ 1 trilhão no mundo inteiro, no Brasil, multimilionário. Tem uma capacidade muito grande de gerar emprego e renda na cidade de São Paulo, que, na minha avaliação, deveria ser um polo dos games, da tecnologia, mas infelizmente está muito atrás. Isso, inclusive, ajudando a revitalizar o centro histórico, como foi feito em Recife. Nós podemos trazer vida, segurança, iluminação, limpeza, escolas técnicas, empresas, restaurantes, bares e tudo que decorre dessa ação de porto digital para melhorar a cidade de São Paulo.

Quando fui presidente da Comissão de Educação, aprovei o reajuste do valor da merenda, que era de centavos, e a bolsa permanência também para os alunos de universidades públicas que não têm condições de pagar suas despesas pessoais. Eles conseguiram passar na universidade e muitas vezes não conseguem estudar por falta de bolsa, que estava há mais de uma década sem reajuste.

Simone: Nessa questão da educação, o senhor é a favor do CÉU no modelo que ele é?

Kataguiri: Você poderia estender os turnos. Inclusive, ter abertura aos finais de semana. Aliás, uma demanda que escuto muito em vários bairros, principalmente na periferia é: "Muitas vezes tenho que buscar meu filho às 17 horas, mas, às vezes saio do trabalho às 17 horas e mesmo quando sou dispensado antes, não dá tempo de chegar até a escola". Estender esse turno e deixar de tratar o ensino infantil como depósito de criança, que é o que é feito hoje não só na cidade de São Paulo, mas no Brasil inteiro. Fazer com que você tenha atividades para já, aos seis anos de idade, a criança já esteja bem encaminhada para alfabetização, para ensinar operações básicas de matemática, para atividades lúdicas e os brinquedos voltados para que essa criança desenvolva o seu cérebro com mais consistência.

Que a gente tenha também dois programas que defendo muito. Primeiro, um bônus para os professores e o próprio diretor da escola em relação ao aumento de assiduidade e ao desempenho. Se as notas são satisfatórias, são boas o suficiente para a maior cidade da América Latina. E o outro programa que tenho defendido, até para estimular os estudantes, e também para mostrar para os estudantes da periferia que eles têm a perspectiva de conquistar o mundo, é algo que foi feito na Secretaria de Educação do Rio de Janeiro, que é programa sonho grande. Os melhores alunos da rede vão para a Nasa e para a Disney. A maior parte dos estudantes da rede pública sequer tem noção de que isso é possível para a vida deles. Só de você dar essa perspectiva... Digo isso, porque, quando eu era criança, tinha um concurso de redação em que você ia conhecer os estúdios de uma TV local, e escrevi dezenas de redações. Nunca passei, nunca conheci o estúdio dessa TV, mas o tanto que escrevi, o tanto que aprendi a ler, a escrever, com qualidade, com consistência, me ajudou para o resto da minha vida e a desenvolver a minha carreira profissional. E não tenho menor dúvida que esses alunos também terão essa mudança na vida deles.

Simone: Então o senhor vai mandar para a Disney, conhecer o Mickey?

Kataguiri: Exatamente.

Simone: O MBL, do qual o senhor faz parte, tenta ser um partido político. E é de se esperar que, quando isso vire realidade, o senhor migre para o MBL. Não será que por essa certeza que , dentro do seu próprio partido, senhor tenha hoje um pouco mais de dificuldade de impor essa sua vontade, esse seu desejo, de mostrar sua capacidade como candidato à prefeitura de São Paulo? ?

Kataguiri: Acho que são dois temas diferentes. A disputa do União Brasil envolve o protagonismo nacional do partido, ter um posicionamento, ter um candidato, participar do debate nacional ou fazer parte da base do prefeito, e continuar sendo um partido que não tem um projeto próprio, não tem projeto majoritário. Sou uma pessoa que, sem dúvida nenhuma, aprendi que a palavra e a lealdade são duas coisas fundamentais, e a gratidão de conseguir a nomeação por parte da maior parte dos filiados do partido, e a dívida que tenho com esses filiados. Não estou falando de dívida de pagar boleto, não. Estou falando de dívida moral, política.

A gratidão por isso, vou carregar ao longo do resto da minha trajetória política e a gente sabe que a política tem altos e baixos. O mundo da política dá muitas voltas e muitas pessoas, nos momentos mais difíceis, precisam que os políticos tenham essa lealdade e essa gratidão para defender os seus projetos. Não tenho menor dúvida de que hoje o apoio que tenho tido do Antonio de Rueda e do ACM Neto, que já sabem que sou correto desde o início na minha carreira política no Democratas ainda, até hoje continuando para o resto da minha vida política. Não quero que seja o resto da minha vida. Quero fazer mestrado, quero fazer doutorado, quero dar aula de Direito.

Simone: O senhor é um político que tem prazo de validade?

Kataguiri: Tenho prazo. Não sei qual é, mas não é o resto da minha vida, porque quero deixar o meu legado na vida pública, algo de que eu me orgulhe de contar para os meus filhos e meus netos, mas ficar o resto da vida na política, acho que eu não tenho condição mental para isso.

Simone: Qual é o legado que o senhor quer deixar para São Paulo? Por que o senhor quer ser prefeito da cidade de São Paulo?

Kataguiri: Eu quero deixar dois legados principais. O primeiro é acabar com o domínio do crime organizado e desorganizado na cidade de São Paulo. Você poder andar seguro pelas ruas. O policial e o guarda municipal e a polícia municipal terem a certeza que, se no exercício da sua função, um bandido apontar a arma para a cabeça de um cidadão e ele matar esse bandido, vai ter o respaldo jurídico da Prefeitura de legítima defesa de terceiro para cumprir a sua função e para poder combater a criminalidade, além de câmeras. Com a Inteligência Artificial hoje, você já tem em São José dos Campos câmeras que reconhecem aqueles indivíduos que estão registrados na Secretaria de Segurança Pública (SSP) do Estado e também no sistema do Ministério da Justiça, e imediatamente esse sujeito já é abordado pela polícia assim que há algum registro de alguma ocorrência, que ligam "olha, tem uma pessoa aqui com um terno cinza, um sapato marrom, que acabou de me assaltar na rua". No momento em que você fala sapato marrom e terno cinza, aparecem todas as pessoas com essas características na cidade inteira e você consegue mapear a localização na cidade. Por isso São José conseguiu reduzir 70% no número de roubos e 40% no número de homicídios.

E outro legado que quero deixar para a cidade é erradicar a miséria. Há 700 mil pessoas miseráveis hoje na cidade de São Paulo, não é que sejam pobres, elas estão passando fome, isso não vai existir. Na cidade de São Paulo temos orçamento, temos imóveis, temos estrutura para erradicar a miséria na cidade. Para que todas essas pessoas não só saiam da miséria, mas saiam da pobreza e possam ingressar na classe média robusta, porque acho que a cidade de São Paulo merece que as pessoas tenham dignidade de ter o próprio trabalho, de ter o próprio sustento da sua família e poder contribuir para a sociedade.

Simone: Ser prefeito de São Paulo é uma dor de cabeça imensa. O senhor está preparado? Está preparado para abrir mão da sua vida pessoal?

Kataguiri: Eu já não tenho vida pessoal, deixei isso lá trás. Estou muito resoluto nessa decisão e sei que tenho – ontem mesmo recebi uma mensagem da minha mãe, às 23h, enquanto estava na Câmara, falando que ia dormir e que tinha gostado do que eu disse. Então, brinco, Simone, que ninguém pode me parar, ninguém pode me causar mal, porque minha mãe me apoia, meu amigos me apoiam, minha família me apoia e tem orgulho do meu trabalho.

Então, enquanto eu for privilegiado de ter essa família que me ama e me apoia, não vão ser problemas políticos ou demandas ou o trabalho que seja que venha com a prefeitura. Porque não tenho a menor dúvida de que preciso ter dor de cabeça, não posso ter vida pessoal, porque se estou me dispondo a ser chefe do Executivo da maior cidade da América Latina, preciso carregar esse fardo e essa responsabilidade de ter tido a confiança das pessoas de governar para todo mundo, porque, diferente do cargo legislativo, em que eu represento um segmento da sociedade, no cargo Executivo represento todo mundo, inclusive quem não votou em mim, quem não votou em ninguém, porque vou governar para todo mundo.

Simone: O senhor acha que a polarização vai se fazer presente também na sucessão municipal?

Kataguiri: Infelizmente, acho que sim. Nós temos aí um candidato de extrema-esquerda, na minha avaliação, que é o Guilherme Boulos, cujo partido é responsável pela pior administração do Brasil, que é na cidade de Belém. E não é esse tipo de ideologia de defesa que eu quero, ainda mais, por exemplo, recentemente nós votamos tanto no projeto de aumento de pena para furto e receptação como o fim da saidinha para criminosos que matam, sequestram, torturam, estupram, e não passam no exame criminológico; Porque eu acho que, de fato, toda a pena deveria ser cumprida dentro da cadeia e a ressocialização se deveria dar por estudo e trabalho dentro da cadeia, como acontece, por exemplo, no Japão, um dos países mais seguros do mundo e com os maiores níveis de ressocialização e menores níveis de reincidência do mundo. E, infelizmente, nesses dois projetos, tanto o deputado Guilherme Boulos quanto a deputada Tabata do Amaral votaram contra.

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