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Apoio de Barbosa a Lula é "possibilidade de furar bolha", diz cientista político

Nesta 3ª feira, além do ex-ministro, o economista André Lara Resende declarou apoio ao candidato do PT

Apoio de Barbosa a Lula é "possibilidade de furar bolha", diz cientista político
Joaquim Barbosa à frente da bandeira do Brasil (Fellipe Sampaio/STF)
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A declaração de apoio à candidatura de Lula (PT) por parte do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e relator da denúncia contra os acusados do escândalo do Mensalão na Corte, Joaquim Barbosa, é importante para o petista na disputa pelo Palácio do Planalto, de acordo com cientistas políticos. Na avaliação do doutor em ciência política e professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Julian Borba, ela "representa a possibilidade de furar bolha e de buscar segmentos que não tem simpatia imediata com a candidatura".

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Conforme o especialista, "a grande dificuldade numa eleição polarizada é os candidatos saírem dos seus grupos ideológicos preferenciais". "Nesse caso, Bolsonaro com grupos mais à direita, e Lula com grupos mais localizados à esquerda, seja com autoposicionamento, seja com pautas em torno desses campos ideológicos. E, nesse sentido, os apoios significam possibilidade de furar essas bolhas, significam, nesse caso, do Joaquim Barbosa especificamente, buscar um eleitor de centro que de alguma maneira é crítico ao PT e assim como outras manifestações que houve, por exemplo, o caso do ex-presidente do Banco Central e secretário da Fazenda de São Paulo Henrique Meirelles, que é alguém muito ligado ao mercado financeiro, aos empresários".

Para Borba, o apoio de Meirelles (União) e Barbosa significam, então, "quebrar resistências desses segmentos ou de parte desse segmento com relação a essa candidatura". O integrante do União Brasil declarou que apoia a candidatura do ex-presidente petista na semana passada. O anúncio foi feito em encontro entre os políticos no Hotel Gran Mercure, em São Paulo. Do evento, participaram ainda outros sete ex-candidatos a presidente do Brasil: Geraldo Alckmin (PSB), candidato a vice na chapa de Lula; Fernando Haddad (PT), candidato a governador de São Paulo; Marina Silva (Rede), candidata a deputada federal por São Paulo; Guilherme Boulos (Psol), candidato a deputado federal paulista; o ex-senador Cristovam Buarque (Cidadania); a ex-deputada federal Luciana Genro (Psol); e o ex-deputado estadual Goulart Filho (PCdoB). Todos confirmaram apoio a Lula nas eleições deste ano.

Nesta 3ª feira, além de Joaquim Barbosa, o economista André Lara Resende, que integrou a equipe econômica que implementou o Plano Real no Brasil, e um grupo de economistas contrários a políticas implementadas no passado por governos petistas também declararam apoio ao candidato do PT na corrida presidencial. Segundo o doutor em ciência política Lucas Rezende, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o gesto do ex-ministro do STF é "significativo". "Primeiro falando coisas bastante negativas a respeito do Bolsonaro e também enaltecendo a importância de eleger o Lula no primeiro turno já. Então isso é muito significativo vindo de quem vem. Aquela parcela da população que passou a se voltar contra o PT ali nos primórdios do antipetismo, a partir do mensalão, aquela parcela da população então que tinha votado no PT e que não votou se sentiu muito representada pelo Joaquim Barbosa nas decisões que tomou", pontuou, em entrevista ao SBT News.

Ele relembra que Barbosa foi indicado ao STF por Lula, mas, depois, "foi o grande algoz do PT na época do Mensalão" e encerrou sua passagem pela Corte "com decisões nada favoráveis" à sigla. Por outro lado, analisa, o apoio dele agora "não é muito diferente também de outras posições que a gente viu recentemente". "De todos os ex-candidatos a presidente que o Lula conseguiu reunir, a própria Marina Silva, que tinha tido um problema muito grande com o PT e com o Lula. Só hoje a gente teve também o André Lara Resende, que foi um ex-ministro do Fernando Henrique Cardoso, um dos formuladores ali do Plano Real, também um manifesto de economistas que não são ligados à linha econômica do PT".

O manifesto é assinado por 39 economistas. Entre eles, pessoas ligadas à Fundação Getulio Vargas, Insper e Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). "Em que pesem sérias discordâncias a respeito de políticas implementadas no passado por governos do PT, reconhecemos no ex-presidente Lula a única liderança capaz de derrotar o atraso maior representado pelo atual governo. Viabilizar a sua vitória em primeiro turno nos parece a resposta mais contundente, segura e efetiva de proteção à democracia no Brasil", afirmam no texto. Dessa forma, reforça Rezende, "a manifestação do Joaquim Barbosa se soma a muitas outras manifestações do tipo mostrando que de fato é importante que o Lula vença no primeiro turno para que Jair Bolsonaro e a antipolítica sejam levados ao cabo". Ainda em suas palavras, "são manifestações que buscam defender o Estado democrático de direito".

Na avaliação do doutor em ciência Política e professor de políticas públicas e ciência política da Universidade Federal do ABC (UFABC) Diego Corrêa, o apoio de Barbosa "tem uma importância simbólica". Entretanto, acrescenta, é "muito marginal para afetar o voto dos eleitores". "As pessoas escolhem seus candidatos por razões distintas, mas na próxima eleição o maior peso será dado ao desempenho de ambos os candidatos durante suas administrações. Em eleições presidenciais, nada é mais importante do que a avaliação que o eleitor faz das realizações de quem está concorrendo. Isso é chamado de 'voto retrospectivo'."

Rodrigo Horochovski, doutor em sociologia política e professor do Programa de Pós-Graduação em ciência política da Universidade Federal do Paraná (UFPR), por sua vez, vê o gesto de Barbosa "como um apoio com um simbolismo muito forte, na medida em que o ex-ministro foi o ator principal ali do processo do mensalão". Também em sua análise, "do ponto de vista das narrativas que se constroem nesta eleição, acaba sendo muito importante, sem dúvida nenhuma. Sinaliza, por exemplo, para aqueles indecisos muito imbuídos com esse discurso de combate à corrupção, da questão da moralidade na política, algo muito importante, vindo de quem vem".

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