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Quem lê tanta pesquisa?

Em setembro, o Brasil deverá ter mais de mil pesquisas publicadas em todos os estados, para todos os cargos

Quem lê tanta pesquisa?
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Só nesta semana, que abre setembro, e apenas em termos de pesquisas presidenciais nacionais, foram registradas nada menos do que 12, mais do que as duas primeiras semanas de agosto somadas.

A curiosidade é natural. Conforme se aproximam as eleições, candidatos querem entender como podem focar suas estratégias, financiadores querem definir como fazer suas apostas e eleitores querem ter uma ideia das chances de seus candidatos. Pesquisas que dizem apenas o que alguém quer ouvir podem servir como peça de marketing, mas não têm qualquer valor estratégico.

É um erro supor que as pesquisas "preveem" o resultado do que vai acontecer lá em outubro. Nas pesquisas, os eleitores abordados respondem hoje sobre o que querem fazer daqui a um mês com base naquilo que sabiam até ontem. Um clichê do setor diz que a pesquisa é um retrato do momento, mas esse retrato faz mais sentido quando a gente observa o "rolo de filme" inteiro.

Um retrato caro 

Por isso é que os resultados das pesquisas são considerados tão valiosos: a partir disso que se sabe que o eleitor pensa hoje, um estrategista pode planejar o que fazer amanhã para que esse resultado que se desenha vá mudando até outubro.

Pelos valores declarados ao TSE, apenas em agosto as sondagens custaram R$ 21 milhões pagos por empresas de mídia, do mercado financeiro, partidos, associações de empresários e entes que preferiram não mostrar o rosto. (Nesse último caso, os institutos costumam informar que as sondagens foram feitas com recursos próprios e o TSE não pede para ver a nota fiscal. É um sinal de alerta importante sobre a qualidade de uma pesquisa.)

Políticos, jornalistas, operadores e outros curiosos aguardam os novos resultados roendo as unhas. Como cada pesquisa sai espaçadamente e os institutos se alternam, cada novo resultado parece atirar para um lado. Caiu! Subiu! Encostou! Não, pera, é empate técnico! Quase existe torcida organizada de institutos, o que deveria ser mais ou menos como torcer por marcas de termômetro.

As médias das pesquisas em um agregador

Isso acaba aumentando a ansiedade de todos os envolvidos, como se faltassem outros motivos para tanto. Por isso criei o agregador de pesquisas da Lagom Data, o estúdio de inteligência de dados que dirijo em São Paulo: para tentar desacelerar o cenário e enxergá-lo em perspectiva.

Agregamos os resultados por médias, e aí tudo bem que uma pesquisa puxe para um lado e outra puxe para o outro. Existe um ponto central em torno do qual os resultados gravitam. Também agregamos os resultados por semana. Muitos eleitores decidem só em cima da hora, mas nas semanas anteriores não há tanta mudança possível de uma semana para outra, especialmente com uma campanha curta como é o caso agora.

E é claro que nem todas as pesquisas são iguais, por isso calculamos médias por metodologia, ou forma de abordagem do eleitor (face a face e telefone), e por tipo de financiador (mídia e bancos são os mais frequentes, por isso calculamos as médias só deles). Há diferenças entre a média geral e essas outras quatro. E mesmo dentro dessas médias há bastante variação, por isso incluímos as séries completas de cada instituto.

Originalmente, vínhamos incluindo todas as séries de pesquisas que apareciam. Já existiam alguns institutos cujos resultados escapam bastante da média; como eles já vinham testando sua metodologia antes do início da campanha, porém, mantivemos suas séries.

Mais perto da eleição, porém, sempre surgem institutos sem tradição e nem histórico recente de pesquisas. Nada contra quem está começando, mas historicamente sempre existem institutos que surgem do éter divulgando resultados que apenas tumultuam o ambiente de informação. Como não faltam outras pesquisas, não os incluo e nem os leio. Na próxima eleição, quando eles terão um histórico para avaliar, avaliaremos.

A palavra "lagom", que usei para batizar minha empresa, é uma das ideias mais bonitas da língua sueca. Significa "o suficiente". Nem demais, nem de menos, apenas o necessário. A maior parte do debate sobre dados, porém, não é nada assim. É ótimo como marketing, mas quem conhece um pouco do assunto sabe que não precisa ser desse jeito.

Acompanhar os prognósticos da eleição também é algo que pode ser feito de maneira mais calma. O que importa é entender melhor o ambiente. Espero que o agregador da Lagom Data, publicado em parceria com o SBT News, ajude a trazer a você essa tranquilidade de raciocínio.

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