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Primeiro debate foi "batalha de rejeições", diz cientista político

Para doutor em Ciências Sociais, próximos debates devem ter clima ainda mais acirrado de acusações

Primeiro debate foi "batalha de rejeições", diz cientista político
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O primeiro encontro entre os candidatos à Presidência da República, promovido pela TV Bandeirantes e mídias parceiras, que aconteceu na noite de domingo (28.ago), foi um debate de "poucas propostas" e baseado em uma "batalha de rejeições". É o que afirma o professor e doutor em Ciências Sociais Paulo Niccoli Ramirez.

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Em entrevista ao SBT News, Ramirez afirmou que as narrativas predominantes foram as acusações de corrupção contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e críticas contra a gestão da pandemia do atual presidente Jair Bolsonaro (PL). "Ficou evidente que Bolsonaro e Lula foram os grandes alvos de ataques e críticas nessa batalha de rejeições", disse ele.

Quando questionado se houve um ganhador do debate, o professor citou que isso é complicado de definir, já que depende muito da visão partidária de cada membro da sociedade.

"Para os bolsonaristas, o Bolsonaro foi bem sucedido. Para os lulistas a mesma coisa, Ciristas de forma idêntica e Tebet igualmente", afirmou.

Ainda assim, segundo o cientista político, Simone Tebet (MDB) se sobressaiu, pois teve condições de apresentar propostas sem se exaltar e soube se controlar, além de não ter sido duramente criticada por nenhum candidato.

"Me parece que apesar de ter poucos votos, poucas intenções de voto nas pesquisas, Simone Tebet soube sim participar desse jogo de críticas, de batalhas de narrativas, de disputas pelo eleitorado e ela se sobressaiu. Primeiro por manter, digamos assim, a sua capacidade de se comunicar, não se exaltou, apresentou ideias", completou Ramirez. 

Para o professor, Lula não apresentou nenhuma grande proposta política, a não ser o argumento de que caso fosse eleito faria ainda melhor do que antes. Já Bolsonaro se destacou pelas críticas ao PT, mostrando ser uma figura declaradamente conservadora, de direita, a favor da família, da pátria e dos bons costumes.

Bolsonaro se exaltou chamando Lula de ex-presidiário, o que rendeu um direito de resposta ao ex-presidente, mas não foi o único. Para o doutor em Ciências Sociais, Ciro Gomes também se exaltou com o que chamou de "uma disputa infeliz de machismos", quando confrontou o atual presidente e acabou recebendo acusações de também não respeitar mulheres. Como Tebet não foi atacada por nenhum dos adversários, Ramirez acredita que ela tenha sido a candidata com melhor desempenho, embora isso não necessariamente se converta em votos.

"Nesse frigir de ovos, tenho a impressão de que a Tebet teve um melhor desempenho, o que não significa necessariamente que isso resultará no aumento dos votos, mas ela foi muito bem preparada para esse debate", afirmou o professor.

O que predominou nessa batalha de narrativas dentro do primeiro debate foi um processo de recíproca deslegitimação entre os candidatos que estão a frente nas pesquisas, já que eles não foram poupados de críticas, com especial atenção para algumas falas mais agressivas do presidente Bolsonaro. Segundo Ramirez, o tom das campanhas deve ser de comparação de gestões, já que pela primeira vez temos dois presidentes concorrendo ao cargo.

"O debate ficou totalmente monopolizado em relação a uma comparação entre Lula e Bolsonaro, mesmo porque como eu disse temos pela primeira vez dois presidentes participando, enquanto que críticas eventuais a Ciro, Tebet e aos outros candidatos foram amenizadas pelo fato de que são políticos que não tiveram a experiência da presidência", disse ele. 

O professor ainda pontuou que a forma como a mulher brasileira foi tratada, seja por Ciro, seja por Bolsonaro, foi o ponto baixo do debate. "Independentemente das opiniões, é fundamental em um debate você respeitar a opinião alheia, então me parece que nesse quesito o Bolsonaro foi quem se saiu pior. No entanto, isso pode ser um ponto positivo para os seus seguidores, os bolsonaristas, com a imagem que ele tenta propagar de um político viril", afirmou ele.

Ele também destacou que outro ponto baixo foi quando Lula foi chamado de ex-presidiário:

"Gostemos ou não de Lula, é preciso reconhecer que a justiça desfez boa parte desses processos em função de certas ingerências de Sérgio Moro, passando por cima de direitos fundamentais de defesa e até mesmo da legitimidade do processo, que foi para Curitiba, mas deveria ter ficado em São Paulo ou Brasília. Querendo ou não, um ex-presidente é uma autoridade de estado e merece o devido respeito, ainda que ele não seja popular, que a população tenha uma visão negativa", concluiu Ramirez. 

Ao falar dos pontos positivos, Ramirez afirmou que após semanas de incertezas quanto a participação de alguns presidenciáveis, a presença de todos eles demonstrou um compromisso com o eleitor e com a democracia.

"Me parece que a própria existência do debate e o fato dos candidatos terem comparecido, não se esquivarem radicalmente das questões ou, pelo menos, procurarem debater uns com os outros, eu acho que esse foi o ponto culminante. Isso mostra que esses políticos que participaram do debate minimamente têm um compromisso com o eleitor" , afirmou ele.

Bolsonaro e Lula, de acordo com o professor, foram ao primeiro debate por um simples motivo: como eles concentram mais de 70% do eleitorado nas pesquisas de intenção de voto, a eleição pode se definir no primeiro turno. Então interessava tanto a Lula quanto a Bolsonaro estarem presentes, porque isso significaria atrair mais votos e a ausência significaria afastar votos. Bolsonaro "evitou que uma margem de votos migrasse para outros candidatos ou que se transformassem em votos nulos ou brancos e mostrou para suas bases políticas uma certa força ao estar presente no debate, ao não se esquivar das perguntas e polemizar no interior do próprio debate, seja com as perguntas ou com os concorrentes, principalmente o Lula" disse Ramirez.

Apesar disso, segundo o doutor, essa "avalanche de acusações" que recai sobre os dois pode culminar em transferência de votos para os outros candidatos,

"O fato deles estarem presentes pode perfeitamente atrair mais votos, mas as acusações que eles receberam pode atrair mais votos pros candidatos até então nanicos", afirmou ele.

Ramirez analisa que não participar dos próximos debates pode ser um erro dos marketeiros das campanhas de Lula e Bolsonaro, já que pesquisas apontam que os dois tem as duas maiores rejeições e os encontros são fundamentais para criar uma aproximação maior dos candidatos com o eleitor. O professor concluiu afirmando que, por isso, os "próximos debates devem ter clima ainda mais acirrado de acusações".

 O próximo debate será no SBT, no dia 24 de setembro, às 18h30, promovido pelo pool formado pelo SBT, CNN, Estadão, Terra, Nova Brasil FM, Veja e Rádio Eldorado.

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