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Filiados e especialistas divergem sobre futuro do PSDB após prévias

Eleição interna do partido será realizada em 21 de novembro; candidatos fizeram primeiro debate

Filiados e especialistas divergem sobre futuro do PSDB após prévias
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Daqui a menos de um mês, os mais de 1,3 milhão de filiados do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) votarão para decidir quem será o candidato da sigla à presidência em 2022: o governador de São Paulo, João Doria, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, ou o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio. Tucanos afirmam que o partido sairá unido do processo de eleição interna, mas especialistas enxergam um resultado diferente.

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E há ao menos quatro motivos para isto: o desejo de vencer de cada presidenciável; a pouca expressividade de Doria e Leite nas pesquisas de intenção de voto referentes ao pleito do ano que vem; um racha já existente entre figuras tradicionais e outras novas do PSDB; e uma vontade presente na sigla de se afastar do bolsonarismo. Na última 3ª feira (19.out), no primeiro debate entre os candidatos das prévias, Doria disse acreditar que, da eleição interna, o partido saíra "mais unido e fortalecido".

Segundo ele, os integrantes querem a unidade do país, e o PSDB é a única sigla "que realiza prévias, por respeito à democracia". "Elas nos unem, somam, nos fortalecem", completou. Ao SBT News, o secretário de Desenvolvimento Regional de São Paulo e presidente do PSDB-SP, Marco Vinholi, por sua vez, disse ter certeza de que o partido "sairá unido das prévias". "Tenho visto esta postura no modelo adotado por João Doria, agregando e sempre elogiando os adversários". Já a assessoria de Eduardo Leite pontuou: "As prévias vão decidir democraticamente o nome que melhor representa o partido no momento. Os demais seguirão junto do candidato que for eleito na disputa interna".  

Contudo, dois dias antes da realização do primeiro debate entre Doria, Leite e Virgílio, Vinholi escreveu no Twitter que "Leite vem a SP e ataca Doria mais uma vez. Diálogo na teoria, agressão na prática. É momento de termos um candidato para unir o partido e o país, não para dividir", se referindo a uma declaração dada pelo governador do Rio Grande do Sul em evento de campanha em Santo André, no ABC Paulista, cidade cujo prefeito -- Paulo Serra -- declarou apoio ao chefe do Executivo gaúcho na eleição interna. 

No evento, Eduardo Leite havia afirmado que "negar participação no debate e lançar suspeitas à forma de votação é coisa de bolsonarismo. Espero que não volte o BolsoDoria". A fala veio em resposta a notícias de que o governador paulista tinha decidido não participar do primeiro debate e que aliados seus estariam levantando desconfiança sobre o aplicativo Prévias PSDB, que será usado na votação.

Para o professor Bruno Bolognesi, do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal do Paraná (UFPR), "o PSDB vai, sim, sair rachado [da eleição interna] porque já entrou rachado". Em suas palavras, "é um partido que está tendo dificuldades, talvez desde a eleição ou a reeleição do presidente Lula e a primeira eleição da presidente Dilma, em coordenar a sua agenda em torno dos seus candidatos". Ele acrescenta que há subgrupos dentro da sigla em torno de algumas lideranças "há bastante tempo", entre as quais aquelas mais tradicionais, como o senador por São Paulo José Serra e o ex-governador Geraldo Alckmin, e outros mais novos, como o deputado federal por Minas Gerais Aécio Neves e João Doria. 

Questionado pelo SBT News se o PSDB ficará dividido após a eleição interna, Aécio disse que o mais importante agora é os tucanos buscarem "eleger alguém nas prévias que possa aglutinar outras forças políticas e da sociedade e liderar uma terceira via realmente viável eleitoralmente". "E dentro do partido a cada dia amplia-se o sentimento de que essa alternativa é representado pelo governador do Rio Grande do Sul. A outra candidatura nos levaria, muito provavelmente, ao isolamento, beneficiando a polarização entre Lula e Bolsonaro. Essa é a escolha que teremos que fazer!".

João Doria, Eduardo Leite e Arthur Virgílio participam do primeiro debate na 3ª feira (19.out) | Divulgação/PSDB
João Doria, Eduardo Leite e Arthur Virgílio participam do primeiro debate na 3ª feira (19.out) | Divulgação/PSDB

Na visão de Bolognesi, faz sentido o apoio de Aécio a Leite, como uma forma do deputado reforçar uma posição de que continua sendo psdbista, mas representante de uma corrente distinta da principal. Esta, segundo ele, é mais ligada ao estado de São Paulo, fator que justificaria o apoio manifestado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso a João Doria para as prévias. FHC, explica o professor, "faz um papel ali de manter o que a gente chama em ciência política de coalizão dominante do partido, manter o status quo funcionando, tendo um controle dos principais recursos do partido".

Ainda de acordo com o professor, a divisão dentro do PSDB é acentuada por atitudes de Doria que classifica como "oportunista", como o fato de ter se ligado à campanha de Jair Bolsonaro (sem partido) nas eleições de 2018. Na avaliação da professora e cientista política Mayra Goulart, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a sigla já está rachada e o motivo é o mesmo para conflitos observados em outras: o bolsonarismo.

"Esse racha que o PSDB deixou visível nessas prévias, em que a questão central foi um debate sobre quem é mais próximo do Bolsonaro, o Eduardo Leite atacando o Doria e vice-versa, para dizer quem é mais próximo, o Leite acusando o Doria de ter viajado para o Rio de Janeiro para tirar foto com o Bolsonaro e o Doria acusando o Eduardo Leite de ser bolsonarista, e o Virgilio cai numa posição divergente que não votou sequer no Alckmin em 2018, que no segundo turno votou no [Fernando] Haddad e no primeiro votou no [Henrique] Meirelles", pontuou. Ela vê o futuro do partido, após a eleição interna, com pessimismo, por há muito tempo apresentar dificuldade de "adotar uma postura comum para fora".

Já o Professor José Álvaro Moisés, do Departamento de Ciência Política da FFLCH-USP, afirma que, com base no primeiro debate realizado entre os candidatos das prévias, no geral, é possível dizer que haverá união independemente do resultado. Para ele, foi "altamente civilizado, eles trataram bem, sinalizaram durante esse debate que divergências que possam existir não vão separar do ponto de vista de quem vencer a prévia ser apoiado por todos". Por outro lado, sugere que, pelo fato de Doria e Leite não se destacarem nas pesquisas de intenção de voto para as eleições do ano que vem, pode levar a rachas: "no debate que eu assisti, o Eduardo Leite foi o único candidato que disse que se, mais para frente, houver algum outro nome que seja situado e que possa com isso representar a possibilidade de derrotar o presidente Jair Bolsonaro, ele aceitaria abrir mão da candidatura dele". 

Importância das prévias

Mayra Goulart pondera que o sistema de prévias adotado pelo PSDB surge como uma resposta "a uma demanda e a uma reclamação muito relevante da sociedade, que é sobre o afastamento do sistema partidário à sociedade civil". Para ela, esse tipo de instrumento utilizado pelos tucanos "já discrimina na sociedade civil temas que vão ser relevantes para as eleições [presidenciais]". Também em suas palavras, "permite uma maior renovação e uma maior representatividade da decisão dos partidos em parte da sociedade civil".

Por outro lado, de acordo com Bolognesi, "elas [as prévias] são instrumentos para organizar ou para resolver um problema de patronagem partidária, quem tem direito de distribuir cargo dentro do partido". Ele ainda afirma que as eleições internas costumam acentuar rachas pré-existentes e gerar outros novos. "E tende a quase sempre premiar não o candidato que mais agrada ou que seja o melhor candidato para o partido, mas o candidato que menos desagrada a maioria do partido". 

Diferenças entre os candidatos 

Para Mayra, apesar do racha já existente e que deve se acentuar após 21 de novembro, com exceção do Arthur Virgílio, os candidatos são muito parecidos ideologicamente. "Leite e Doria tentaram cada um se diferenciar se apresentando mais pró-reformas. O Doria dizendo que fez reforma administrativa já no estado, e o Leite dizendo que também fez", pontua. Ela ainda relembra que o chefe do Executivo gaúcho tentou taxar o outro tucano como gestor, mas que em sua atuação política "ficou o tempo inteiro usando essa deixa de gestor, de bom administrador". "Tem que pegar uma lupa para diferenciar os dois", conclui a professora.

Ainda de acordo com a cientista política, o fator que pode diferenciar os tucanos é a capacidade de "flertar mais com essa identidade dos novos tempos". Para ela, Eduardo Leite, por ter se declarado homossexual, consegue adentrar os campos da diversidade e da pluralidade, diferente de João Doria, que, em sua visão, "tem um perfil muito próximo do Bolsonaro".

Já segundo Bolognesi, Arthur Virgílio "entrou ali para funcionar como uma espécie de oposição interna e promover a candidatura que tem mais chance de território, não é uma candidatura viável". Na visão do professor da UFPR, a principal diferença entre João Doria e Eduardo Leite é o estado que cada um governa e, para ele, a tentativa de candidatura do governador do Rio Grande do Sul é "saudável no sentido de tentar promover uma renovação, tentar promover novas lideranças". "Tentar descentralizar o PSDB de São Paulo, fazer o PSDB chegar mais em outros lugares do Brasil".

Contudo, quando questionado sobre a posição ideológica de João Doria e Eduardo Leite, o professor da UFPR também afirma que os dois são parecidos. Segundo ele, a política de ambos é de promoção de privatizações, desregulamentações, "uma agenda mais neoliberal do PSDB, que era uma coisa mais lateral quando o partido era controlado pelo grupo do Fernando Henrique, do Serra".

A diferença de estilo político dos dois governadores, para Bolognesi, está centrada na questão midiática. "Eduardo Leite é uma pessoa que parece ser uma pessoa mais discreta", pontua.

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