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Eleições

Guilherme Boulos disse que votou em Márcio França para governador; leia entrevista na íntegra

Candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo passou por sabatina com repórteres do SBT nesta segunda-feira

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SBT News
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O candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos, disse que votou em Márcio França (PSB) no segundo turno das eleições para o governo paulista, em 2018. O pessedebista ficou em quarto lugar na disputa pela capital paulista e decidiu se manter neutro na disputa pela prefeitura paulistana. Em nota divulgada na sexta-feira, dia 20, França afirmou que "não aceita empurrões" ao se referir à pressão politica para integrar a frente ampla de esquerda que se formou a partir da junção de partidos que declararam apoio à candidatura de Boulos. "Eu tenho muita diferença com o Márcio França, mas, no segundo turno de 2018 eu votei nele para governador e não no João Doria. Porque eu acho que o Màrcio França, apesar de todas as diferenças que eu tenho com ele, ele era menos pior para São Paulo do que o João Doria", disse durante sabatina com repórteres do SBT News na tarde desta segunda-feira, dia 23

Boulos também falou sobre o debate em torno da volta às aulas na rede municipal durante a pandemia de coronavírus. O candidato disse que essa não é uma decisão política, mas médica, e prometeu a distribuição de cartões com dados de internet para que os alunos possam acompanhar as aulas online. "No mundo inteiro se distribuiu cartão de internet para os estudantes da rede pública de educação e se garantiu equipamentos para aqueles que não tinham. Era isso que deveria ter sido feito. Se, por ventura, não houver condições de retorno às aulas presenciais, é isso que vamos fazer, mas esperamos que haja no início do ano letivo de 2021", disse. 

Leia a entrevista na íntegra ou, se preferir, assista no canal do SBT News no Youtube. 
 
SBT NEWS: Antes da gente começar, propriamente dita, a entrevista, queria saber do senhor se você está bem? Porque nós soubemos que a deputada Sâmia Bomfim (PSOL) foi diagnosticada com Covid, e o senhor esteve com ela na sexta-feira. O senhor está bem? O senhor está com a algum sintoma? O senhor vai fazer o teste de Covid?
GUILHERME BOULOS: Olá, primeiro eu quero aqui desejar toda a recuperação pronta para a deputada Sâmia Bomfim, minha companheira de partido. Nós tivemos um contato muito rápido e esporádico, ambos de máscara, na sexta-feira passada, quando ela esteve em um evento da nossa campanha do segundo turno. De toda forma, eu não estou sentindo sintoma algum, o que é bastante compreensivo, tendo em vista também a natureza do contato que tive com ela, mas o por precaução minha, da equipe, da nossa própria campanha eu vou fazer sim fazer o teste, a minha equipe já está agendando para buscar fazer este teste amanhã durante o dia, mas como precaução.

SBT NEWS: Candidato, vamos falar de Covid-19. A chance de uma segunda onda da pandemia é cada vez mais real, vamos imaginar que o senhor é eleito e o senhor já assumiria com um "senhor" problema nas mãos. O senhor pensaria em fechar comércios, bares, restaurantes, retroceder mesmo caso seja necessário? O senhor teria algum receio de decretar um lockdown na cidade, se o senhor entender que é necessário?
GUILHERME BOULOS: Eu acho que isso não está colocado, hoje, nesse momento, o que se tem sim é um risco de uma segunda onda, isso não pode ser negado. Me preocupa muito ver o prefeito, Bruno Covas (PSDB), minimizando risco, dizendo que não está acontecendo nada, diante do aumento do número de internações nas últimas semanas. Me preocupa muito, também, ver o governador, o João Doria (PSDB), colocar para o dia 30 de novembro, um dia após as eleições, uma eventual atualização do Plano São Paulo da mudança de fases, que pode levar a um impacto do funcionamento do comércio. Eu acho que a Covid é uma questão prioritária, é a maior crise sanitária da nossa geração. Ela não pode ser misturada com o calendário eleitoral. Agora, havendo uma segunda onda, que todos nós esperamos profundamente que não, mas havendo uma segunda onda na cidade, eu, como prefeito, vou fazer a lição de casa, o que o prefeito Bruno Covas deveria ter feito lá atrás e não fez, que é a lição dos países que melhor enfrentaram o coronavírus, que é fazer testagem em massa. É um escândalo. Não sei se você sabe, mas nós estamos com 6 milhões de testes estocados no aeroporto de Guarulhos, próximos do vencimento da validade destes testes, e o prefeito não requisitou. Nós temos 8 mil agentes comunitários de saúde na cidade de São Paulo, que poderia estar operando o programa de testagem em massa, poderiam ter feito isso lá atrás. O que deu certo? Vamos pegar o exemplo da Coreia do Sul, que foi um dos países que melhor enfrentou o coronavírus, um país inteiro que teve menos mortes que São Paulo, o que deu certo lá? Testar, a partir dos testes fazer um monitoramento epidemiológico, identificar onde estavam os focos de transmissão da doença e, nesses focos, fazer um isolamento utilizando, inclusive, equipamentos públicos. Eles conseguiram conter, naquele momento, o alastramento da pandemia. Era essa a lição de casa que o Brasil e que a cidade de São Paulo deveriam ter feito, lamentavelmente não foi isso, nem que o governo Ffderal, nem que o governo do Estado, nem que o prefeito Bruno Covas fizeram. Eu como prefeito vou fazer.

SBT NEWS: Candidato, e com relação às escolas? Porque o senhor tem se manifestado contrário à volta às aulas presenciais, porque considera um risco? Ainda que se mantenha a pandemia, no nível que está hoje, ou se ela aumentar no ano que vem. O que senhor acha melhor? O que senhor faria se fosse eleito? O senhor fecha as escolas, mantém as escolas fechadas? Ou o senhor faz, como na Europa, por exemplo, onde eles fecham os bares, fecham o comércio, mas colocam as crianças nas salas de aula?
GUILHERME BOULOS: Primeiro, quero te dizer que eu respondo essa pergunta, não apenas como candidato a prefeito, respondo como professor. Dei aula na rede pública estadual, aqui de São Paulo, sei qual é a condição de trabalho dos professores, do cuidado do Estado com os professores, e como pai de duas meninas, que também têm aulas, nesse momento estão tendo aulas online. É evidente que todos nós queremos o retorno às aulas o mais breve possível, para reduzir os danos de aprendizado, para que os professores possam voltar a trabalhar, para que os pais, inclusive, possam ir trabalhar tranquilamente com os seus filhos nas escolas e nas creches. Esse é o desejo da cidade, esse é o desejo do Brasil. Agora, nós temos que ouvir quem entende do assunto, a decisão de segurança sanitária para o retorno às aulas. Ela não é simplesmente uma decisão política de um prefeito, ela tem que passar por infectologistas, por epidemiologistas. A gente assistiu, até de uma maneira, a sociedade assistiu isso, com muita repulsa, essa briga, essa politicagem, por exemplo, em torno do tema da vacina. [O presidente Jair] Bolsonaro e o [governador de São Paulo, João] Doria, os dois quase se estapeando, politizando o tema da vacina. A educação não pode ser tratada dessa forma. Havendo as condições sanitárias para o retorno, tendo um grupo de especialistas dizendo que há condições, com segurança para os profissionais da educação e para os alunos, nós vamos fazer esse retorno, quanto antes for possível. Enquanto não houver a segurança para o retorno às aulas, deveria estar sendo feito, e isso desde lá de trás, a garantia para que as crianças e os jovens tivessem acesso ao ensino à distância. A defasagem, o abismo que ampliou esse ano, porque muito dos alunos não têm acesso a internet, não têm o equipamento adequado, não têm um pacote de dados. No mundo inteiro se distribuiu cartão de internet para os estudantes da rede pública de educação e se garantiu equipamentos para aqueles que não tinham. Era isso que deveria ter sido feito. Se, por ventura, não houver condições de retorno às aulas presenciais, é isso que vamos fazer, mas esperamos que haja no início do ano letivo de 2021.

SBT NEWS: Candidato, vamos falar sobre racismo. É um problema tão antigo, quanto grave na cidade de São Paulo, e acho que cada vez mais urgente, como podemos dizer com o caso do João Alberto que foi assassinado no Carrefour em Porto Alegre. Como prefeito, que tipo de política pública o senhor pode adotar para, de fato, combater o racismo na cidade de São Paulo? 
GUILHERME BOULOS: Olha, Fabio [Diamante, repórter do SBT], primeiro quero aqui expressar minha completa solidariedade aos familiares do João Alberto Freitas. Acho que aquelas cenas que o Brasil assistiu nos últimos dias foi um negócio de corroer a gente por dentro. É ainda mais duro quando a gente vê que isso não é um caso isolado. Isso não foi uma cena que aconteceu no Carrefour de Porto Alegre e nada mais. Isso acontece diariamente no nosso país. Negros e negras sendo destratados, sofrendo violência, recebendo salário menor. O racismo precisa ser enfrentado de frente no Brasil e de uma vez por todas. Quando a gente vê o vice-presidente da República negando o racismo, não há um gesto mais racista do que esse. Agora, a gente precisa ser consequente nas políticas públicas. Não adianta gente que só solta nota, se solidariza, diz que ficou chocado e, tendo a caneta na mão, não toma as políticas públicas necessárias. O [João] Doria e o Bruno Covas desmontaram a Secretaria de Igualdade Racial na cidade de São Paulo. Nós vamos retomar essa secretaria com orçamento próprio, para fazer ações afirmativas e políticas de combate ao racismo em São Paulo. Nós vamos ter também um protagonismo de pessoas negras no nosso governo, em cargos fundamentais, no secretariado, para que o combate ao racismo se expresse, não só numa secretaria, mas em um conjunto das políticas públicas. Vou dar um exemplo na área da educação. Eu vou implementar, em São Paulo, a lei federal que foi aprovada há 15 anos e que ainda não foi implementada na nossa cidade, na rede municipal de ensino, que prevê ensino de História africana e cultura afrobrasileira nas escolas. Se isso já estivesse acontecendo, você começa combatendo o racismo no banco da sala de aula, desde cedo. A próxima geração que vem, já vem com uma outra consciência, uma outra visão a respeito da identidade, da história e da cultura negra e de combate ao racismo. Nós vamos fazer isso dentre várias outras medidas de valorização da memória, da história e da luta do povo negro em São Paulo.

SBT NEWS: Candidato, vamos falar de mobilidade. As bicicletas hoje são, sem dúvida alguma, um meio de transporte para muitos paulistanos. A gente tem uma malha de ciclovias, mas em alguns pontos, são muito perigosas tanto para os ciclistas, quanto para os pedestres. Eu queria saber qual é a sua proposta nessa área. O senhor vai fazer um novo desenho, vai rever o que temos hoje na cidade ou o senhor vai aumentar as ciclovias? E, se o senhor puder também já aproveitar para me dizer, o que pretende fazer com relação a velocidade nas marginais? O senhor mantém hoje como foi determinado na administração Doria-Covas ou volta como era na época do [Fernando] Haddad?
GUILHERME BOULOS: Vamos começar em relação às ciclovias, Simone [Queiroz, repórter do SBT]. Eu acho que é um avanço que nos últimos anos, sobretudo a partir do o governo do Fernando Haddad, a bicicleta tenha passado a ser entendida em São Paulo, não só como uma forma de lazer, mas também como um modal de transporte. Esse é um debate, um avanço que é feito em boa parte das cidades do mundo. Isso é necessário porque é um meio de transporte menos poluente, melhor para a saúde. Valorizar a bicicleta como modal de transporte; portanto, valorizar as ciclovias, está no nosso plano de governo. Mas, para isso, a gente tem que integrar mais as ciclovias nos outros modais. Então, nós queremos ligar ciclovias aos principais terminais de ônibus, às principais estações de metrô - onde ainda não existe essa ligação - com bicicletários gratuitos nesses locais e integrados ao bilhete único. Assim você estimula que a pessoa saia de casa de bicicleta, tenha um lugar seguro onde deixá-la e, depois, integre isso com outros modais, quando a viagem é mais longa, quando não dá para fazer o trajeto inteiro de bicicleta. Então, o nosso planejamento de expansão da rede cicloviária na cidade de São Paulo vai levar essa racionalidade em conta. Eu acho que isso é fundamental fortalecer. Agora, claro, isso passa também por um debate maior na cidade de São Paulo de você reduzir distâncias, que é tentar aproximar o local de moradia com o local de trabalho. Um dos maiores dramas da nossa cidade, Simone, é justamente que a oferta de emprego está concentrada no centro expandido, e a moradia da maior parte dos trabalhadores está nas periferias. Então, gerar emprego nas periferias e, ao mesmo tempo, dar oportunidade de moradia para mais gente no centro expandido, encurtando as distâncias, além de reduzir o trânsito, a superlotação no transporte público, de enfrentar o drama daquelas pessoas que ficam duas horas, duas horas e meia saindo da M'Boi Mirim, do Grajaú, de Guaianases, do Itaim Paulista, para chegar no seu trabalho, além de tudo isso, você assegura um modelo de cidade em que as pessoas vão poder ir a pé, ou de bicicleta, para o seu próprio trabalho. O debate de ciclovia, tem que estar integrado a pensar num outro planejamento de modelo de cidade. Em relação às marginais, o próprio Ministério Público do Estado já entrou com ação, que está em estágio muito avançado na Justiça, aliás, para revogar o aumento de velocidade feito pelo Doria, que foi puramente demagógico. Eu pergunto para quem anda pelas marginais, eu incluso, alguém consegue andar na velocidade máxima na marginal, a não ser durante a madrugada? A marginal é congestionada a todo tempo. Essa foi uma medida demagógica que só aumentou os acidentes. No período da madrugada, quando a velocidade liberada foi maior, isso não sou eu que estou dizendo, foi o próprio Ministério Público que apurou, o número de acidentes aumentou muito. Nós vamos esperar a definição da Justiça a partir da ação do Ministério Público e cumpri-la.

SBT News: Candidato, queria falar um pouco sobre os apoios que o senhor recebeu no segundo turno. Inclusive, estive presente quando o senhor apresentou a Frente Democrática e, ok, a gente viu ali o PCdoB, PT, movimentos sociais que estão muito de acordo com a sua espinha dorsal e com o que o senhor defende. Mas o senhor ficou esperando até os 45 minutos do segundo tempo pelo Márcio França (PSB) por um aceno. O senhor, de fato, ficaria à vontade, já que tem o Orlando Silva de um lado e teria o Márcio França de outro? Há poucos dias, o senhor chamava o França de "tucano sem bico" por causa das ligações dele com o PSDB. Ele dizia que o senhor era um radical, inexperiente, que o senhor tem ideias absurdas. Ele diz que o senhor quer o fim da Polícia Militar. Enfim, quando o senhor aceita um apoio como esse, não dá a impressão do "vale tudo", da velha política, que o senhor mesmo diz que não quer fazer parte?
GUILHERME BOULOS: 
Olha, Fábio, primeiro lugar só pra gente o "limpar campo" para quem está nos assistindo, o Márcio França declarou neutralidade, ele não apoiou [ninguém]. O partido dele, o PSB, entrou na nossa frente democrática e por justiça social, e está compondo essa nossa aliança no segundo turno. Agora a gente precisa entender qual é o significado de eleição de dois turnos. Eu tenho muita diferença com Márcio França, mas no segundo turno de 2018, eu votei nele para governador e não no João Dória, porque eu acho que o Márcio França, apesar de todas as diferenças que eu tenho com ele, era menos pior para São Paulo que o João Dória. Apesar de eu continuar tendo as mesmas críticas que eu expressei no primeiro turno em relação a ele, e que ele expressou em relação a mim, e essas são diferenças políticas, o que está em jogo no segundo turno não é simplesmente a escolha do que você quer. São escolhas entre dois candidatos que passaram para essa etapa. Então, são coisas bem diferentes do que não manter as posições que ele tem, ou então as posições que eu sempre tive. É entender que hoje neste segundo turno quem quer mudança, quem não está satisfeito com o governo do Bruno Covas e com o Doria, está comigo e com a [Luiza] Erundina, porque são essas as opções que estão colocadas no segundo turno.

SBT NEWS: Candidato, o [Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto] MTST, movimento que o senhor a dirigiu e coordenou, ganhou muita importância na sociedade entre outros motivos pela forma combativa como sempre atuou. Eu pergunto ao senhor caso o senhor seja eleito: qual é o papel que o MTST passa a ter no seu governo e qual vai ser a posição do prefeito Guilherme Boulos, caso isso se confirme, numa eventualidade de movimentos sociais? O próprio MTST fechando ruas em protestos ou ocupando prédios públicos ainda que desocupados? qual vai ser a sua posição?
GUILHERME BOULOS: 
Vamos lá, Simone. Primeiro a gente precisa buscar entender por que acontecem manifestações como essas, e ocupações como essas. Eu estou há 20 anos na luta por moradia, ao lado do sem-teto, e tenho o maior orgulho disso. E eu te digo com toda a convicção, ninguém ocupa um imóvel abandonado, um terreno que estava lá largado há 30 anos, ou um prédio cheio de dívida. Ninguém ocupa isso porque quer, até porque as condições dentro de uma ocupação são muito difíceis. As pessoas ocupam por falta de alternativa e frequentemente por falta de diálogo do poder público que não oferece essas alternativas. As pessoas fazem manifestações, muitas vezes na porta da prefeitura ? e eu já fiz várias, não só da prefeitura, mas de outros órgãos de governo, para cobrar direitos sociais de um movimento social porque muitas vezes o poder público tem ouvido surdo os problemas do povo. A diferença do meu governo é que eu venho dessa luta, é justamente vou ter uma política habitacional a partir de janeiro do ano que vem para atender a demanda de quem mais precisa. Eu vou retomar os mutirões na cidade de São Paulo. Nos mutirões, a prefeitura entra com o terreno, entra com material de construção e as pessoas fazem suas próprias casas. A Erundina fez isso há 30 anos atrás e a sua memória está marcada em toda a periferia da cidade. Nós vamos fazer com que imóveis que estão abandonados em situação ilegal, devendo mais imposto do que o valor deles próprios, com que a prefeitura cumpra o que está na lei no estatuto da cidade e do plano diretor, e transforme o abandono em dignidade, transforme em moradia popular reformando esses imóveis. Ao fazer isso, você pode ter certeza que o nível de relação com o movimento social vai ser outro. Porque a demanda do movimento social, das pessoas que estão no movimento social é justamente essa. Quando você tem um governo sensível a essa realidade, um governo que tem a capacidade de diálogo e de escuta, você pode ter certeza que a situação não vai estar conflagrada do ponto de vista de manifestações em São Paulo.

SBT NEWS: Aproveitando o tema, candidato, é uma promessa do senhor de regularizar essas áreas, as áreas invadidas dos prédios ocupados, mas a gente sabe que essa não é uma questão definida na caneta do prefeito. O senhor vai ter que ter relações especialmente com o poder judiciário e, convenhamos, o poder judiciário de São Paulo, especialmente em segunda instância, é muito mais pro lado da propriedade do que dos problemas sociais. Isso é um fato. E a velocidade também do judiciário, sem comentários. Como é que o senhor vai sentar pra conversar com o judiciário, para fazer com que o judiciário entenda que essa é uma questão social e que o juiz precisa olhar de outra forma "fora dos autos", como eles costumam dizer. O senhor acha que vai ser bem recebido e que eles vão olhar para o senhor como prefeito e não mais com o dirigente do movimento social?
GUILHERME BOULOS:
Fábio, você tem toda razão. Agora, eu tenho certeza de que eu como prefeito de São Paulo vou ter todas as condições de construir um diálogo com os outros entes. São Paulo é a maior cidade da América Latina. O prefeito de São Paulo tem que ser também uma liderança política com capacidade de diálogo, com capacidade de fazer valer a força da nossa cidade, que é o que nós temos hoje. O prefeito de São Paulo hoje faz da prefeitura um puxadinho do Palácio dos Bandeirantes. Quem dá as ordens é o Doria. Comigo não vai ser assim. Eu vou exercer a liderança que São Paulo merece e que é digna do cargo de prefeito dessa cidade. Agora, de fato tem coisas que dependem de um diálogo com o poder judiciário e eu vou estar pronto para fazer esse diálogo. Agora, têm coisas que não. Têm coisas que dependem sim da caneta do prefeito. Alguns desses imóveis já são da própria prefeitura, já foram desapropriados. Nós temos não só prédios, mas também terrenos que são do município e que estão ali abandonados por falta de política pública e por falta de investimento, enquanto a gente tem R$ 19 bilhões parados no caixa da cidade. É uma coisa insana o que está acontecendo agora. No meio de uma pandemia a maior crise humanitária e social da nossa geração, faltando médico em posto de saúde com o hospital fechado. Eu estive lá no Hospital Menino Jesus, em Ermelino Matarazzo, na zona leste, fechado só com uma placa na frente. Um monte de UBS, Vila Guarani lá no Jabaquara é uma delas que eu tive e visitei também. Uma placa na frente em um terreno baldio com obra que já está com o projeto aprovado. Tem muita coisa, Fábio, que não é burocracia. O que falta é vontade política. Falta prioridade, falta ter compromisso com o povo ao teu lado. Uma característica do governo do PSDB é governar para os negócios, é governar de costas para as periferias, é governar de costas com as pessoas. A minha característica é outra, a minha história é outra. Eu venho de um outro lugar. E é essa experiência que eu quero e vou levar para a Prefeitura de São Paulo, e eu tenho certeza de que nós vamos ter condições de fazer muitas realizações. Te dou só um exemplo: eu, no movimento social em 20 anos de trajetória, a gente conseguiu garantir casa para 23 mil pessoas sem a caneta na mão. Imagina com a caneta na mão o que a gente não vai fazer.

SBT NEWS: Queria saber sobre a reforma tributária. A pergunta é: o senhor pretende aumentar o IPTU dos mais ricos? Podemos esperar um aumento de imposto nesse sentido? E como é que o senhor faria diferença? Pegaria a classe média também beneficiando só os mais pobres? O senhor vai aumentar o IPTU?
GUILHERME BOULOS:
Não, Simone, eu não vou aumentar o IPTU na cidade de São Paulo. Quero deixar isso de forma muito clara. Inclusive porque no meio de uma crise, São Paulo vai ter que passar por um processo de recuperação econômica no pós-pandemia. A pior receita possível é aumentar imposto em tempo de crise. Então, eu não vou fazer aumento de IPTU na cidade de São Paulo. O que nós vamos fazer para poder conseguir os recursos que a cidade precisa, para frentes de trabalho, para a renda solidária, para cuidar da zeladoria da cidade, não só em véspera de eleição que é o que o governo está fazendo agora, com o Bruno Covas. É vergonhoso essa coisa do PSDB. Deixou a cidade três anos abandonada e há 3 meses da eleição começa a quebrar calçada e recapear ruas. Parece um paraíso. Mas eu acho que as pessoas já estão cansadas disso. A ficha já caiu em relação a isso. Todos os investimentos que nós vamos fazer na cidade, vão vir tanto do caixa já existente, como também da cobrança da dívida ativa. Pouca gente sabe, mas nós temos mais de 130 bilhões de reais de dívidas de grandes devedores. Não são pequenos devedores não, são bancos. Sobretudo, empresas de plano de saúde, grandes empresas que não pagam impostos e que sonegam impostos em São Paulo. E a cobrança dessa dívida hoje é muito mal feita. Tem pouquíssimos procuradores do município tocando isso, não está digitalizado, boa parte dessa dívida está no papel em 2020, em pleno século 21. Eu estive conversando com os procuradores do município, me falaram o que precisa ser feito para garantir uma melhora da recuperação desses ativos da prefeitura a ponto de a gente poder conseguir arrecadar numa estimativa conservadora R$ 10 bilhões nos próximos 4 anos, sem aumentar o imposto de ninguém. Isso é uma recuperação de grandes devedores da prefeitura. É uma questão também de não ter rabo preso e de fazer esse enfrentamento.

SBT NEWS: Ok, candidato, Infelizmente a gente está chegando no nosso limite de tempo. Eu queria que o senhor fizesse suas considerações finais, por favor.
GUILHERME BOULOS: 
Obrigado, Fábio, obrigado, Simone, obrigado a quem nos assistiu aqui pelo SBT. Dizer que no domingo, dia 15, na votação do primeiro turno, quase 70% da cidade votou pela mudança. Apenas 30, 32% votaram pela continuidade. É isso que está em jogo nesse segundo turno. Vamos dizer aqui de uma forma muito clara. É "pão, pão, queijo, queijo". Quem está satisfeito da forma como a cidade está, quem acha que a gestão está muito boa, que a prefeitura está tendo um bom trabalho nesses últimos 4 anos, tem o candidato da continuidade para votar. Agora, quem quer mudar, quem está insatisfeito, quem acha que as coisas precisam melhorar, a mudança nesse segundo turno é comigo e com a Luiza Erundina. Nós estamos construindo uma onda na cidade de São Paulo, uma onda que está mobilizando o sentimento de muita gente. Estamos crescendo nas pesquisas, a nossa diferença com o Bruno Covas diminuiu 15 pontos só na semana passada, vamos crescer mais nessa reta final, e eu tenho certeza de que no próximo domingo, dia 29, o povo de São Paulo vai votar pela mudança. Você também vem com a gente. Domingo, aperta 50 e vem.
 
 
 

 
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