Preço de alimentos já supera dobro da inflação; tubérculos puxam a fila
Economista da FGV afirma que reação do governo diz mais sobre preocupação com popularidade do presidente Lula do que sobre alta em si
O aumento nos preços dos alimentos continua alarmando as famílias brasileiras, o que levou o presidente Lula a convocar uma reunião ministerial para discutir os custos dos produtos, nesta quinta-feira (14).
Entre os alimentos que mais sofreram altas, estão os tubérculos (batatas, cenouras, beterraba, inhame, mandioca), com o quilo da batata registrando uma alta de quase 43%. Cebola, frutas, arroz e leite longa vida, itens muito presentes na mesa dos brasileiros, também estão entre os que tiveram aumentos consideráveis no último mês.
“No final do ano passado e início deste ano, tivemos um efeito mais intenso por conta do El Niño. Tivemos muitas ondas de calor, um volume de chuvas muito acima do tradicional”, afirmou André Almeida, gerente da pesquisa do IBGE, citando como o clima tem impactado os preços dos alimentos.
Vilão errado
Para o economista da FGV Felipe Serigati, de fato, a questão climática representa grande influência na produção agropecuária e, logo, na alta dos preços dos alimentos. "Estamos operando a atual safra sob o efeito do El Niño, que causa temperaturas acima da média e chuvas abaixo da média, principalmente na região centro-norte do país, e isso tem afetado nossas lavouras. Tem alimento que vai sentir e alimento que vai sentir menos esse impacto", explica. "No entanto, por mais que seja desconfortável, está tudo dentro do roteiro. Preços de produtos agropecuários, de commodities, são voláteis. Estão sujeitos a riscos climáticos, ao 'humor' de São Pedro".
Serigati, no entanto, analisa que a reação do governo tem mais a ver com as últimas pesquisas sobre a popularidade do presidente Lula do que com a alta dos alimentos. "Isso deve estar incomodando o Palácio do Planalto e o vilão encontrado foi a alta do preço dos alimentos. Como está mirando no vilão errado, não vai resolver. As soluções propostas, como o aumento do Plano Safra, não têm qualquer garantia de que vão reduzir preço", defende.
"Uma sugestão seria aumentar a subvenção para o Programa de Seguro Rural para defender a renda do produtor e para que ele possa ter maior estabilidade em seus planos de investimento, o que garantiria maior oferta. Mas novamente, não há como cravar. O produtor pode fazer certinha a lição de casa, não vir chuva e pronto, terá queda de safra. Não há milagres nem garantias", concluiu o economista
Queda vem aí?
Apesar da situação, os ministros da Agricultura, Carlos Fávaro, e do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, afirmaram que o preço dos alimentos deve cair na virada de março para abril.
“Todas as evidências é que já baixou o preço ao produtor e terá uma redução ainda maior de preços ao produtor, o que determina que esse aumento ocorreu em função de questões climáticas que foram muito importantes no Brasil. Todo mundo assistiu às altas temperaturas no Centro-Oeste, as chuvas no Sul do Brasil. Houve um aumento sazonal e a tendência é diminuir”, afirmou Paulo Teixeira.
Já Fávaro declarou que o governo já identificou uma queda de cerca de R$ 20 no preço da saca de arroz, esperando que isso seja transferido na mesma proporção aos consumidores nos mercados.
“Fato é que estamos com a colheita em torno de 10% no Rio Grande do Sul e os preços aos produtores já desceram de R$ 120 para R$ 100 a saca. O que esperamos que se transfira essa baixa dos preços, os atacadistas abaixem também nos mercados”.