Publicidade

"MP do Fim do Mundo": entenda o que está em jogo com a compensação da desoneração

Setores preveem impacto na produção e nos preços ao consumidor; distribuidoras de combustíveis já alertaram sobre possíveis reajustes

"MP do Fim do Mundo": entenda o que está em jogo com a compensação da desoneração
Governo espera reter nos cofres da União cerca de R$ 29,2 bilhões | Reprodução José Cruz/Agência Brasil
Publicidade

Os embates entre Executivo e Legislativo por causa da compensação da desoneração da folha de pagamentos continuam. O novo capítulo da disputa é a Medida Provisória (MP nº 1.227 de 2024). Editada pelo governo para compensar as contas da União, a medida vem criando desconforto em setores da economia, que apelidaram o texto de “MP do Fim do Mundo”. Empresas preveem um impacto na produção e, consequentemente, nos preços ao consumidor. Nesta terça-feira (11), distribuidoras de combustíveis alertaram sobre possíveis reajustes.

A MP – que entra em vigor imediatamente e precisa ser aprovada pelo Congresso em até 120 dias para se tornar definitiva – restringe o uso de valores do PIS/Cofins pelas empresas de diversos setores para compensar o pagamento de outros tributos. A mudança começou a valer desde a última semana e serve para a União compensar os 17 setores e municípios (até 156,2 mil habitantes) que mantiveram benefício de desoneração da folha de pagamento. Isto é, que não precisam pagar uma parcela de imposto sobre o pagamento dos funcionários.

Num primeiro momento, o governo queria acabar com a desoneração da folha, mas foi vencido no Congresso. Agora, o governo quer compensar esse benefício com de outras formas, para cumprir a expectativa de déficit zero nas contas públicas em 2024 e superávit em 2025.

  • Quanto (estimativa) o governo deixa de arrecadar com a desoneração: R$ 26 bilhões;
  • Quanto (estimativa) o governo espera reter com a MP: R$ 29 bilhões.

Entretanto, o movimento por parte da gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não foi bem aceito. Representantes da indústria, do comércio, do agronegócio, de distribuidoras de combustíveis e de setores da saúde criticaram a proposta.

Mudança: antes da MP, o empresariado poderia usar o crédito gerado com o recolhimento do imposto para pagar débitos e obrigações contratuais. Como a CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido), o IRPJ (Imposto de Renda da Pessoa Jurídica) e a contribuição previdenciária.

Como o governo quer: restrição do uso apenas para abate do próprio PIS/Cofins.

Setores com as maiores “caixas” de crédito devem ser os mais afetados, agora que valores ficarão retidos. O agronegócio e a indústria farmacêutica são dois exemplos.

A medida provisória ganha força de lei assim que é publicada, porém tem prazo de validade. Para que seja convertida em forma definitiva, e não "caduque" (perca a validade), é necessário que seja aprovada pelo Congresso Nacional em até 120 dias. O presidente do Legislativo, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), também pode devolver a matéria ao Executivo, sustando seus efeitos.

a segunda (10), o diretório nacional do Progressistas (PP), partido do presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), apresentou uma ação direta de inconstitucionalidade (ADI nº 7.671) ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra a MP. A ação terá o ministro Gilmar Mendes como relator.

Gasolina e diesel

Pelos cálculos do Instituto Brasileiro do Petróleo e Gás (IBP), que representa distribuidoras, a gasolina pode ter aumentos de 4% a 7%, ou R$ 0,20 a R$ 0,36 por litro, enquanto o diesel pode encarecer 1% a 4%, ou R$ 0,10 a R$ 0,23 por litro. O IBP projetou em R$ 10 bilhões o impacto da MP somente nas empresas de distribuição de combustíveis. Os postos, que compram o combustível, podem repassar ao consumidor.

Em nota, o IBP se diz "preocupado" com a medida. A MP "impacta o caixa das empresas que terão que utilizar outros recursos para pagar seus impostos que não os créditos de PIS/Cofins. Também afetará a competitividade da indústria nacional e as estratégias de investimentos e inovação das corporações, comprometendo a dinâmica do mercado com prejuízos para a geração de emprego e de renda, e reflexos importantes na economia nacional", diz o Instituto.

Distribuidoras: nesta terça-feira (11), distribuidoras já estavam reajustando valores nas bombas. A Ipiranga, uma das principais no país, formalizou à sua rede de postos: “comunicamos que na próxima terça, dia 11 de junho de 2024, em adição à dinâmica habitual de repasses, os nossos preços de gasolina, etanol e diesel serão reajustados em função do efeito imediato da MP 1227/24, que restringiu a compensação de créditos tributários de PIS/Cofins”. A empresa não divulgou valores.

Segundo as entidades do setor de combustíveis (Brasilcom, Abicom, SindTRR, Fecombustíveis e Sindicom), a proibição de utilizar os créditos para o pagamento de outros tributos federais "represará esses créditos em sua contabilidade e ainda forçará as empresas a buscar outros recursos financeiros, como por meio de empréstimos", diz nota divulgada na segunda (10).

No mesmo documento, contestam a declaração do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de que não há motivo para temer um aumento de preços. Afirmam que a MP “resultará em aumento de custos operacionais e financeiros para as empresas que comercializam combustíveis com impactos diretos sobre o consumidor final e sobre a inflação”.

O que é Pis/Cofins?

O PIS (Programa de Integração Social) e o Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social) são dois impostos diferentes, embora frequentemente associados.

  • PIS: Criado em 1970 para distribuir recursos e incentivar o bem-estar dos trabalhadores e o crescimento econômico. Financiado por contribuições das empresas, calculadas com base na folha de pagamento, e gerido pelo Governo Federal;
  • Cofins: Tributo social destinado a financiar a Seguridade Social no Brasil, abrangendo saúde, previdência social e assistência social.

Ambos os impostos são recolhidos mensalmente, e o valor depende do regime tributário da empresa (Simples Nacional, Lucro Presumido ou Lucro Real). Somente empresas com receita ou faturamento devem contribuir.

Publicidade
Publicidade

Assuntos relacionados

Economia
Economia
Governo
Governo
Governo Lula
petróleo
Gasolina

Últimas notícias

Dudu, ídolo do Palmeiras, morre aos 84 anos

Dudu, ídolo do Palmeiras, morre aos 84 anos

Ex-jogador estava internado havia um mês, segundo clube paulista
"The New York Times", "Wall Street Journal" e "The Economist" pedem que Biden desista de candidatura

"The New York Times", "Wall Street Journal" e "The Economist" pedem que Biden desista de candidatura

Dificuldade do presidente americano no primeiro debate contra Trump gera preocupações
Gamescom: São Paulo recebe maior evento de games do mundo pela primeira vez

Gamescom: São Paulo recebe maior evento de games do mundo pela primeira vez

A feira, que acontece até este domingo (30), espera receber mais de 100 mil pessoas
"Taxa das blusinhas": Receita Federal alerta empresas para informar consumidores na compra

"Taxa das blusinhas": Receita Federal alerta empresas para informar consumidores na compra

Apesar de só começar a valer no dia 1º de agosto, a taxação de mercadorias internacionais, de até US$ 50, pode afetar compras feitas ainda no final de julho
Massacre de Paraisópolis: audiência começa ouvir defesa de PMs e familiares das vítimas fazem protesto

Massacre de Paraisópolis: audiência começa ouvir defesa de PMs e familiares das vítimas fazem protesto

Ainda não foi decidido se os PMs acusados serão julgados. Em frente ao Fórum, familiares das vítimas se reuniram com faixas com pedidos de Justiça
Milei consegue aprovação da Lei de Bases no Congresso da Argentina

Milei consegue aprovação da Lei de Bases no Congresso da Argentina

Pacote aprovado vai permitir a privatização de algumas empresas e dará mais liberdade ao governo na gestão fiscal e administrativa
Veja quem são os membros do PCC que mataram os responsáveis pelo plano de sequestrar Moro

Veja quem são os membros do PCC que mataram os responsáveis pelo plano de sequestrar Moro

Criminosos foram assassinados após falha na missão de sequestrar autoridades; crime escancara problemas graves mesmo em penitenciária de segurança máxima
Conta de luz volta a ter cobrança de taxa extra após mais de dois anos

Conta de luz volta a ter cobrança de taxa extra após mais de dois anos

A partir de julho, a Aneel aciona a bandeira amarela e o consumidor terá de pagar R$ 1,88 por cada 100 kWh consumidos
Ministras de Lula visitam Pantanal em meio a queimadas crescentes

Ministras de Lula visitam Pantanal em meio a queimadas crescentes

Incêndios atingiram mais de 61 mil hectares do bioma nesta semana e seguem mesmo após proibição do manejo de fogo
Em Lisboa, Moraes reforça decisão final do STF sobre anistia aos presos de 8 de janeiro

Em Lisboa, Moraes reforça decisão final do STF sobre anistia aos presos de 8 de janeiro

No último dia do Fórum de Lisboa, o ministro também falou sobre a necessidade de regulamentar as redes sociais e big techs
Publicidade
Publicidade