Dólar: falas de Haddad e juros nos EUA explicam maior patamar desde janeiro de 2023, diz economista
Luis Henrique Braido também analisa meta de inflação contínua, que deve ganhar decreto do governo ainda em junho
O dólar, cotado na sexta-feira (7) a R$ 5,32, chegou ao maior patamar desde janeiro de 2023. O que explica essa alta na moeda norte-americana? O economista Luis Henrique Braido deu entrevista ao programa Brasil Agora desta segunda (10) e analisou possíveis motivos: falas recentes do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre meta de inflação e juros fortes nos Estados Unidos.
"Toda que vez que se fala disso [meta de inflação], cria-se um fantasma. Pode ter gerado algum tipo de ruído na sexta", explicou Braido. Na sexta, Haddad afirmou que governo vai publicar, ainda em junho, decreto para regulamentar mudança na meta de inflação.
Meta contínua de inflação
Em vez do padrão atual, de ano-calendário, será adotada uma meta contínua. "Reafirmou que a meta será de 3% e que o que estará mudando é o prazo. Ministro sinalizou que, na prática, serão 24 meses", detalhou o economista, que ponderou que ainda "existe incerteza" em relação a esse prazo.
"Eleições no Brasil ocorrem a cada 24 meses. Pode haver preocupação com interferência política no Banco Central e pode estar na cabeça do mercado quando reage à notícia", completou.
Economia dos EUA
Braido também apontou que recentes dados da economia norte-americana, como a expansão de empregos, podem ter impactado alta do dólar no Brasil. "Emprego, de forma geral, é o principal item avaliado por bancos centrais mundo afora para decidir política monetária, junto com outros índices de atividade econômica", contou Braido.
"Juros estão relativamente altos para os padrões americanos e talvez não caiam tão em breve. Isso tem impacto direto no dólar", completou. Braido ainda acrescentou que "juros fortes nos EUA" trazem "valorização do dólar mundialmente".
Impacto do RS na inflação
Voltando ao tema da inflação, Braido disse acreditar que o desastre climático no Rio Grande do Sul, com chuvas e enchentes afetando centenas de municípios, deve ter impacto "moderado" no índice.
"Safra de arroz já tinha sido colhida, Brasil anunciou importação. Não vejo fonte mais intensa de inflação. Agora, assim como nos EUA, a economia do Brasil está aquecida, está indo bem. Mas diminui apetite do Banco Central de diminuir de forma mais acentuada a taxa dos juros", analisou.
Na última reunião, no início de maio, o Comitê de Política Monetária (Copom) desacelerou o ritmo de queda, cortando 0,25% e estabelecendo a Selic, taxa básica de juros, em 10,50% ao ano.
Essa foi a sétima vez seguida que o Copom baixou a Selic. Mas, de agosto de 2023 a março de 2024, as reduções vinham sendo sempre de 0,5% a cada reunião. A próxima reunião do Copom será nos dias 18 e 19 de junho.